“Horizonte Rural” cria novas perspectivas para o produtor de cana
10-10-2017

Programa da Solidaridad desempenha papel importante no Muda Cana para que a atividade do fornecedor se torne cada vez mais sustentável

Um olhar diferente para a gestão, focado na melhoria contínua do produtor, de seus colaboradores e de seu negócio, é o principal objetivo do Horizonte Rural, um programa da Fundação Solidaridad que começa a ser aplicado junto aos produtores de cana vinculados às associações filiadas à Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana).

O Horizonte Rural é uma das metodologias que integra o “Muda Cana”, programa de capacitação da Orplana, que vai criar condições para o produtor se adaptar às novas demandas e regras que estão sendo impostas à atividade. Inédito no setor e de grande amplitude, o “Muda Cana” tem um planejamento inicial que prevê a capacitação de produtores de 32 associações em seis anos.

Um dos sustentáculos da iniciativa da Orplana, o Horizonte Rural foi desenvolvido para ajudar o fornecedor de cana a caminhar na direção de uma produção cada vez mais sustentável, considerando fatores econômicos, sociais e ambientais.

Esses três pilares vão deixar a atividade do produtor mais rentável, além de afastar os riscos provenientes do não cumprimento de questões ligadas à legislação trabalhista, ambiental, da área de segurança do trabalho, entre outras – detalha a gerente geral da Solidaridad no Brasil, Fátima Cristina Cardoso.

A importância da adoção de práticas agrícolas eficientes e a necessidade de uma gestão adequada da propriedade, o que inclui planejamento financeiro e da safra, também serão abordadas pelo programa – informa.

Com mais de 40 anos de atuação no mundo e no Brasil, a Fundação Solidaridad – com sede na Holanda – já aplica o “Horizonte Rural” junto aos produtores ligados à Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba (Socicana), com sede em Guariba, SP, desde 2012. Essa metodologia de melhoria contínua da propriedade também é utilizada em um trabalho com os fornecedores de cana da Raízen, que dá suporte a essa iniciativa.

Mais recentemente, o Horizonte Rural passou a ser aplicado na Associação dos Fornecedores de Cana da Região Oeste Paulista (AFCOP), de Valparaíso, SP, onde está sendo desenvolvido o projeto piloto do Muda Cana.

“O projeto da Socicana é mais antigo e entra agora no escopo do Muda Cana, que é uma ação mais ampla do setor. O programa com a Raízen acontece em paralelo e tem as mesmas premissas”, observa a gerente da Solidaridad.

Autoavaliação - A primeira etapa do Horizonte Rural é a autoavaliação realizada pelo próprio fornecedor de cana, que leva em consideração as práticas econômicas, ambientais e sociais adotadas em sua propriedade. Para isto, houve a elaboração do guia de autoavaliação, desenvolvido inicialmente em parcerias com a Socicana e a Raízen, segundo Fátima Cardoso.

“O questionário é bem flexível. Podem ser feitas mudanças de acordo com as prioridades, a realidade regional, o tamanho da propriedade ou com um programa específico que queira dar, por exemplo, um enfoque na produtividade”, esclarece.

O produtor consegue se autoavaliar, constatando o nível em que está conforme determinados parâmetros definidos por um programa de certificação, como o BONSUCRO – que é bastante utilizado por usinas e produtores de cana – ou por metas específicas dos parceiros, explica a gerente geral da Solidaridad.

O processo de autoavaliação inclui também o enquadramento do produtor em quatro estágios de melhoria contínua, dependendo da quantidade de itens que ele deve implementar em sua atividade. “O produtor do nível 1 precisa fazer mudanças urgentes, que apresentam riscos por causa da legislação. Os de níveis 2 e 3 estão em uma situação intermediária e os do 4, o nível top, têm potencial de certificação”, diz.

Segundo Fátima Cardoso, o Horizonte Rural não é um programa para promover a certificação, que depende muito da oportunidade de mercado. “É um programa para promover a melhoria contínua”, ressalta.

Após a autoavaliação, as respostas são processadas de forma automatizada e geram umrelatório individual com um balanço dos pontos fortes e dos desafios que precisam ser cumpridos para o atendimento das diversas demandas das legislações e dos padrões de boas práticas.

O tempo de duração do trabalho, até ser alcançado o nível top, depende da disponibilidade de recursos do produtor e dos serviços de suporte. “O Muda Cana, da Orplana, tem a finalidade de acelerar esse processo”, comenta.

O trabalho focará também no fortalecimento da expertise das associações para que elas possam prestar serviços aos produtores em áreas específicas. A capacitação e o conhecimento das entidades vão ser importantes – enfatiza – para o gerenciamento das atividades de consultorias técnicas que precisarão ser contratadas para o atendimento de diversas demandas.

A gestão financeira e de custos tem sido um dos principais gargalos das propriedades de produtores de cana, de acordo com os processos de autoavaliação já realizados neste segmento – exemplifica Fátima Cardoso. Existe hoje a necessidade da introdução de técnicas de gestão para melhorar a rentabilidade da propriedade – observa.

Outro desafio é o aprimoramento da gestão de agroquímicos, levando-se em conta aspectos das áreas de saúde e segurança – diz. “Em relação às práticas agrícolas, os produtores ainda estão aprendendo muita coisa sobre as mudanças proporcionadas pela mecanização da colheita e do plantio. Eles têm procurado melhorar o sistema”, constata.