Megafusão entre Shell e BG pode ser prenúncio de corrida por petróleo
09-04-2015

A oferta de quase US$ 70 bilhões que a Royal Dutch Shell PLC fez pela britânica BG Group pode ser o tiro de largada para uma onda de acordos no setor de petróleo que analistas e executivos de bancos vinham prevendo desde que os preços do petróleo começaram a cair em junho.

“Isso pode marcar o início de uma período vertiginoso de fusões e aquisições, muito parecido com o que vimos no fim dos anos 90”, escreveu Augustin Eden, analista de pesquisa da Accendo Markets, em uma nota.

A BG, com um valor de mercado de cerca de US$ 46 bilhões, é provavelmente a maior das presas potenciais: pequenas e médias empresas de petróleo e gás que vêm sendo castigadas pelos preços reduzidos do petróleo, dizem analistas. A commodity perdeu mais da metade do valor ao longo dos últimos nove meses.

O próximo predador nessa caçada provavelmente será a maior rival da Shell, a Exxon Mobil Corp., mas não está claro quando ela deve atacar ou qual empresa estaria na sua mira. A Wood Mackenzie, consultoria da indústria petrolífera, estima que entre os alvos prováveis da Exxon estejam produtores de petróleo e gás de xisto nos Estados Unidos, empresas de gás natural liquefeito da África Oriental ou exploradores em mercados de fronteira.

“A maioria dos grandes participantes do setor [...] está ponderando aquisições oportunistas, mas poucos têm os meios ou o apetite para acordos que sequer se aproximem à escala deste” [da Shell], afirmou a Wood Mackenzie, em uma nota. “Não espere uma onda de consolidação ao estilo dos anos 90.”

A aquisição da BG pela Shell, que deve ser concluída em 2016, seria a maior já fechada no setor desde a megafusão de US$ 82 bilhões que criou a Exxon Mobil, em 1998, um dos vários acordos de porte que mudaram a face da indústria do petróleo após o colapso dos preços no fim dos anos 90. Entre outras fusões feitas na época estão a da BP com a Amoco Corp. e a ARCO e a da Chevron Corp. com a Texaco.

Agora, petrolíferas europeias estariam prontas para aquisições, afirmou em nota o Tudor, Pickering, Holt & Co., banco de investimento do setor de energia.

No início de 2015, várias empresas americanas de petróleo pareciam vulneráveis em meio à queda dos preços da commodity, dívidas muito altas, e os custos elevados de perfuração e produção. Mas o banco de investimento Simmons & Co. International estima que é improvável que uma grande onda de aquisições esteja prestes a ocorrer na América do Norte, onde os produtores de petróleo de xisto têm um conjunto de pontos fortes e fracos que diverge de outros produtores em todo o mundo.

A diferença entre a soma que os compradores estariam dispostos a pagar e a que os alvos de aquisição aceitariam nos EUA ainda é muito grande, especialmente porque algumas empresas americanas de exploração e produção baseiam seus negócios no petróleo a um preço de pelo menos US$ 70 por barril, apesar de ele ter sido negociado por menos de US $ 55 o barril nas últimas semanas.

O diretor-presidente da Exxon Mobil, Rex Tillerson, já indicou que sua empresa também está estudando potenciais negócios. “Não há dúvida que temos algumas boas oportunidades agora”, disse ele a analistas em março.

A última grande aquisição da ExxonMobil foi a compra da XTO Energy Inc. por US$ 25 bilhões em 2010. As maiores petrolíferas de capital aberto do mundo, lideradas pela Exxon Mobil, Total SA, Chevron e BP, emitiram uma quantidade recorde de dívida no primeiro trimestre deste ano, de olho em potenciais aquisições, de acordo com o Morgan Stanley.

Essas empresas têm lidado um pouco melhor com os preços baixos do que as rivais europeias de menor porte graças aos balanços sólidos e seus portfólios diversificados. Mas elas também estão enfrentando questões de longo prazo, à medida que sofrem para encontrar alternativas ao petróleo que produzem em regiões cada vez mais caras e tecnicamente desafiadoras.

A Shell tem se saído particularmente mal nesse aspecto, substituindo apenas 26% do petróleo bombeado no ano passado. A expectativa é que a aquisição da BG impulsione sua produção de petróleo e gás em 20% e suas reservas comprovadas em 25%.

“A compra da BG Group pela Shell é um prenúncio de uma disputa entre as grandes empresas”, diz Pascal Menges, gerente do fundo de energia Lombard Odier Global. Depois de gastar enormes somas com produção petrolífera de alto custo, como em areias betuminosas e campos no Ártico, as empresas estão mal equipadas para lidar com preços baixos e precisam melhorar a qualidade de seus portfólios, diz.

Analistas dizem que a próxima onda de fusões pode parecer com as que foram feitas pouco antes da aquisição da BG pela Shell. A espanhola Repsol SA, por exemplo, anunciou a compra da Talisman Energy Inc. em dezembro e a fusão planejada de US$ 34,6 bilhões entre as prestadoras de serviços no setorHalliburton Co. e Baker Hughes Inc. aguarda aprovação dos reguladores.

A volatilidade dos preços do petróleo tem tornado difícil a aproximação entre potenciais compradores e vendedores, e a cautela e incerteza resultante podem tornar mais lento qualquer acordo. A compra da BG pela Shell, que dá à cotação da ação da empresa britânica um prêmio de 50% sobre o preço de fechamento na terça-feira, baseia-se numa previsão de que o barril se recupere para US$ 90 até 2018.

Outras razões que podem impedir que negócios se concretizem são os “efeitos fiscais enormemente negativos [...] e cortes de custos e sinergias limitados”, estimou o Jefferies em uma nota.

“Há uma grande chance de que a Shell olhe para trás daqui dois ou três anos, se o preço do petróleo subir, e possa parecer um golpe de mestre estratégico”, diz Matthew Beesley, diretor da divisão de ações globais da Henderson Global Investors. “Mas isso depende de o preço do petróleo se recuperar”, acrescenta.