Folhas largas se dão bem na palhada
26-06-2014

Sem a queima, plantas daninhas como capim-braquiária e capim-colchão, as chamados folhas estreitas, perdem espaço para as daninhas de folhas largas, como Mamona, Mucuna, Merremias e Ipomeas

Clivonei Roberto
A colheita de cana crua modificou o ambiente de produção de cana-de-açúcar, alterando toda flora e fauna da cultura canavieira. Paulo Donadoni, gerente de Cultura Cana da Bayer CropScience, lembra que os canaviais passaram por mudanças das espécies de plantas daninhas e também de pragas, com aumento da incidência da cigarrinha-das-raízes e de outros patógenos que podem ocasionar danos que não eram comuns no ambiente de cana queimada.
Mas a palha também trouxe benefícios à cana-de-açúcar. “Com a cana crua, temos a proteção do solo pelo palhiço. Em regiões de maior deficiência hídrica, a palha favorece a permanência de água disponível à cana por mais tempo.”
De qualquer maneira, Donadoni alerta para a importância de atenção redobrada pelo produtor aos ambientes com maior presença de palha. “Além de buscar novas variedades, que mais se adaptem a essas condições, é preciso dispor de colaboradores e parceiros que estejam atualizados ao uso de tecnologias protetoras para a cultura aplicadas sobre o palhiço da cana.”
A expansão da colheita mecanizada impõe novos desafios à cultura canavieira, trazendo problemas que antes eram irrelevantes. Um dos principais é com relação à maior proliferação das ervas daninhas como mamona, mucuna, merremias e ipomeias, conhecidas como folhas largas, que têm se tornado grandes inimigas dos produtores de cana.
De acordo com Leandro Amaral, diretor de Marketing Cana-de-açúcar da Syngenta, o advento da palha não revolucionou apenas as condições de desenvolvimento das daninhas, como também de pragas. “O setor vive outra realidade. E no caso da matocompetição, as folhas largas passaram a ser cada vez mais importantes. E o grande impacto que vemos correspondendo às ervas que são de difícil controle, que poucos produtos controlam.” Segundo ele, exemplo é a corda-de-viola, que se não for bem manejada, mesmo em infestação baixa, pode trazer muita complicação no momento da colheita, muitas vezes até inviabilizando a colheita mecanizada. “É imprescindível para o produtor, cada vez mais, entender o manejo dessas ervas específicas, identificar quais produtos têm boa performance, e não apenas pensando na performance de produto, mas na sua seletividade, visando evitar a fitotoxicidade da cana e não afetar a produtividade.”
Segundo ele, pensando em atender essa demanda dos produtores, especificamente ao plantio e à soca, a Syngenta oferece ao mercado o Dual Gold e o Gesapax. “São já tradicionais e conhecidos. Mas a mistura desses produtos é bastante efetiva para o controle tanto de folhas estreitas como de folhas largas. Talvez para algumas situações mais críticas, como corda-de-viola, a mistura com Dual Gold com a própria Hexazinona seja interessante, além de uma novidade que estamos trazendo para o mercado nos próximos anos: vamos ter uma mistura pronta já desses dois produtos, visando uma melhor solução dessas ervas mais problemáticas.”
O índice de controle obtido com esses produtos vai de 95% a 100%, segundo Amaral. “Diante do tamanho do prejuízo que podem ocasionar, é preciso cuidar do manejo das folhas largas. Com a expansão da cana, percebemos que encontrar taxas de não controle não é tão incomum. Vemos muitos produtores, usinas, com perdas significativas em função das ervas mais críticas.”
José Renato Gambassi, gerente de Produtos e Mercado Cana-de-Açúcar da Arysta, concorda que hoje as folhas largas são um dos principais problemas para o setor canavieiro. “Com a chegada e crescimento da colheita mecanizada, em que a palha fica depositada no solo, a flora de daninhas sofreu grande modificação. As folhas largas, que não eram grande problema no passado, se adaptaram ao ambiente de palha e hoje trazem grande preocupação, uma vez que essa daninha tem alto vigor, resistência e força para atravessar a palhada.”
Presentes nos canaviais, as folhas largas chegam a subir na cana ao se desenvolverem, dificultando o crescimento da cana e posteriormente o processo de colheita. Além dos danos mecânicos causados às máquinas, perde-se mais tempo no processo de colheita. “Existem trabalhos de pesquisa mostrando que as plantas daninhas, quando não controladas, podem trazer até 75% de perdas no processo de produção da usina ou fornecedor de Cana.”
Gambassi lembra ainda que as próprias máquinas utilizadas no processo de plantio e colheita são importantes propagadores das sementes das folhas largas. Por isso, é importante fazer a limpeza dos equipamentos que realizam operações nos canaviais e principalmente quando sofrem mudança de áreas durante a colheita, impossibilitando assim a propagação das sementes. “Afinal, essas plantas de folhas largas produzem milhares de sementes. Começam em uma simples reboleira, que se desenvolve rapidamente aumentando de diâmetro ano a ano. Essas reboleiras têm grande poder de disseminação no talhão.”
Para o manejo desse tipo de erva daninha, existem vários produtos no mercado. “Mas, antes de mais nada, é importante identificar quais são as daninhas presentes em cada área e o nível de infestação. Depois do mapeamento é que se tem condições de encontrar no mercado alternativas para manejar as invasoras”, aconselha Gambassi. Segundo ele, o principal herbicida da Arysta em cana é o Dinamic. “É uma excelente ferramenta de apoio no manejo das plantas daninhas de difícil controle, como Mamona, Mucuna, Merremias e Ipomeas (conhecidas como 3 MI´s)”