Grandes fabricantes de máquinas se animam com renovação da frota
18-10-2017

Apesar da esfriada nas vendas domésticas de máquinas agrícolas desde a virada do primeiro para o segundo semestre detectada pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as indústrias mantêm-se otimistas quanto ao desempenho neste ano e no próximo. Segundo fabricantes de tratores, colheitadeiras, pulverizadores e outros implementos ouvidos pelo Valor, o crescimento esperado nos negócios varia de 10% a 20% em 2017 e de 5% a 10% em 2018.

Essas projeções superam a nova estimativa da Anfavea, que no início deste mês reduziu de 13% para 6,9% a previsão de alta do mercado interno em 2017 em relação aos 43,7 mil equipamentos vendidos no atacado em 2016. A revisão foi feita após o segundo mês consecutivo de queda superior a 10% nos volumes frente a iguais períodos do ano passado, embora no acumulado até setembro ainda se registre alta de 8,5%, para 33,6 mil unidades, aí incluídas 869 máquinas rodoviárias.

A Jacto, fabricante de pulverizadores e colheitadeiras com sede em Pompeia (SP), prevê crescer 15% a 20% ante o faturamento de R$ 750 milhões de 2016, quando a alta sobre o ano anterior havia sido de 13%, diz o presidente Fernando Gonçalves Neto. De acordo com ele, a retomada depois de dois anos de queda – após o pico das vendas em 2013 – deveu-se à necessidade que os agricultores têm de máquinas mais produtivas e aos equipamentos lançados pela empresa em 2016 e 2017, com mais tecnologia embarcada.

Gonçalves admite que a baixa nos preços de produtos como soja e milho teve impacto negativo em agosto e setembro, mas não a ponto de frustrar as projeções para este ano e para 2018, quando a estimativa é crescer mais 5% a 10%. Com 1,5 mil funcionários, dos quais cem foram contratados no fim de 2016 para repor parte da redução de pessoal nos últimos dois anos, a empresa obtém perto de 30% das receitas no mercado externo e em dezembro inaugura uma fábrica na província argentina de Buenos Aires.

A Massey Ferguson, marca da americana Agco, projeta alta de 10% a 15% em volume em 2017 ante 2016 e de mais 10% no primeiro semestre de 2018 frente a igual período deste ano, na média entre tratores e colheitadeiras. Segundo o diretor de vendas Rodrigo Junqueira, o crescimento da safra de grãos – mesmo com o recente recuo nas cotações do milho e da soja – e os preços melhores do açúcar e do álcool estimularam a renovação das frotas dos agricultores e usinas.

Conforme Junqueira, o desempenho da Massey também se deve ao lançamento de equipamentos mais modernos para atender às necessidades dos produtores. Para ele, o cenário é de retomada consistente, embora não se possa esperar que o mercado interno retorne "tão cedo" ao pico de 2013, quando a Anfavea reportou vendas domésticas de 84,4 mil máquinas agrícolas e rodoviárias. No entanto, acredita que "logo, logo" se possa retomar ao patamar de 2012, quando foram vendidas 70,1 mil unidades no país.

A Stara, que produz tratores, pulverizadores, plantadoras e outros implementos em Não-Me-Toque (RS), prevê crescer "um dígito" em 2017 ante receita líquida de R$ 562,5 milhões de 2016, e espera que 2018 também seja "melhor" do que este ano, diz o diretor de relações com investidores, Ricardo Diaz. Segundo o executivo, o desempenho está dentro do esperado, depois da queda de 26,5% na receita em 2015 ante o ano anterior – e da retomada iniciada no ano passado.

A Case, do grupo CNH, vê 2017 como um ano de recuperação para o setor também graças à alta produção de grãos e à necessidade de renovação da frota após a queda na demanda em 2015 e 2016, diz o gerente de grandes contas, Sílvio Campos. Segundo ele, a empresa já opera em ritmo semelhante ao de 2011 e 2012 nas três fábricas, em Curitiba, Sorocaba e Piracicaba, e prevê crescer 20% na venda de tratores e 10% em colheitadeiras neste ano. Para 2018, a estimativa é de alta média de 10% para o mercado.

Na New Holland, também do grupo CNH, a projeção é de crescimento de cerca de 10% em 2017 e uma alta similar em 2018 na média das linhas de produtos. Neste ano a alta é puxada pelas colheitadeiras, devido ao envelhecimento da frota nacional e à demanda pelos equipamentos mais modernos, conforme o vice-presidente da marca para a América Latina, Rafael Miotto.

O diretor de assuntos corporativos da John Deere América Latina, Alfredo Miguel Neto, reforça que a queda dos juros do programa Moderfrota, do BNDES, é importante para manter uma visão "otimista" para a agricultura brasileira em 2018. Neste ano, ele espera um crescimento de 20% nas vendas totais de tratores e colheitadeiras na América do Sul, graças à melhoria das condições econômicas no Brasil e na Argentina.

Por Sérgio Ruck Bueno | Para o Valor, de Porto Alegre