Mulheres na tecnologia: demanda por profissionais do segmento é oportunidade para qualificar e ampliar participação
01-05-2023

O mercado de TI no Brasil deve crescer 23% em 2023, segundo relatório da Advance Consulting.

Por Ana Serafim*

Mas será que esse movimento será acompanhado por um aumento da presença da mulher? Embora a participação feminina nesse segmento tenha crescido 60%, entre 2014 e 2019, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), mulheres são apenas 20% da força de trabalho em um setor que está na base de qualquer empresa de grande porte, do campo à indústria. O momento é propício para refletirmos sobre como esse cenário pode ser transformado.

Mais do que nunca, precisamos consolidar no setor de TI uma agenda voltada para a equidade de gênero, uma demanda universal que é parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Para além do horizonte ético, é importante lembrarmos que a promoção da diversidade nas organizações é uma questão de competitividade. Em 2015, um estudo da consultoria McKinsey, envolvendo mil empresas em 12 países, apontou a promoção da diversidade dentro das organizações como uma “alavanca de performance”.

Esse estudo comprovou que equipes diversas produzem soluções inovadoras, criam ambientes mais favoráveis a tomadas de decisões e facilitam o desenvolvimento de novas habilidades e conhecimentos. Tudo isso contribui positivamente para a lucratividade e a geração de valor. Muitas organizações que apostaram nisso como diferencial competitivo já colhem bons resultados, e inspiram outras companhias a seguir esse caminho. A cada ano vejo mais empresas aqui no Brasil assumindo compromissos públicos para promoção da diversidade, com metas claras de equidade de gênero.

Para suprir essa demanda, observo a expansão de programas específicos para formação de mulheres para TI, o que contribuiu para aumentar a oferta de talentos. Parte dessas iniciativas incentivam mentorias, abordam competências e habilidades interpessoais para que mulheres se adaptem e sigam atuando na área. Atentas ao risco de escassez de profissionais em um segmento que se mantém aquecido, na contramão do cenário econômico, já existem startups dedicadas a formar mulheres em profissões de TI e habilitá-las para atuarem em grandes empresas. Posso citar como exemplo: a peruana Laboratória, que atua na formação de mulheres latino-americanas, dedicada ao ensino de programação. Assim, como outras iniciativas, como a PrograMaria, que promove conteúdo, eventos e mentorias para mulheres das áreas de tecnologias.

O desafio com a falta de profissionais de tecnologia não é algo novo, até 2024, no entanto, a área de tecnologia vai requerer uma demanda média de 70 mil pessoas por ano, dado recorde, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). E o abandono das funções em tecnologia por mulheres é 45% superior ao de homens, sendo boa parte dos fatores causais a desigualdade salarial, cultura não inclusiva e dupla jornada, uma realidade muito presente no mercado de trabalho nacional. Portanto, driblar esse desafio da falta de profissionais exige diversas soluções.

Somadas às ações de formação, é preciso desenvolver e fortalecer hábitos, condutas e comportamentos inclusivos e acolhedores. Assim, temos uma excelente oportunidade de criar, desenvolver e fortalecer uma cultura em que a prevalência seja de um ambiente diverso, mas que entenda as diferentes realidades e demandas que o público feminino enfrenta. É preciso, também, incentivar a liderança feminina e inspirar outras mulheres. Na intenção de acelerar o cenário de equidade de gênero no setor, não podemos esperar que o movimento aconteça organicamente. Se faz necessário criar políticas e condições para que mulheres ocupem o espaço de liderança e de influência nas tomadas de decisão das companhias.

Uma vez que grandes motivos da desistência feminina na área de tecnologia é a falta de referências ocupando posições de liderança, quando se há um time diverso – não restrito apenas a gênero, mas sim na sua amplitude do significado –, o caminho para novos talentos flui com mais facilidade. Esses são alguns dos passos que precisamos dar em direção à equidade no setor.

É evidente que estamos em uma jornada de aprendizagem, existe demanda para bons profissionais e as empresas precisam de quem está chegando. Além de agregar mais talentos na tecnologia, atualmente reconhecemos que o setor está empenhado em promover diversidade. Apenas com respeito às suas individualidades, origens e histórias de vida conseguiremos suprir todas as demandas do mercado de trabalho e, sobretudo, dos profissionais que estão chegando no setor.

Ana Serafim é gerente de tecnologia da Raízen. Engenheira agrônoma formada pela Unesp, tem MBA em Gestão Empresarial na Fundação Getúlio Vargas. Atua em gestão de times de tecnologia há mais de 10 anos, tendo liderado times de sistemas e soluções de TI, principalmente para os setores agrícola, indústria, logística, lubrificantes, comercial e energia.