Lento na subida, rápido na descida
06-11-2017

Por Arnaldo Luiz Corrêa

Mais uma daquelas semanas aborrecidas do mercado de açúcar. Única diferença é que a volatilidade está mais alta, não necessariamente das opções, mas o futuro mesmo que oscila com mais força do que o habitual. O vencimento março/2018 encerrou cotado a 14.38 centavos de dólar por libra-peso uma queda de 25 pontos na semana, ou 5.50 dólares por tonelada. Todos os demais vencimentos fecharam em queda entre 6-20 pontos.
A surpresa, depois do fechamento, veio com a divulgação da posição dos participantes: os fundos liquidaram 42.000 lotes e o mercado moveu 46 pontos (de terça a terça).

Existem dois pontos a serem observados com essa informação: o primeiro, mostrando a fraqueza do mercado, que precisou de 46.000 toneladas para mover um ponto. O segundo, que se houve essa redução, pode ser que tenha havido bastante fixação das usinas (atrasadas) tirando a pressão que tanto comentamos aqui. (Lembrando que falamos que as usinas deviam ter aproximadamente 80.000 lotes ainda a serem fixados). Vamos ficar atento aos próximos capítulos.

A Petrobras subiu mais o preço da gasolina. O mercado de petróleo deixou de ser coadjuvante e passou a ser protagonista no dia-a-dia dos analistas de mercado quando olhares mais atentos se lançam por sobre os fundamentos do setor sucroalcooleiro. Difícil saber o quanto desse protagonismo já atingiu o raio de percepção das análises que lemos diariamente acerca do setor. Nossa impressão é que os participantes do mercado ainda não aprenderam a lidar com esse novo componente.

É controverso afirmar de maneira peremptória que o petróleo está no radar dos fundos vendidos no açúcar, contudo, aquele que no setor sucroalcooleiro se antecipar aos possíveis acontecimentos no mercado de petróleo/energia terá maior vantagem competitiva.

No mercado de energia é consenso que os produtores de gás de xisto enfrentarão em 2018, independentemente do seu tamanho, substancial aumento no custo de perfuração que irá impactar de maneira considerável na diminuição da produtividade e no aumento do custo de produção. Prevê-se também gargalos logísticos e falta de mão-de-obra. Argumentam os analistas que depois da dispensa de muitos trabalhadores na indústria de óleo e gás, objetivando a diminuição de custos, em épocas de crise, a reposição desses profissionais tornou-se tarefa difícil porque muitos foram para outras indústrias mais estáveis. Mais dinheiro precisa ser colocado sobre a mesa. Isso coloca o ponto de equilíbrio do gás de xisto para patamares mais elevados, sendo factível que o petróleo siga o mesmo passo.

Para reforçar o argumento de petróleo mais alto, pegue as crescentes exportações de petróleo pelos EUA, com gordas margens, que estão ajudando a diminuir os estoques no país, o que até então era um fator de resistência na subida de preços. Adicione como possíveis fatores de sustentação nos preços (ou quem sabe até uma elevação dos mesmos) a instabilidade geopolítica de alguns importantes participantes: Venezuela, Iraque, Nigéria, Líbia e Irã. Percebem o caminho que temos adiante?

Um ponto que merece reflexão é sobre as tradings de commodities. Nos últimos anos elas tem lutado arduamente para sobreviver. Margens estreitas, alta competitividade, menor rotatividade de volume, maior alocação de capital de giro, maior restrição creditícia empurram o responsável pela tomada de decisões na trading a arriscar mais. Com isso, as instituições financeiras que financiam muitas tradings ficam menos à vontade com o business trading propriamente dito, diminuindo a alocação de recursos, aumentando a restrição creditícia e assim a coisa vira uma bola de neve. A imprensa tem divulgado inúmeros casos de dança das cadeiras dentro das empresas, acionistas querendo sair do negócio, rombos imensos em operações especulativas e grandes prejuízos operacionais ou lucros pífios. O trading não tem tido no passado recente o mesmo glamour de que gozava décadas passadas.

O efeito imediato para o setor – e esse é um contraponto importante que poderá eventualmente diminuir qualquer entusiasmo na recuperação de preços – é que as tradings certamente serão menos agressivas na negociação de contratos de açúcar físico para a safra 2018/2019. Já se observa em algumas negociações para o ano que vem descontos maiores comparativamente àqueles praticados este ano. Igualmente é possível – para diminuir riscos e necessidade de caixa destinado a ajustes de preço – que haja diminuição do prazo para que as usinas fixem seus contratos em NY antes do embarque. A razão é simples: o desconto negociado no mercado spot ao longo deste ano safra apresentou diversas vezes níveis muito mais baixos do que aqueles contratados pelas tradings. Isso é prejuízo na veia uma vez que não existe hedge de basis. É apenas natural que as tradings venham com menos sede ao pote no próximo ano.