Início da safra deve ser postergado
28-03-2014

O mercado de açúcar começou 2014 com preços baixos. Chegou a 15 centavos de dólar por libra-peso. Um dos motivos foi a desvalorização do real em relação ao dólar. Outro componente, que preocupou o setor canavieiro brasileiro nesse início de ano, é o subsídio concedido pelo governo indiano aos produtores de açúcar do País. Em ano de estoque mundial em superávit, essa política pode pressionar pra baixo os preços da commodity no mercado internacional.

Mas a estiagem e o calor, que afetaram os canaviais no Centro-Sul do Brasil nos últimos meses de 2013 e principalmente em janeiro de 2014, se estendendo até o início de fevereiro, também estão refletindo sobre a cotação do açúcar.

Segundo Arnaldo Luiz Correa, gestor de riscos em commodities agrícolas e diretor da Archer Consulting, a escassez de chuvas no Centro-Sul não apenas elevou a níveis históricos o preço da energia, mas também surpreendeu as usinas e acionou a luz amarela para o mercado de açúcar. “Sem chuva a cana não cresce, obviamente, e a seca tem persistido em algumas regiões produtoras de maneira irregular. Sobre o dano, ainda é difícil quantificá-lo. O fato é que ele existe e pode ser eventualmente compensado (se houver uma quantidade de chuvas suficiente)”, analisou Correa no início de fevereiro.

Com a falta de chuvas, os preços do açúcar subiram vigorosamente no final de janeiro em Nova York, encerrando o mês cotado a 15,61 centavos de dólar por libra-peso. Como as chuvas teimaram em não cair no início de fevereiro, somente voltando razoavelmente no final do mês, a cotação do açúcar manteve o ritmo ascendente.
Segundo Corrêa, o mercado futuro de açúcar em NY encerrou a penúltima semana de fevereiro com uma forte alta de 109 pontos no vencimento março/2014, cotado a 16,72 centavos de dólar por libra-peso. “Os demais meses que se estendem até outubro de 2016 também fecharam em altas que oscilaram entre 20 e 108 pontos, ou seja, entre 4 e 24 dólar por tonelada”, conclui.

Em 25 de fevereiro, o contrato do açúcar bruto com vencimento em maio subiu 3,6%, a 17,68 centavos de dólar por libra-peso. O mesmo vencimento do arábica avançou 4%, a 176,35 centavos de dólar.

“As chuvas [registradas no final de fevereiro] e a previsão de mais chuvas nas próximas semanas são insuficientes para compensar a seca, segundo alguns analistas do setor. Como não dá para revogar a lei da oferta e demanda, esse rombo deverá se traduzir na forma de preços altos”, completa Corrêa.

Como a temporada de chuvas ainda não acabou, não é possível afirmar o tamanho das perdas dos canaviais. Isso faz com que a safra 2014/15, que começa em abril no Centro-Sul, fique envolta em muitas incertezas.

A safra passada fechou com 595 milhões de toneladas de cana processadas. Mas, na previsão da Copersucar, maior comercializadora de açúcar e etanol do mundo, a próxima safra moerá 570 milhões de toneladas, em consequência da seca e do calor, especialmente em janeiro, sobre os canaviais. De acordo com Plínio Nastari, diretor da Datagro Consultoria, a estimativa de moagem para o Centro-Sul da consultoria é de 580 milhões de tonelada de cana, com rendimento de 132,1 kg de ATR / tonelada de cana.

“Uma redução de 35 milhões de toneladas em relação à expectativa inicial com a qual o mercado estava trabalhando, somada a mais 35 milhões de toneladas de cana – que é, aproximadamente, o adicional de cana necessária para atender ao acréscimo da frota de veículos flex no Brasil durante esse ano –, mais o volume de exportação de açúcar adicional (imaginando um crescimento do consumo mundial em torno de 2%) e o crescimento vegetativo do consumo interno, provocará um rombo total de 70 milhões de toneladas para a próxima safra”, analisa Corrêa.

Confira a matéria completa na edição de fevereiro da CanaOnline. Baixe agora o APP da Revista.