Irrigação por gotejamento turbina a produção de muda pré-brotada
10-01-2022

 Na foto, malha hidráulica superficial, desenvolvida pela Netafim fornece as quantidades ideais de recursos hídricos à MPB, no momento certo e diretamente na raiz. Foto: Leonardo Ruiz
Na foto, malha hidráulica superficial, desenvolvida pela Netafim fornece as quantidades ideais de recursos hídricos à MPB, no momento certo e diretamente na raiz. Foto: Leonardo Ruiz

O uso dessa irrigação tecnificada em áreas de MBPs garante pegamento, diminui tempo de produção e eleva número de gemas por perfilho

Leonardo Ruiz e Luciana Paiva

Em 2012, o Centro de Cana do IAC (Instituto Agronômico) introduziu um novo conceito de plantio de cana-de-açúcar, não mais com toletes, mas com Mudas Pré-Brotadas (MPBs). Quase 10 anos se passaram, e a tecnologia está amplamente disseminada no setor, afinal, tornou-se peça-chave para a formação de canaviais sadios, além de acelerar a introdução de novas variedades, reduzir custos de produção e replantar falhas com muito mais eficiência.

Com o suporte da agricultura de precisão, o sistema de MPB turbinou duas modalidades de plantio a Cantosi e Meiosi, aumentando a relação custo-benefício.

Com a agricultura de precisão e o sistema de MPB, o setor voltou a adotar a Cantosi e a Meiosi que promovem um plantio com ótimo custo-benefício

Foto: Leonardo Ruiz

Dentre as vantagens do sistema de MPB, a qualidade fitossanitária das mudas e alta taxa de multiplicação, são as que mais satisfazem as empresas canavieiras, segundo censo divulgado pelo Centro de Cana do IAC no início do ano. Por outro lado, a necessidade de irrigação é apontada como um dos fatores que inviabiliza a maior adoção do sistema.

MPB PEDE ÁGUA

O plantio de mudas pré-brotadas ocorre o ano todo, mas o realizado entre abril e setembro proporciona as maiores taxa de multiplicação. O problema é que as mudas precisam de água para se desenvolver e essa janela coincide com o período de maior déficit hídrico na região Centro-Sul do país.

A lâmina inicial de água visando garantir o pegamento pode acarretar mais prejuízos do que benefícios

Foto: Leonardo Ruiz

A pesquisadora científica e vice-diretora geral do IAC, Regina Célia de Matos Pires, ressalta que o transplantio é o momento de maior estresse para uma MPB, que sai de condições controladas no núcleo de produção e vai para o campo, encontrando um ambiente muito mais restritivo. “Nessa hora, é fundamental que exista disponibilidade adequada de água no solo.”

Para contornar essa situação, a maioria das usinas e agrícolas opta por uma rápida – e generosa - lâmina inicial de água visando garantir o pegamento. Mas esse processo é realizado por meio de caminhões-pipa ou de tanques tracionados por tratores que, ao transitarem sobre as linhas, aplicam, em geral, uma elevada quantidade de água sobre o solo exposto e as mudas recém transplantadas. Prática que pode levar a um aumento dos custos associados à mão de obra, uso de máquinas e combustível.

Regina ressalta que o transplantio é o momento de maior estresse para a MPB

Foto: Arquivo pessoal

Regina observa ainda que, na maioria das vezes, após essa rega inicial, as mudas são deixadas à mercê das condições climáticas por dificuldades em seguir com a operação, especialmente quando as áreas se encontram distantes da unidade industrial ou sede da fazenda. Mas ela alerta que, em caso de má distribuição de chuvas ou longas estiagens, como a registrada este ano, o desenvolvimento das mudas será severamente impactado, levando a um canavial de baixo stand e produção irregular.

IRRIGAÇÃO POR GOTEJO NÃO SÓ SALVA A MUDA, COMO INCREMENTA SEU DESENVOLVIMENTO

Irrigação por gotejo proporciona melhor uso da água, alta taxa de pegamento, diminuição do tempo de produção

Na visão da pesquisadora, a irrigação por gotejamento aparece como uma alternativa eficiente para sanar este problema, pois aproveita os recursos hídricos da melhor forma e com isso garante um nível de pegamento de praticamente 100%, além de adequado desenvolvimento das mudas. “A partir do momento que há um sistema de gotejo instalado, é possível suprir a necessidade das MPBs, potencializando seu crescimento mesmo em períodos de baixa pluviosidade, já que a tecnologia permite realizar irrigações mais frequentes, com intervalos menores e apenas na região onde ela é necessária, o que também auxilia grandemente na economia de água.”

Daniel Pedroso, especialista agronômico da Netafim, pioneira e líder mundial em soluções para irrigação, concorda que a irrigação por gotejamento é de grande valia para o manejo das MPBs, não apenas por fazer um melhor uso da água quando comparada as modalidades convencionais (aspersão e pivô central), mas também por garantir uma taxa de pegamento de quase 100%, diminuir o tempo de produção, elevar o número de gemas por perfilho e reduzir a necessidade de mão de obra e estrutura. Fatores que juntos se traduzirão em aumento de produtividade com redução de custos.

