Limpas, energias solar e eólica invadem a matriz
05-06-2014

Graças à rápida ascensão da energia eólica e a um avanço bem mais lento, porém promissor, da energia solar, a matriz energética brasileira continuará a ter mais ou menos a mesma proporção de fontes renováveis de hoje até meados da próxima década: pouco mais de 40% (ou pouco menos de 80%, considerada só a energia elétrica).

"A tendência, no horizonte de dez anos, é você ter mais ou menos a mesma capacidade instalada de renováveis, com a relativa diminuição das fontes hidráulicas e o aumento da energia eólica", diz Mauricio Tolmasquim, presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), ligada ao Ministério das Minas e Energia.

A energia eólica no país deve dobrar até o fim deste ano, e estima-se que cresça no mesmo ritmo até 2015, alcançando, em mais alguns anos, o equivalente ao produzido pela hidrelétrica de Itaipu.

"A situação também está cada vez mais favorável em termos do preço, hoje inferior ao da energia das pequenas centrais hidrelétricas ou das termelétricas a biomassa", diz a engenheira eletricista Eliane Fadigas, especialista em energia eólica da Escola Politécnica da USP.

Em meados da próxima década, segundo Tolmasquim, a geração de energia solar também deve ganhar mais relevância. Além dos já conhecidos painéis fotovoltaicos, muitos especialistas vislumbram a chamada CSP ("potência solar concentrada"), ou usinas heliotérmicas.

O princípio é simples: usando aparatos ópticos, como espelhos, a luz solar é concentrada numa pequena área, de forma a gerar vapor, o qual movimenta turbinas.

"O semiárido [no Nordeste] é uma região de excelente potencial heliotérmico ", diz Elton Rossini,da UFRGS.

O custo da energia solar ainda é proibitivo em todo o mundo, mas ela tem vantagens econômicas, como permitir que o usuário "doe" energia para o sistema em horários ociosos, sendo recompensado por isso mais tarde.

Na conta de Jerson Kelman, ex-presidente da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), gerar energia localmente em telhados de painéis solares já é economicamente viável. O problema, diz, é o modo atual de cobrança, que não distingue eletricidade produzida localmente daquela transmitida por grandes distâncias. "Governos estaduais poderiam mudar essa política míope", diz.


Longo prazo

O cenário futuro para a matriz energética do país fica mais nebuloso quando se considera o período posterior a 2030. Segundo Tolmasquim, a tendência é que quase todo o potencial hidrelétrico "aproveitável" do país já terá sido usado então. "Mesmo agora, há poucas áreas onde construir grandes reservatórios, em especial quando consideramos o custo socioambiental disso", diz.

Nivalde de Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ, considera uma vantagem, nesse cenário, o fato de o Brasil ter uma legislação ambiental rigorosa, ainda que isso implique uma batalha judicial cada vez que se projeta uma hidrelétrica.

Diante disso, Tolmasquim antevê algum aumento das termelétricas a gás natural. O uso dessa fonte fóssil para geração de energia pode ser atenuado com carros híbridos (dotados também de motor elétrico), que reduziriam emissões pela metade. "Carros movidos apenas a combustíveis fósseis devem desaparecer lá por 2030", diz.

Reinaldo José Lopes com colaboração de Rafael Garcia