Glencore assume Alesat e inicia integração
06-09-2018

Após três anos entre negociações e um acordo quase fechado, a distribuidora de combustíveis Alesat tem um novo dono, a gigante das commodities Glencore. Com a compra da brasileira após aval do Cade, a multinacional avança em um segmento novo, ao mesmo tempo que traz suas diretrizes para a quarta maior companhia do setor no Brasil.

A primeira tentativa de compra da Alesat foi anunciada em junho de 2016, pela Ipiranga, distribuidora do grupo Ultra, e que disputa a liderança do setor com a BR Distribuidora e a Raízen. Exatamente pela possibilidade de maior concentração do mercado, a aquisição foi rejeitada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), pouco mais de um ano depois do anúncio.

De volta à mesa de negociações, a companhia recebeu proposta de diversos grupos estrangeiros, como a holandesa Vitol e a francesa Total. Acabou fechando com a anglo-holandesa, maior negociadora de commodities do mundo.

"Quando fechamos com a Ipiranga, não tínhamos conversado só com eles, vínhamos num processo de estruturar a empresa para um potencial novo acionista. Quando veio a negativa do Cade, foi natural retomarmos a conversa com os interessados", afirma Diego Pires, gerente executivo de varejo da Alesat. Ele explica que uma das dificuldades da negociação foi o fato da Glencore ter quase nenhuma experiência em distribuição de combustíveis. No ano passado, a empresa abriu seus primeiros postos no México, em parceria com a G500.

Da Glencore, devem vir mudanças no compliance da companhia, atendendo a padrões internacionais. A gestão, entretanto, deve se manter com a atual equipe da Alesat. A principal alteração foi a saída de Marcelo Alecrim da presidência da companhia, substituído por Fulvius Tomelin, que era diretor financeiro e está na empresa desde 2007. Alecrim, um dos fundadores, manteve uma fatia de 22% na companhia - ele tinha 32% - e assumiu a presidência do conselho de administração. As outras quatro cadeiras no colegiado serão ocupadas por indicados da nova controladora. O grupo Asamar (50%) e o fundo Darby (18%) venderam suas participações.

Estruturalmente, a Alesat responderá à Glencore Oil do Brasil, que trabalha com a comercialização de petróleo e combustíveis importados. O grupo estrangeiro ainda tem duas usinas de produção de etanol, além da comercialização de commodities agrícolas, geridas por outras subsidiárias.

Em um cenário mais tranquilo, a intenção é aproveitar os produtos negociados pela Glencore Oil. "A ideia é exatamente criar esse tipo de oportunidade. Hoje não está claro quais seriam em função do subsídio que vem sendo dado ao diesel. O mercado está virtualmente fechado por conta disso", destaca Tomelin. "Trazendo essa expertise, acabamos ganhando um pouco mais de experiência sobre como importar, para fazer de fato a atividade de 'trader', que, voltando as importações, passa a ser inerente à distribuição."

Em participação de mercado, a Alesat tem fatia estimada de 3,8%. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Ipiranga, BR e Raízen concentram cerca de dois terços. A empresa perdeu presença durante as negociações com a Ipiranga, que deixaram a empresa com 2,9% de participação. "Após a negativa do Cade, tivemos de dar o passo de voltar a ganhar mercado, sair da inércia. E mais rápido que perdemos, foi a velocidade com que ganhamos", diz Tomelin.

A companhia trabalha não apenas na rede Ale, mas também com os postos bandeira branca, ou seja, sem contrato de exclusividade com distribuidoras. É nesse modelo, de bom relacionamento com as unidades sem bandeira, que a Alesat vê espaço para crescer e potencial para possíveis conversões.

Pires explica que a greve dos caminhoneiros reforçou a importância dos acordos com as distribuidoras, uma vez que foram esses postos, via de regra, que receberam primeiro o abastecimento após a paralisação. "Criar esse vínculo com a bandeira branca é um diferencial para ganhar mercado e crescer a estrutura de rede."

Mas os movimentos da empresa devem ser mais lentos por enquanto, até que as duas companhias alinhem suas expectativas e desenvolvam um plano de crescimento, que não deve acontecer no curto prazo. "A missão nesse primeiro momento é entender, fazer integração, colocar as áreas no mesmo padrão. O Brasil está num momento de muita instabilidade, de incerteza, então temos de esperar um pouco", afirma Tomelin. "De qualquer forma, 50% do mercado é de postos com distribuidoras menores que a Ale ou bandeira branca, então há um universo de postos para serem embandeirados”.