Irrigação tecnificada por gotejamento é vital para garantir um alto nível de pegamento após o transplantio, etapa de maior estresse para uma MPB

Foto: Leonardo Ruiz

A Netafim, observa Daniel, possui diversas tecnologias de irrigação que podem ser aplicadas desde o núcleo de produção de MPBs até o canavial já estabelecido. “Começando pela fase de viveiros, onde as mudas são expostas a pleno sol para rustificação, é possível instalar nossos microaspersores, visando uma maior qualidade das mudas que serão levadas para a lavoura.”

Após o transplantio no campo, a empresa oferece duas modalidades de irrigação: subterrânea e superficial. A primeira é indicada para canaviais comerciais, formados em sua totalidade com o uso de MPBs ou por meio do sistema de Meiosi, e que permanecerão produtivos por, no mínimo, 12 anos. Em contrapartida, nas áreas de viveiros de mudas, onde as reformas serão constantes em função da troca de variedades, a melhor opção é o gotejamento superficial, em que os tubos gotejadores são retirados antes da colheita e recolocados após o novo plantio.

Já nas áreas de Cantosi, em que o produtor ou usina busca unicamente garantir o pegamento das mudas, a Netafim recomenda o uso do Kit Móvel, composto por uma pequena carreta com motobomba a diesel e sistema de filtragem. Nessa opção, uma malha hidráulica flexível, dotada de tubos gotejadores e conectada à carreta, é disposta a cada linha transplantada, fornecendo as quantidades ideais de recursos hídricos às MPBs, no momento certo e diretamente na raiz, maximizando o rendimento e a economia. Lembrando que, após o pegamento, essas “mangueiras” podem ser recolhidas e levadas para outras áreas, sempre que necessário.

Kit Móvel é recomendado unicamente para garantir o pegamento das mudas. Posteriormente, as “mangueiras” podem ser recolhidas e levadas para outras áreas, sempre que necessário

Foto: Leonardo Ruiz

IAC DISSEMINA TECNOLOGIA E PRÁTICAS QUE AUMENTAM A VIABILIDADE ECONÔMICA DA PRODUÇÃO DE MPBS

Os pesquisadores do Centro de Cana do IAC, localizado em Ribeirão Preto, SP, além de desenvolverem a tecnologia do MPB, realizam cursos para que usinas e produtores possam produzir suas próprias mudas com alta sanidade e melhor custo-benefício. Assim, é cada vez mais comum encontrar usinas e agrícolas produzindo seus próprios materiais de propagação. Uma pesquisa conduzida pelo Programa Cana IAC no início de 2021 atesta esse movimento. Das 122 empresas produtoras recenseadas, 54% afirmaram que vão produzir internamente as suas mudas.

Ao longo do tempo, o IAC foi aprimorando o sistema e adotando tecnologias para impulsionar o desenvolvimento das MPBs, uma delas é a irrigação por gotejamento.  A pesquisadora Regina salienta que o Centro de Cana utiliza irrigação por gotejamento em suas áreas de transplantio de mudas pré-brotadas, sejam elas de experimentos científicos ou voltadas para produção de gemas.

A introdução da irrigação por gotejo eleva a viabilidade econômica da produção de MPB.  Sem a irrigação, o tempo de desenvolvimento das mudas plantadas, por exemplo, é de 10 meses, o que permite apenas uma única produção num ciclo de 14 meses. Outro entrave é a baixa produtividade das áreas, que entregam, em média, de seis a oito gemas por perfilho. Com o uso da tecnologia, o tempo de desenvolvimento da muda é menor e a taxa de multiplicação aumenta

Após implantação da tecnologia de gotejamento da Netafim, usina da região paulista de Ribeirão Preto conseguiu elevar taxa de multiplicação para 1:14

Foto: Banco de dados Internet

Para melhorar esses índices e maximizar a eficiência do processo, muitas empresas têm acompanhado a experiência do IAC e apostado na irrigação tecnificada por gotejamento. É o caso de uma unidade produtora da região paulista de Ribeirão Preto, SP, que em agosto do ano passado instalou a tecnologia da Netafim no viveiro primário que atende toda a demanda de sua biofábrica de MPBs, cuja capacidade de produção é de quatro a cinco milhões de mudas por safra.

Após a implantação, o tempo de produção das mudas foi reduzido de 10 para seis meses, tornando possível colher duas vezes dentro de um ciclo de 14 meses. Outro benefício observado foi o aumento de produtividade das áreas, que passaram a entregar mais gemas por perfilho, elevando a taxa de multiplicação para 1:14.

Segundo Daniel Pedroso, diminuição do tempo de produção das mudas resultou em grande economia para a usina paulista

Foto: Divulgação Netafim

O especialista agronômico da Netafim explica que essa diminuição do tempo de produção ocorre em função de um pegamento mais rápido e pelo fato de que, com a irrigação por gotejo, a planta terá água a todo o momento, não passando por nenhum tipo de estrese hídrico. “Juntos, esses benefícios têm gerado grande economia para a usina, que passou a contar com um número muito maior de mudas sem que fosse necessário aumentar a área, fechar contratos com viveiristas ou utilizar canaviais comerciais para retirada de mudas.”

Lembrando que a experiência da Netafim em irrigação é fruto da vivência com a escassez hídrica em seu país de origem, Israel, onde os avanços em irrigação transformaram desertos em lavouras altamente produtivas.

Fonte: CanaOnline