Nas pesquisas com cana-de-açúcar, um olhar feminino faz muita diferença
10-04-2015

Ela já pesquisou maracujá, feijão, mas se apaixonou mesmo pela complexidade genética de uma gramínea chamada cana-de-açúcar. Quando Monalisa Sampaio Carneiro entrou na faculdade de engenharia agronômica, na Universidade Federal da Bahia, no início dos anos de 1990, conhecia pouco sobre essa planta. Afinal, o estado baiano não é tradicional na produção canavieira. 

Esta baiana, natural de Feira de Santana, cidade situada a 116 km de Salvador, concluiu na sequência a graduação, o mestrado, o doutorado. E quis o destino colocar a cana-de-açúcar no seu caminho. Ela tinha morado no Estado de São Paulo quando fez o doutorado na Esalq (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”), em Piracicaba, onde se aproximou da cultura canavieira. Mal sabia ela que aquela planta que pouco conhecia passaria a ser, no futuro, uma companheira do dia a dia. Passou em um concurso na Universidade Federal de São Carlos, SP, em 2006. Amante de novos desafios, Monalisa tinha pela frente que desvendar as peculiaridades da cana-de-açúcar. Foi quando passou a conhecer melhor a cana-planta, tanto do ponto de vista do setor produtivo, das dificuldades, das práticas de melhoramento.
Tornou-se pesquisadora do Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-Açúcar (PMGCA) da Universidade Federal de São Carlos, passando a integrar o time da RIDESA (Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético), com sede no campus de Araras, SP.
“Optar por estudar cana-de-açúcar é desafio e quase uma religião, porque tem que realmente acreditar, ter fé. Além disso, requer muito trabalho, senão de fato não se sai do lugar. O que me fez escolher é que estou em um centro de excelência de geração de variedades. A RIDESA é responsável por 68% de área de cana no Centro-Sul e a UFSCar é uma referência dentro da Rede”, relata.
E o olhar feminino faz toda diferença na condução de pesquisas de melhoramento de cana. Segundo Monalisa, a mulher tem muitas características favoráveis para trabalhar com sucesso no laboratório. “Ela é mais persistente. Se realmente o experimento não deu certo, ela vai repetir, inclusive buscando caminhos alternativos. Isso é característica feminina. Mulher se sente desafiada. Outra característica é que é mais meticulosa, cuidadosa, presta mais atenção. O terceiro é a percepção. Tem detalhes, por exemplo, que os meninos não perceberiam e as meninas percebem.”
Além disso, segundo ela, cada vez mais as mulheres têm agregado uma característica importante, que é mais afeita ao gênero masculino: “os homens têm mais foco e agressividade para chegar em um ponto. Gastam muita energia para chegar naquele objetivo. Já a mulher, às vezes, perde um pouco o foco e essa energia também se dissipa, o que está mudando. As mulheres que se dedicam à pesquisa sabem quais são seus objetivos e como chegar a eles.”
Na condução de suas pesquisas com cana-de-açúcar, ela tem algumas metas claras. “Estamos em uma universidade e não podemos perder o foco em uma meta primária, que é formar recursos humanos, que o próprio setor absorve posteriormente.” Aliás, na sala de aula, o estilo carismático de Monalisa faz sucesso. Desde que sua primeira turma de alunos concluiu o curso, em 2010, sempre é convidada para paraninfa ou patrona. Todos querem que a Monalisa esteja lá no palco, falando pelo menos por dez minutos. Certamente, com toda essa credibilidade, tem conseguido angariar novos apaixonados pelo melhoramento genético da cana.
Outro grande objetivo profissional de Monalisa é tornar o uso de marcadores genéticos – moleculares – como uma rotina dentro de um programa de melhoramento, para que, de fato, se possa fazer o que se chama de seleção genômica. “Ou seja, ao invés de passar muito tempo selecionando a campo, que também se possa selecionar em algumas fases no laboratório. Teoricamente, isso vai reduzir custos. Experimentos em campo são muito caros, um programa de melhoramento é muito caro. Quando essas análises moleculares entrarem em rotina, acredito que os custos serão menores e com eficiência maior.”

TRANSGENIA EM CANA - Mas quando toda complexidade desta planta será desvendada e se chegará à tão desejada cana transgênica? “Quando os pesquisadores chegarem lá, será uma variedade de cana transgênica com uma característica modificada geneticamente. Vai ser variedade já conhecida pelo produtor, possivelmente, e que deverá ter uma característica de tolerância ao estresse, que chamamos de estresse biótico e abiótico. Isto talvez seja um cenário para cinco a dez anos das pesquisas com transgenia em cana.”
De qualquer forma, ela explica que a contribuição da transgenia em cana tem que ser esperada com cautela. “Se olharmos as demandas da safra, hoje o produtor de cana precisaria de um leque de variedades que atenda às diferentes necessidades de safra e de determinado local de plantio. Mas o setor está tão no afã de que essa tecnologia venha suprir todas essas demandas, mas não tenho esperança que isso aconteça num só momento.”
Segundo Monalisa, a contribuição da cana transgênica será mais pontual. Será uma variedade para resolver um problema em dado aspecto de produção. E a contribuição de vários órgãos de pesquisa para este objetivo, privados e públicos, é muito importante, até pra que o objetivo seja alcançado o mais rápido possível.

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