Incríveis Números da Indústria de Etanol Americana
20-10-2017

A RFA (Renewable Fuels Association), Associação dos Produtores de Combustíveis Renováveis dos EUA recentemente publicou o panorama da indústria de 2017, com os dados refletindo o fechamento do ano de 2016, histórico para eles.

Os números são impressionantes graças ao baixo custo do milho pela oferta abundante com produção recorde de etanol e ganhos de produtividade, com demanda local e internacional aquecidas. Existe também uma visão otimista quanto ao futuro da regulação no setor. Os números falam por si, e resumimos aqui os mais importantes.

Os EUA já são responsáveis por 58% do etanol produzido no mundo, seguidos pelo Brasil com 28%. Hoje são 213 usinas situadas em diversos estados do país, mas concentradas nas regiões de produção de milho de Iowa, Nebraska, Illinois, Minnesota e Indiana. Do total produzido de milho nos EUA, cerca de 36% ou quase 140 milhões de toneladas, vão para os tanques dos carros americanos. Para se entender o que significa este volume, representa praticamente 150% da safra de milho produzida no Brasil.

Quase toda a gasolina dos EUA já contém 10% de etanol anidro adicionado, e a indústria luta para levantar para 15%, enfrentando resistências de todos os lados.

Já existem nos EUA 3.610 postos de combustível oferecendo o E85, contendo 85% de etanol anidro misturado à gasolina que pode abastecer uma frota flex que já passou de 20 milhões de unidades. É comum se usar o E85 nas regiões produtoras.

As exportações de etanol dos EUA praticamente dominaram o mercado internacional, já ultrapassando 1 bilhão de galões ou 3,75 bilhões de litros em 2016. O principal destino foi o Brasil, com 24% das exportações de 2016. As poucas exportações de etanol do Brasil para os EUA ocorrem sobretudo pela demanda da Califórnia e para quotas consideradas de biocombustíveis de padrões avançados com menor nível de emissão de gases de efeito estufa consideráveis. Em 2016 as importações foram de apenas 31,8 milhões de galões (quase 110 milhões de litros) com queda de 63% em relação a 2015, fruto da nossa opção de realizar uma safra bem mais açucareira.

A China segue o Brasil na segunda posição de maior importadora com 19%, preocupada com poluição nas cidades e sinalizando que poderá importar mais. Recentemente anunciou que pretende até 2020 adicionar 10% de etanol em sua gasolina.

Além desses dados, outra válida informação ao público brasileiro interessado é como o governo nos EUA tem regulado a oferta do combustível. A cada ano são gerados os créditos RINs (Renewable Identification Numbers). Uma vez o governo estabelecendo o nível de mistura de combustível renovável para ser usado por refinarias ou importadores, estes precisam comprovar que cumpriram suas obrigações e assim receberem os RINs correspondentes. Se caso um refinador ou importador não quiser realizar a mistura, é obrigatória a compra de RINs correspondentes de quem eventualmente usou mais do que o mínimo estabelecido. Assim, caso o percentual de adição seja alto, é gerada uma demanda por RINs e estes se valorizam no mercado.

Por fim, a RFA continua seu trabalho de convencimento ao opinião pública sobre o debate food x fuel (alimento versus combustível). No relatório deste ano, por exemplo, traz interessantes séries de dados mostrando o crescimento da produção de etanol e o uso de milho e por outro lado a queda relativa do preço dos alimentos. Além disso traz em destaque como a ração animal feita a base de sobras do processo produtivo do etanol (Distillers Grain) contribui com mais de US$ 5 bi no valor da produção total da industrial de cerca de US$ 30 bilhões.

Com dados como o próprio preço do petróleo, tenta mostrar que o consumo do milho pela indústria do etanol é um dos fatores, entre muitos outros, mais relevantes para a determinação do preço internacional da commodity. É inspirador visitar seu site, que deixa à disposição todos os argumentos de comunicação e pesquisas feitas.

A nós do Brasil, que éramos os maiores do mundo, fica muitas vezes um sentimento de admiração ao ver como a indústria nos EUA, em menos tempo, conseguiu resultados tão impressionantes. Quem sabe agora com o RenovaBio sendo aprovado, podemos novamente acelerar nossa indústria promovendo o desenvolvimento e a sustentabilidade econômica, ambiental e social, algo tão necessário ao interior do Brasil.


Luciano Thomé e Castro - Professor da FEARP/USP; Marcos Fava Neves - Professor da FEARP/USP e Allan Gray - Professor da Purdue University (EUA)