Etanol - não basta ser verde, precisa ser competitivo!
24-11-2017

Não dá mais para o motor a etanol ter menos eficiência energética que os motores com combustíveis fósseis

Leonardo Ruiz

Embora tenha importância inegável para o desenvolvimento da indústria automotiva nacional nos últimos 40 anos, o etanol ainda é tratado pela sociedade como um combustível secundário e que, por ser menos eficiente que seus concorrentes fosseis, só vale apena abastecer com etanol se o seu preço for pelo menos 30% menor que o da gasolina. A famigerada paridade de 70% persegue o biocombustível há quase duas décadas, desde o lançamento no mercado brasileiro dos veículos flex-fuel, que rodam com ambos os combustíveis: etanol e gasolina.

Este conceito, embora verdadeiro de certo modo, é injusto para com o etanol, pois além de não levar em conta todas as externalidades positivas do produto, ignora o fato de que o biocombustível é negligenciado pelas montadoras, que lançam supostos motores flex no mercado que, na verdade, são projetados para consumir gasolina e não tiram proveito de propriedades do etanol que permitiriam compensar sua menor quantidade de energia por litro. “É um motor a gasolina que quebra o galho do biocombustível”, enfatiza o diretor geral do Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE), Jayme Buarque de Hollanda.

Buarque de Hollandaressalta que, no Brasil, o etanol é visto como uma solução economicamente e ambientalmente interessante, mas fraco quando comparado a outros combustíveis. “Para suportar essa tese, muitos culpam o poder calorifico do biocombustível. Realmente, este número é mais baixo, mas isso só faria diferença se os carros fossem a vapor, onde o calor é liberado pelo combustível na pressão atmosférica.” Segundo o pesquisador, quando a combustão se dá de forma explosiva no interior de um cilindro, como nos motores tipo Otto (ignição por centelha), a autonomia depende, necessariamente, de características combinadas do combustível e do motor.

Assim, quanto menor for a octanagem do combustível, menos eficiente é o motor e menor a autonomia do veículo. A baixa octanagem é uma limitação inerente à gasolina. No tocante a outras características dos combustíveis, como homogeneidade, calor latente de evaporação, velocidade de propagação da chama e razão estequiométrica, o etanol é mais vantajoso do que a gasolina, permitindo maior autonomia e também o uso de motores mais compactos e menos poluentes.

“Caso o etanol fosse usado em um motor projetado para aproveitar as diversas propriedades em que ele é superior à gasolina, o biocombustível poderia sim ter uma eficiência maior do que sua principal concorrente”, explica Buarque de Hollanda. Segundo ele, o aumento na taxa de compressão, comando de válvula variável, turbo compressor de geometria variável, injeção direta, pré-aquecimento do etanol na partida a frio e sistema híbrido de propulsão são algumas das tecnologias que poderiam tornar o etanol mais atrativo.

Defensor do etanol, o diretor geral do INEE frisa que, durante o Proálcool - Programa Nacional do Álcool -, financiado pelo Governo Federal entre as décadas de 1970 e 1990, quando os motores eram projetados para usar etanol, os carros eram 15% mais eficientes do que aqueles à gasolina. “Infelizmente, desde então, não se investiu mais em larga escala em estudos e no desenvolvimento de tecnologias e projetos envolvendo o motor a etanol. O biocombustível perdeu competitividade e se tornou um mero combustível secundário.”

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