Mercado de etanol e sua potência
07-12-2015

No final do ano, os olhos do mundo estarão voltados para a COP21, a Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, que acontecerá na França. O evento prevê fechar um novo acordo para diminuir a emissão de gases de efeito estufa e, consequentemente, limitar o aumento da temperatura global em 2 ºC até 2100.

Nesse sentido, uma das principais medidas anunciadas pelo governo brasileiro é incrementar a participação de bioenergia para cerca de 16%, elevando o consumo de biocombustíveis. O governo brasileiro está atento à necessidade de investir no etanol e já colocou em prática algumas medidas que beneficiam o setor, como o retorno da Cide e o aumento da mistura do anidro na gasolina, que passou de 25% para 27%.

Nesse contexto, podemos afirmar que o mercado está propício para o etanol, mas será que as empresas estão preparadas para esse crescimento? Até o final de 2015, a participação do biocombustível deve alcançar 42%, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Hoje, um dos grandes desafios do setor é manter o estímulo aos produtores. Atualmente, em razão da crise econômica, algumas empresas reduziram os investimentos, o que traz consequências diretas a toda a cadeia, responsável por importante parte do processo produtivo do biocombustível, a plantação.

Trata-se de uma questão vital para a sustentabilidade do setor e para a qual o governo deve se atentar. As empresas também estão cientes da parcela de responsabilidade nesse trabalho e, por isso, algumas companhias vêm trabalhando para que os fornecedores de cana tenham acesso às mesmas oportunidades que as grandes produtoras. Um exemplo disso é o Programa Cultivar, liderado pela Raízen.

Há dois anos, a companhia criou o projeto, considerado pioneiro no setor, que visa ao compartilhamento de técnicas agronômicas com parceiros - por meio de palestras, treinamentos em campo, redução de custos na compra de insumos, equipamentos e na obtenção de linhas de crédito. Atualmente, esse grupo contempla 286 fornecedores, o que representa 74% da produção de cana comprada pela companhia. O trabalho reforça o bom relacionamento e o investimento em fornecedores independentes, o que garante a competitividade do processo de produção e suprimento de matéria-prima para as indústrias, fator determinante para o sucesso do setor.

Para que o segmento mantenha um crescimento sustentável, há muito investimento em pesquisa, tanto na área industrial como na agrícola. A aposta mais promissora é o etanol de segunda geração, que permite o aumento de até 50% da produção na mesma área plantada. Gerado a partir do processamento do bagaço, folhas e palha da cana-de-açúcar, o biocombustível é um marco no setor e vai favorecer as próximas gerações e a competitividade do Brasil no longo prazo.

O etanol produzido com esse processo é idêntico ao etanol de primeira geração, portanto não há nenhuma limitação no uso como combustível ou matéria-prima industrial. Além disso, por se tratar de um combustível "avançado", é possível encontrar nichos de mercado com preços mais atraentes. Com o produto, o País se tornará referência em sustentabilidade e energias renováveis no mundo.

Outro exemplo que traz benefícios ao setor é o plantio da cana-de-açúcar por meio da utilização da tecnologia GPS. O serviço possibilita o aumento do número de ruas plantadas por hectare e diminui as curvas de nível, tendo como resultado a disponibilização de uma área útil maior. Esse novo projeto viabiliza a diminuição do custo de corte mecanizado ao aumentar a produtividade das colhedoras, em função do melhor planejamento do terreno e da diminuição de áreas de manobras, o que também pode reduzir as perdas e o pisoteio do canavial - fatores que impactam diretamente a produtividade.

Presente no nosso dia a dia desde 1975, o etanol é um importante insumo que pode auxiliar o Brasil a crescer. Temos como desafio fazer com que o combustível se mantenha competitivo em larga escala. É necessário manter um planejamento de crescimento sólido, com incentivo do governo e investimentos das empresas, para que o setor siga evoluindo e que o produto assuma seu lugar de destaque no cenário econômico brasileiro.

Pedro Mizutani

Vice-presidente de etanol, açúcar e bioenergia da Raíze