Luiz Henrique Guimarães, da Cosan: time de alta performance
28-08-2020

Nos últimos quatro anos à frente da Raízen, joint venture entre Shell e Cosan, com atuação integrada em energia e distribuição de combustíveis, o executivo Luis Henrique Guimarães foi alçado ao comando da Cosan em 1º de abril de 2020 com a agenda cheia. E um desafio nada usual: assumir a gestão de um dos maiores conglomerados empresariais do país em plena quarentena, decretada diante do avanço da covid-19 no país, ao mesmo tempo em que o grupo colocava em marcha uma reorganização societária há tempos aguardada pelos investidores.

A própria pandemia, conta Guimarães, acabou ajudando na transição, já que foi necessário dedicar ainda mais tempo do que o normal ao contato com o conselho do grupo. Isso acabou conferindo velocidade à fase de adaptação. "Ainda não decidimos qual será a rotina pós-pandemia no escritório, mas gosto de equilíbrio. A palavra é ?´e?´, não ?´ou?´", afirma, indicando que o modelo de trabalho que ficará como herança da pandemia deve combinar períodos no escritório e "home office".

Eleito pela primeira vez Executivo de Valor, Guimarães foi reconhecido por sua atuação na Raízen, negócio que ajudou a estruturar no início dos anos 2010, e faz questão de partilhar o mérito com a equipe. "Acredito em times e na complementariedade das pessoas. Complexidades e desafios só são bem gerenciados em time", diz. Mas, desde abril, é presidente das três holdings da Cosan - Cosan S.A., Cosan Limited e Cosan Logística -, que serão "colapsadas" nos próximos meses, simplificando a estrutura societária do grupo, sob o guarda-chuva da S.A..

Como parte desta reorganização, empresas controladas que ainda não estão em bolsa, incluindo a própria Raízen, devem partir para a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). "O colapso é um desafio, mas que já vinha sendo trabalhado. Agora, chegou o momento de fazer, e com um time que joga junto há dez anos", afirma Guimarães, que também é conselheiro da Raízen, da Comgás e da Rumo.

Com uma carreira construída sobretudo na Shell, incluindo um longo período fora do Brasil, Guimarães integrou o time de transição que lançou a Raízen, maior produtora de açúcar e etanol e uma das maiores distribuidoras de combustíveis no país. Por dois anos, foi vice-presidente executivo comercial da empresa. "Voltei ao Brasil por causa do projeto da Raízen", conta.

Em 2016, acabou assumindo o comando da joint venture, vindo da presidência da Comgás, braço da Cosan de distribuição de gás liquefeito de petróleo (GLP). O período à frente da Comgás, o primeiro no topo da liderança, foi, nas palavras do executivo, excepcional e de grande transformação.

"Para ter um time de alta performance, é preciso ter capacidade de diferenciação entre os jogadores", diz Guimarães, ao explicar sua crença na meritocracia. Capacidade de execução e humildade também são valores presentes na cartilha do executivo, que nasceu e cresceu no Rio de Janeiro. "Não adianta ter uma boa ideia em mãos e não saber realizar. Valorizo pessoas que sabem executar", sustenta.

Formado em Estatística pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), escolheu o curso a partir de três princípios: era preciso estudar em uma escola gratuita, num curso noturno - que permitiria a ele surfar logo cedo e trabalhar antes do período das aulas - e que tivesse matemática como disciplina. "Estatística é muita matemática, mas com humanas", observa.

À frente da Cosan, avalia que será preciso olhar a agenda transversal e dar espaço para os líderes das outras empresas do grupo. São três grandes focos de atenção: gente forte no time, boas práticas socioambientais e de governança (o conhecido ESG) e digitalização.

Com cadeias de valor longas, os negócios do grupo tocam praticamente todos os segmentos da economia e, na percepção do executivo, haverá um processo de desintermediação nessas cadeias.

Fora dos muros e projetos da companhia, a reforma tributária é importante para o Brasil, diz Guimarães, mas o que realmente preocupa é a demora no avanço da reforma administrativa. A reinvenção do Estado brasileiro, acrescenta, deveria ser prioridade do governo.

Stella Fontes
Fonte: Valor Econômico
Texto extraído do boletim SCA