Metas ambientais estão alinhadas com setor energético, avaliam debatedores
01-11-2019

 

Os planos de expansão do setor de energia no Brasil estão alinhados com os compromissos assumidos pelo país para implantação do acordo de redução do aquecimento global, avaliaram nesta quarta-feira (30) representantes do setor energético em audiência pública na Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas (CMMC), que teve como tema os biocombustíveis e a matriz elétrica nacional.

O Brasil assumiu perante a Organização das Nações Unidas (ONU) o compromisso de promover uma redução das suas emissões de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis de 2005, em 2025. Além disso, indicou uma contribuição indicativa subsequente de redução de 43% abaixo dos níveis de emissão de 2005, em 2030.

Representante do Ministério de Minas e Energia, Luís Fernando Badanhan disse que o país projeta para 2027 uma queda no uso dos derivados de petróleo e o aumento das fontes renováveis na matriz energética, com o uso de energia solar e eólica, biogás, gás industrial e os derivados da cana-de-açúcar, as quais atingirão quase 20% da matriz.

— Em termos de combustíveis fósseis, temos no Brasil hoje 55,4%, que cairia para 50,6% em 2027. A gente tem uma posição favorável na questão energética em relação ao mundo. O Brasil tem hoje 43% de renováveis. Na matriz elétrica os números são melhores. Do ponto de vista de renováveis, destaque para a eólica, que subiria para 11,7% da matriz, em 2027, queda do óleo e carvão, e aumento da energia solar em 3,4% — afirmou.

Etanol

Representante da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Ludmilla Cabral disse que a matriz energética do Brasil é um exemplo para o mundo de energia renovável. Segundo ela, o aumento de combustíveis renováveis na matriz torna-se fundamental para a consecução das metas do Acordo de Paris, com a expansão da bioletricidade e o aumento do volume de etanol nos carros.

— Nossa matriz é renovável e tem a perspectiva de se tornar cada vez mais. O ciclo de vida do etanol conseguir reduzir em até 90% das emissões de gases de estufa, absorvidos pela plantação, em comparação aos combustíveis fosseis. Desde 2015, quando o Acordo de Paris foi celebrado, até agosto deste ano reduzimos 240 milhões de toneladas de dióxido de carbono pelo uso do etanol como biocombustível. A colheita mecanizada no Centro-sul, que extingue a queima da cana, também contribuiu, além da bioletricidade fornecida pelo setor à rede — afirmou.

 

Eletrificação

Representante da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Henry Joseph Júnior disse que a indústria automobilística já trabalha em linha com as tecnologias a serem adotadas em 2025. Em sua avaliação, um dos caminhos para o alcance das metas apresentadas pelo Brasil seria a eletrificação em médio e longo prazo.

— Pensar na renovação da frota e na mudança do veículo que temos no mercado brasileiro é uma opção de maior custo, devido à introdução de um novo modelo de motorização e alteração em toda a cadeia produtiva. Temos a questão das baterias, ainda razoavelmente complicada. A tecnologia teria que ser importada, não temos esse conhecimento estabelecido no mercado, e tem a questão da infraestrutura a ser criada. O Brasil não é um país fácil do ponto de vista do estabelecimento de infraestrutura. E há o desafio ambiental com o descarte das baterias — afirmou.

Outro caminho, disse o representante da Anfavea, seria a intensificação do uso dos biocombustíveis, sobretudo o etanol e o biodiesel.

— Em curto prazo, seria a opção de menor custo, com infraestrutura já estabelecida, temos o domínio da fabricação do veículo híbrido flex, e utilizaríamos as potencialidades do país — afirmou.

Políticas falhas

Representante do Instituto Clima e Sociedade, Roberto Kishinami apontou a falta de políticas energéticas associadas a questões sociais, principalmente no que se refere à energia hidrelétrica.

— A oferta de energia renovável é colocada como alguma coisa antagônica em relação a populações diversas. O aparecimento do petróleo no Brasil é tardio, quando o mundo já discute a sua substituição. Gastamos cada vez mais energia para produzir o mesmo dólar. Em todos os países concorrentes esse número tem caído — afirmou.

Kishinami destacou que todos os países do mundo fazem um "esforço brutal" para produzir mais com menos energia, ao contrário do Brasil, que tem apresentado trajetória inversa.

— Os equipamentos que temos para uso doméstico, se comparados ao que existe em lugares avançados, são muito piores, gastam mais energia para produzir o mesmo resultado. Isso tem a ver com proteção a equipamentos ruins que causam prejuízos ao país inteiro — lamentou.

Energia solar

Representante da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) Rodrigo Lopes Sauaia disse que energia fotovoltaica tem avançado exponencialmente, e que 93% dos brasileiros querem gerar energia limpa e renovável em suas empresas e domicílios.

— A tecnologia está acelerando sua implantação no mundo graças à redução do preço da energia solar fotovoltaica, que agora se torna acessível à sociedade. Apesar disso, o Brasil não é uma liderança solar, está atrasado no uso da tecnologia, no vigésimo primeiro lugar no ranking. Ainda estamos começando em relação a países que não têm recurso solar, como Japão e Reino Unido — afirmou.

Sauaia ressaltou que a geração distribuída de energia no Brasil ainda não conta com um marco legal, o que traria segurança jurídica para o mercado, o consumidor e o investidor.

Fonte: Agência Senado