Fontes renovavéis podem conter mudanças climáticas, afirma Al Gore
14-11-2014

O aumento das emissões globais dos gases causadores do efeito estufa, ocasionado principalmente pelo uso desenfreado de energia fóssil, foi apontado pelo ex-vice presidente dos Estados Unidos e diretor do Climate Reality Project, Al Gore, como um dos maiores obstáculos para evitar o caos climático. Ele fez os comentários durante o workshop do Projeto, que reuniu no Rio de Janeiro (RJ), entre os dias 4 e 6 de novembro, mais de 700 líderes empresariais, organizações não-governamentais e de governo, de 52 países, para um curso intensivo sobre os perigos das variações no clima.

O 5º Relatório sobre o clima do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas reforça as afirmações do ambientalista, que aponta, entre outras coisas, que 95% da causa do aquecimento global é humana. Recém divulgada, a publicação destaca ainda que se não nos livrarmos do uso indisciplinado da energia extraída do carvão e do petróleo, que até o fim do século, a Terra deverá aquecer mais de dois graus, o que poderá causar sérios danos ambientais.

“Enquanto a economia mundial continuar dependente dos combustíveis fósseis, a sociedade será pressionada a tomar decisões erradas,” afirmou Al Gore. Segundo o americano, que dividiu com o IPCC o Prêmio Nobel da Paz de 2008, a solução é a adoção de energias renováveis, que além de mais limpas, estimulam a atividade econômica.
Neste contexto, o Brasil, país sede desta edição do workshop, foi um dos destaques no Painel “Energia do Futuro do Brasil: As Escolhas futuras,” onde representantes de importantes instituições debateram sobre o papel da energia sustentável dentro da matriz energética brasileira. Moderado pela vice-presidente do Grupo de Trabalho III do IPCC e presidente da Comissão do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas Científica e Economia Verde, Suzana Kahn Ribeiro, a mesa temática contou com a participação da presidente Executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Melo; do Coordenador de Clima e Energia do Greenpeace Brasil, Ricardo Baitelo e do diretor Executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Eduardo Leão de Sousa.

No Brasil, a maior parte da energia produzida e consumida é proveniente das hidrelétricas, porém as questões ambientais têm limitado a sua expansão e a sua capacidade de estocar água em seus reservatórios, evidenciando a necessidade da maior diversificação de fontes que, simultaneamente, sejam complementares à geração hídrica e contribuam para a manutenção do perfil limpo da matriz elétrica. Trata-se de opção estratégica para o futuro energético do País e fontes como a eólica, a solar e a bioeletricidade, eletricidade produzida a partir do bagaço e da palha da cana-de-açúcar, foram apontadas pelos especialistas como maneira substancial e sustentável para reduzir as emissões de CO2.

Defendendo o uso mais amplo da energia limpa extraída dos canaviais, o executivo da UNICA, enfatizou as vantagens socioambientais, como a geração de renda e de emprego no campo, estímulo à indústria de bens de capital e poupança de divisas. Destacou ainda o benefício ambiental da bioletricidade em relação às usinas termelétricas movidas a óleo combustível, maior entre todas as formas de geração que estão atualmente disponíveis em larga escala.

Ele lembrou ainda que a indústria sucroenergética produziu no ano passado o equivalente a 6% do consumo total no país, o que equivale à geração de energia suficiente para 8 milhões de residências ao longo de todo ano. “Além da economia de cerca de 10% da água dos reservatórios do submercado elétrico Sudeste/Centro-Oeste, que responde por 60% do consumo brasileiro, a bioeletricidade gerada a partir da cana evitou a emissão de cerca de 16 milhões de toneladas de gases de efeito estufa”, afirmou Sousa em sua apresentação.

Segundo o representante da UNICA, se for aproveitada plenamente toda a biomassa de cana disponível no Brasil, seria possível agregar à rede elétrica um volume de energia da ordem de 11.000 MW médios até a safra 2018/2019, o que equivale a uma usina do porte de Itaipu, ou três de Belo Monte, em termos de capacidade instalada (11.233 MW).

Para Sousa, além de aumentar a oferta de energia, a bioeletricidade é altamente complementar com a energia hídrica, já que é gerada no período seco, quando o risco de desabastecimentos dos reservatórios aumenta muito.
“A bioeletricidade é parte significativa de uma matriz energética mais limpa e segura. Mas, assim como o etanol, precisa ser resgatada como prioridade na política energética brasileira, por meio de políticas públicas claras e duradouras e que efetivamente reconheçam os benefícios socioeconômicos e ambientais dessa admirável máquina de transformar luz solar, água e carbono em energia limpa e renovável, chamada cana-de-açúcar,” destacou Sousa.