Homem versus máquina: a ameaça é real em Alagoas
04-12-2017
Um estudo recente aponta que o mundo do trabalho não será o mesmo com o desenvolvimento de tecnologias inteligentes, a chamada automação. Realizado pelos professores da Universidade de Oxford Carl Benedikt Frey e Michael Osborne para o Citigroup, mostra que 63,9% dos empregos no mundo estão ameaçados por essas novas tecnologias. Outra pesquisa, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), diz que, na média, 57% das vagas de emprego estão suscetíveis à automação e robotização nos 34 países membros da organização.
Em Alagoas, por exemplo, a força da automação e mecanização pode ser sentida de forma mais contundente no setor sucroalcooleiro, que reduziu o número de empregados em trabalhos do corte de cana em cerca de 60% desde que a chamada mecanização começou para valer, há oito anos. A informação é da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadores Assalariados Rurais (Fetar) ao revelar à Tribuna Independente um relatório da entidade sobre os dados.
A Tribuna tentou contato com o representante dos empresários do setor, mas até o fechamento da reportagem, o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e Álcool de Alagoas (Sindaçúcar), Pedro Robério, não havia respondido as perguntas da reportagem enviadas por e-mail sobre o assunto.
Em outros setores, como o de comércio e serviços, a redução da mão-de-obra a ser substituída por máquinas já chega a 10%, com perspectiva de que o percentual aumente e chegue a cerca de 30% a médio prazo.
Segundo a Fetar, nos anos 1980, a força de trabalho humana que chegou a ter cerca de 250 mil trabalhadores na época da safra da cana de açúcar no Estado e atualmente este número foi reduzido a apenas 50 mil trabalhadores. “Tirando algumas usinas que de fato fecharam por causa da crise no setor e outros motivos, podemos afirmar que o percentual dessa redução por causa da automação ou a chamada mecanização é de cerca de 60%, ou cerca de 70 mil trabalhadores atualmente”, ressalta o presidente da entidade, Cícero Domingos.
Segundo o sindicalista, Alagoas chegou a ter 37 usinas do setor sucroalcooleiro e atualmente apenas 16 permanecem com suas atividades.
Automação pode tirar trabalho de até 800 milhões de trabalhadores
De acordo com reportagem recente revelada pelo Jornal o Estado de S. Paulo, a automação de processos nos mais variados segmentos da economia global, aliado ao uso crescente de inteligência artificial, promove ganhos de eficiência e competitividade às empresas, mas também deverá provocar uma relevante reorganização do mercado de trabalho. Estudo realizado pela consultoria McKinsey & Company, com dados de 46 países, estima que, até 2030, de 400 milhões a 800 milhões de trabalhadores no mundo poderão perder o emprego e passar a ver suas atividades exercidas por robôs e máquinas.
Em 60% das ocupações no mundo, concluiu a consultoria, cerca de um terço das atividades já poderiam ser automatizadas.
Nossa pesquisa indica que até 30% das horas trabalhadas no mundo poderão ser automatizadas até 2030, dependendo da velocidade de adoção. No nosso cenário, aplicamos o ponto médio de 15% de automação das atividades atuais”, explica o relatório.
Vilões da redução de vagas são colheitadeira e trator
Os grandes responsáveis pela redução na oferta de vagas para o setor sucroalcooleiro em Alagoas são a colheitadeira, que ocupa atualmente o primeiro lugar nas atribuições que antes eram feitas pela força humana de trabalho, e em segundo lugar os tratores acoplados, segundo informações da Fetar.
“A colheitadeira corta e carrega os caminhões e só aí nessas funções que antes eram feitas por trabalhadores a gente teve uma grande perda de postos de trabalho”, explica Cícero Domingos.
“Já o trator acoplado gradeia, suca, aduba e planta e aparece como o segundo maior fator da diminuição dos postos na colheira da safra da cana de açúcar”, completa o sindicalista.
Força física e preparo de alimentos são os mais ameaçados
O estudo aponta ainda quais atividades deverão sofrer as reduções maiores no quadro funcional para dar lugar às máquinas.
“As atividades mais suscetíveis à automação incluem aquelas que dependem de força física em ambientes previsíveis, como operação de maquinário e preparo de alimentos em redes de fast-food”, relata a consultoria.
Também foram apontadas atividades de coleta e processamento de dados, o que pode atingir profissionais da área administrativa. “A automação terá efeitos menores em trabalhos que envolvem gestão de pessoas, uso de expertise e interações sociais, em que máquinas não conseguem ter a performance de um humano por enquanto.”
Caixa de autoatendimento é o “bicho-papão” em supermercados
Bueno e a máquina de autoatendimento: previsão é de redução de vagas em 30% a médio prazo (Foto: Adailson Calheiros)
No setor de comércio, por exemplo, embora em menor escala e percentual, as máquinas também já começam a reduzir a oferta de vagas antes ocupadas por trabalhadores. Este é o caso do supermercado.
Comum nos Estados Unidos e em países europeus, o modelo de caixa em que o próprio consumidor registra e paga suas compras chegou à capital alagoana e já com perspectivas de “ajudar” a substituir a força de trabalho de um funcionário pela máquina. Três unidades da rede alagoana de supermercados Unicompra localizadas nos bairros de Ponta Verde e Cruz das Almas já oferecem o serviço chamado de self checkout ou caixa de autoatendimento aos seus clientes.
A ferramenta funciona da seguinte maneira: o cliente clica na tela do caixa automático e já começa a passar o código de barras dos produtos em um leitor tridimensional. À medida que o produto vai sendo registrado, o consumidor precisa colocá-lo dentro da sacola, que fica presa a um suporte ao lado da máquina e que funciona como balança.
O sistema é inteligente e à prova de fraude. Ele só da continuidade ao registro dos produtos caso eles sejam colocados na sacola. Assim, a máquina confere se o peso da mercadoria corresponde ao produto que foi registrado.
Interrogado pela reportagem se a máquina é sinal de que haverá de fato redução de vagas para o registrador de caixa, por exemplo, o gerente da unidade localizada na Ponta Verde, Alexandre Bueno, admitiu que sim.
“Já tivemos uma redução no número de contratações de caixas em dez por cento e acredito que a médio prazo a tendência é a substituição da força de trabalho humana em torno de 30% nas nossas três lojas, infelizmente essa é uma tendência mundial”, afirmou Bueno.
Os caixas são especificamente para as pessoas que compram até 15 produtos e irão pagar com cartões de crédito ou débito. Segundo o gerente do supermercado, a novidade por enquanto, não substitui operadores dos demais caixas convencionais.
O gerente ressalta que aceitação dos consumidores é muito boa. “De início, não esperávamos tanta adesão ao sistema. Estamos com os quatro self checkout há quase seis meses e notamos que eles ajudaram a desafogar as filas principalmente nos caixas de pequenas compras. Quando as maquinas chegaram, alguns funcionários ficaram receosos com medo de demissão, mas tranquilizamos. O serviço é para ajudar no atendimento aos nossos clientes. Sempre tem funcionários auxiliando as pessoas a usarem a máquina’’, disse.
Wellington Santos