Impasse entre indústria e produtores trava revisão do Consecana-SP
08-08-2025
Unica e Orplana trocaram acusações públicas às vésperas da assembleia sobre a nova metodologia de precificação da cana-de-açúcar
O setor sucroenergético paulista vive um momento de tensão institucional. Prevista para a próxima segunda-feira, 11, a continuidade da Assembleia Geral Extraordinária do Consecana-SP ocorre em meio a divergências de ideias entre as entidades que compõem o sistema.
Criado em há mais de 20 anos, o Consecana-SP é um modelo de governança entre a indústria, representada pela União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), e os produtores, representados Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), que estabelece o valor da cana-de-açúcar no estado de São Paulo. Como base da metodologia técnico-econômica são considerados os preços do açúcar, etanol e outros derivados.
A revisão dessa metodologia foi iniciada há dois anos, e os resultados de um estudo contratado junto à FGV Agro foram entregues em abril de 2025. No entanto, a aplicação prática das recomendações ainda não avançou, travada por divergências entre as partes.
Em nota divulgada no dia 30 de julho, a Unica lamentou o que chamou de “ausência de consenso” com a Orplana durante reunião realizada no último dia 24. A entidade propôs a renovação completa da diretoria do Consecana-SP, como parte de um esforço para restabelecer “um ambiente de governança equilibrado, transparente e produtivo”.
Segundo a Unica, apesar da disposição para o diálogo, a Orplana teria mantido “a mesma postura adotada no biênio anterior”, recusando-se a construir alternativas em conjunto.
A resposta da Orplana veio dias após, também em comunicado público. A entidade afirmou ter sido surpreendida pela publicação da nota da Unica, uma vez que havia sido combinado entre as partes a elaboração de um comunicado conjunto.
Em sua manifestação, a Orplana comemorou a retomada da interlocução entre as partes, mas lembrou que a Unica vinha se recusando, desde abril, a comparecer às reuniões da diretoria do Consecana, o que, segundo os produtores, criou obstáculos para avanço de um diálogo entre sócios.
Pontos de divergência
A principal divergência entre indústria e produtores parece estar na composição da diretoria do Consecana-SP.
A Unica defendeu, em nota, a “renovação completa da diretoria do Consecana-SP, como parte de um esforço para restabelecer um ambiente de governança equilibrado, transparente e produtivo”. Para a Orplana, a exigência da indústria “revela-se verdadeira tentativa de interferência e submissão”, considerada “inadmissível e imprópria ao sistema paritário” do colegiado.
Com a assembleia decisiva marcada para 11 de agosto, cresce a expectativa em torno de um possível acordo. Ambas as entidades dizem estar comprometidas com o fortalecimento institucional do Consecana-SP. A Orplana afirma confiar em um “diálogo franco e resolutivo” até o próximo encontro. Já a Unica afirma manter a esperança de que prevaleça o interesse comum em garantir a estabilidade da relação entre indústria e fornecedores.
Fonte: Estadão

