Fim das cotas de açúcar na UE gera expectativas
26-10-2017

Com estoques e preços baixos em função do excedente na oferta mundial de açúcar e observando um crescimento vegetativo na demanda pelo produto, o mercado ainda avalia os impactos da extinção da cota de produção da commodity na União Europeia (UE). Mas já se percebe alguma apreensão diante da possibilidade de os europeus fabricarem de 2 a 3 milhões de toneladas a mais no ciclo 2017/2018 (1/10/17 a 30/09/18). Para a indústria brasileira, somam-se a esta preocupação duas outras: a divisão das cotas tarifárias entre UE e Reino Unido por conta do Brexit e a inclusão do açúcar no acordo com o Mercosul.

Os temas foram abordados pela assessora sênior da presidência para Assuntos Internacionais da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Géraldine Kutas, durante a 12º edição do Argus Biofuels, entre os dias 17 e 19 de outubro, em Londres. A presença da executiva no evento faz parte de uma parceria entre a entidade sucroenergética brasileira e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) para promover os produtos derivados da cana brasileira no exterior.

No primeiro dia da conferência, Kutas palestrou sobre a oferta e a demanda mundial de açúcar e também participou de um painel de debates com o representante da trading londrina Ed&F Man, Eduardo Puertas, e o analista da Ethanol Europe Renewables Ltd., James Cogan.

“O mais importante em relação ao fim das cotas de produção de açúcar na EU é que os europeus poderão não somente fabricar o quanto eles quiserem, mas também exportar o que eles bem entenderem. Ocorre, porém, que este volume a ser comercializado não poderá receber subsídio à exportação, pois já existe um limite de 1.37 milhão de toneladas registrado na Organização Mundial do Comércio (OMC) para isso. A grande incógnita, portanto, é saber o que a UE fará”, explica a executiva da UNICA acrescentando que Brasil e Tailândia, e até certo ponto Índia e Guatemala, são os principais responsáveis pelo aumento das exportações de açúcar nos últimos anos.

Brexit

Durante o painel, Geraldine Kutas também falou sobre o Brexit e as consequências para o açúcar/etanol do Brasil. “Reiterei a oposição do setor sucroenergético brasileiro sobre a divisão das quotas tarifarias entre a UE e o Reino Unido. Tanto a cota Brasil como a cota Erga Omnes (regra geral), preenchida em sua maioria pelo nosso país, foram outorgadas depois de processos de ampliação da UE a outros membros (Finlândia, Romênia, Bulgária e Croácia).

Isso não tem nada a ver com o Reino Unido. De qualquer modo, apenas 4% das exportações brasileiras para o bloco europeu foram para o os Reino Unido nos últimos 3 anos. Portanto, essa divisão não faz sentido”, ressalta a representante da UNICA.

 

Mercosul

Kutas também insistiu na necessidade de incluir o açúcar brasileiro no acordo Mercosul-UE. Desde 2004 o produto tem ficado de fora da proposta europeia. “A Europa ofereceu uma quota de açúcar para todos seus parceiros comerciais com quem assinou acordos de livre comércio nos últimos anos. Não tem razão para excluir o açúcar do Brasil da negociação com o Mercosul”, enfatiza.

No início de outubro, os europeus apresentaram proposta com cotas de importação somente para o etanol (600 mil toneladas) e a carne (70 mil toneladas). Além de deixar o açúcar de fora, a oferta foi bastante criticada pelos produtores nacionais devido aos parâmetros estabelecidos pelos representantes da Europa, considerados muito abaixo de um nível aceitável pelos brasileiros. A expectativa é que as negociações sejam concluídas até o final deste ano.