Gasolina sobra em posto, e álcool cai menos para o consumidor
15-10-2014

Se já estava difícil para as usinas vender etanol nesta safra, a situação ficou ainda pior neste mês.

Além da já pouca competitividade do álcool, devido à retirada da taxa de tributação da Cide e à defasagem dos preços internos da gasolina ao longo do ano, a atual política de comercialização das distribuidoras e dos postos inibe ainda mais a venda do derivado de cana.

No pico da safra, o litro de etanol teve queda de R$ 0,06 na porta das usinas nas últimas dez semanas. Nos postos, o recuo foi de R$ 0,02.

Para complicar ainda mais a vida dos produtores de etanol, a gasolina teve recuo ainda maior do que o do derivado de cana, atingindo queda de R$ 0,03 no período.

Tomando como base as margens das distribuidoras e dos postos, que vêm subindo, a opção maior deles deveria ser para o etanol, mas ocorre o contrário.

Descontados impostos e outros custos, a margem atual das distribuidoras na revenda é de 9,42% na comercialização do etanol e de 5,30% na de gasolina. Já os postos têm margens de 17,70% na venda de álcool e de 14,40% na de gasolina.

Um dos motivos desse não repasse da queda dos preços do etanol das usinas para o consumidor seria uma aposta errada na evolução da demanda do mercado interno.

As distribuidoras acreditavam em uma recuperação do mercado nos últimos meses, o que não vem ocorrendo.

Fizeram encomendas de gasolina acima do que se está consumindo. Quem não retirar essa gasolina recebe uma multa. A saída foi reduzir o preço do derivado do petróleo para elevar as vendas.

Alguns postos de São Paulo comercializam a gasolina com queda de até R$ 0,10 por litro nas últimas semanas, aponta pesquisa da Folha.

A avaliação era de vendas maiores também para o etanol, cujas encomendas feitas às usinas cresceram. Mas algumas distribuidoras não retiraram o produto adquirido, deixando os estoques ainda maiores nas usinas.

Os dados de consumo de combustíveis indicam que o mercado realmente não está reagindo. Nos três primeiros meses do ano, o consumo médio mensal havia crescido 10% em relação a igual período de 2013. Nos meses seguintes esse percentual ainda foi positivo, mas recuou para 5% e nos últimos três meses o aumento é inferior a 2%.

Em São Paulo, por exemplo, a venda média de etanol ficou em 600 milhões de litros por mês, enquanto a de gasolina foi de 880 milhões. Apesar dos preços mais vantajosos do etanol, vende-se 1,5 litro de gasolina em São Paulo por litro de etanol comercializado.

A queda da demanda e a política de algumas distribuidoras de priorizar a gasolina vão elevar ainda mais os estoques de etanol, que já é grande devido à opção das usinas de produzir mais álcool neste ano, devido aos baixos preços do açúcar.

Uma redução de demanda agora vai jogar mais estoques para a entressafra, o período de melhores ganhos do setor.

Neste período, as pesquisas da Folha indicam que há vantagem no consumo de etanol sobre o de gasolina. O derivado de cana custa 65% do valor da gasolina. Pesquisas indicam que, quando o etanol vale até 70% do preço da gasolina, ele é mais vantajoso.

*Texto publicado na coluna Vaivém das Commodities.

Mauro Zafalon