Eventos climáticos irregulares e insetos-praga
23-01-2025

Os eventos climáticos nesse último quinquênio demonstram maiores inconstâncias se comparado às últimas décadas. Secas prolongadas de inverno, geadas, chuvas de granizo, primavera com baixa precipitação, verões abaixo da média histórica de chuva são exemplos das mais diversas adversidades que a agricultura sofre no decorrer das safras. Juntamente ao cenário climático incerto os fatores antrópicos como as queimadas influenciam diretamente na vida dos insetos de maneira geral ocasionando mudanças em seus comportamentos e biologia.

Insetos são organismos que modificam seus hábitos e comportamentos quando recebem estímulos do meio, sendo o inseto capaz de modificar um conjunto de ações com o objetivo de adaptar-se a uma nova experiencia externa, além disso, fatores abióticos como temperatura, vento e umidade podem influenciar positivamente ou negativamente em aspectos específicos da biologia do inseto.

No que se diz respeito à insetos de importância agronômica isso tem grande ponderação, uma vez que insetos-praga possuem interação com plantas do nosso sistema produtivo, gerando problemas sérios de injúrias e consequentemente, em alguns casos, danos irreversíveis às mais diversas culturas. Eventos climáticos não regulares tendem a gerar mudanças na reprodução, desenvolvimento e comportamento de pragas chaves e secundárias das culturas agrícolas, deixando produtores cada vez mais vulneráveis e suscetíveis a perdas significativas de produção.

No caso específico da Cana-de-açúcar mudanças climáticas nesses últimos anos têm causado dificuldades na previsibilidade dos ataques das pragas chaves, assim como tem propiciado ataques severos de pragas secundárias. Um exemplo disso é a dinâmica populacional de Diatraea saccharalis (Broca da cana), que tem ocorrido com picos populacionais em momentos distintos do habitual, embora essa praga se comporte diferente entre as regiões os picos populacionais na região de Ribeirão Preto têm ocorrido, em vários casos, entre a segunda quinzena de janeiro e a primeira de fevereiro, sendo que de praxe esperamos picos já nos meses de dezembro.

Outro exemplo é Mahanarva spp (cigarrinha)que nos últimos anos não tem atingido os canaviais com tanta expressividade, nessa safra específica (2024/2025) com as chuvas já em novembro foi possível a identificação de ninfas de primeira geração na grande maioria das regiões de Ribeirão Preto, todavia levantamentos populacionais recentes têm demonstrado diminuição de adultos e ninfas presentes no campo, sendo Mahanarva spp muito influenciável por fatores e condições externas do meio ambiente. Sphenophorus levis também tem demonstrado mudanças em seus picos populacionais de larva, pupa e adultos, assim como uma redução de infestação se comparado a outros anos. Complexos de Lagartas desfolhadoras ocorrendo nessa safra 2024/2025 em grandes intensidades numa proporção não muito comum do que estamos acostumados.

Todos esses fatores nos chamam muito a atenção e nos deixam pensativos sobre as possíveis relações que estas condições climáticas podem estar causando. Embora não seja possível concluir de maneira definitiva as relações entre mudanças do meio (clima e ação antrópica) e o comportamento dos insetos-praga atualmente no cenário da Cana-de-açúcar, infere-se que as probabilidades são plausíveis, pois ao longo da história insetos demonstraram suas capacidades de se adaptarem aos ambientes e situações. Portanto, isso indica mais do que nunca que produtores e usinas do setor sucroenergético não devem abandonar levantamentos e indicadores populacionais, pois somente assim poderemos entender e agir no controle das pragas de maneira eficiente e economicamente viável.

Jivago Rosa - Consultor de pragas na cultura da Cana-de-açúcar

Pós-graduado em Entomologia agrícola pela Unesp/Jaboticabal