Novas variedades de cana do IAC podem revolucionar agronegócio
28-04-2022

Com alto teor de sacarose e produtividade, podem ser plantadas em várias regiões

Edimarcio A. Monteiro

Pesquisadores trabalham em novos projetos no Centro Avançado de Pesquisa e Desenvolvimento de Cana do Instituto Agronômico de Campinas, localizado na região de Ribeirão Preto (IAC/Ribeirão Preto)

O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) desenvolveu cinco novas variedades de cana-de-açúcar com características físicas que beneficiam a colheita mecanizada, prometem elevada produtividade ao longo dos cortes, alto teor de sacarose e são destinadas ao plantio em várias regiões do País. Uma delas, IACCTC07-7207, pode ser plantada em todas as áreas canavieiras do Brasil, mas principalmente no Estado de Paulo, responsável por 50% de toda a produção na região Centro-Sul, que responde por 90% da cana produzida no País.

De acordo com o coordenador do Programa Cana IAC e diretor-geral do Instituto, Marcos Guimarães de Andrade Landell, essa variedade tem potencial para “revolucionar o setor” por apresentar produtividade 20% superior à RB867515, lançada no final dos anos 1990, a mais usada hoje pelo setor sucroenergético paulista.

A produção de açúcar e etanol é a quarta principal atividade do agronegócio brasileiro, repondendo por cerca de 10% de todas as exportações nacionais e movimentando US$ 10 bilhões por ano (R$ 50 bilhões).

As novas variedades estão sendo apresentadas na Agrishow, considerada a segunda maior feira de tecnologia agrícola do mundo, que começou na segunda-feira e vai até sexta-feira, em Ribeirão Preto (SP). Elas foram obtidas a partir de melhoramento genético desenvolvido pelo IAC, órgão da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento.

Características

As novas variedades começarão a ser comercializadas no segundo semestre deste ano por viveiristas parceiros do Instituto Agronômico. As plantas apresentam características semelhantes, mas se adaptam melhor a determinadas regiões, levando-se em consideração fatores como clima, volume de chuva e tipo de solo.

A variedade 7207, por exemplo, “apresenta elevada produção agrícola em diversos cortes em função da elevadíssima população de colmos (como são chamados os caules com gomos), aliada a um diâmetro médio”, ressalta Landell. De acordo com o pesquisador, essa variedade produz até 110 mil colmos por hectare, contra 50 mil da variedade 7515. 

A maior produtividade também pode resultar na redução dos custos de manejo. A maior concentração de plantas, explica o diretor-geral do IAC, reduz o uso de adubos. Além disso, as folhas fecham mais rapidamente, causando sombras que evitam o surgimento de plantas daninhas e diminuem a necessidade de herbicidas. “Essa característica de fechar bem resulta numa espécie de guarda-chuva foliar, que protege a planta ao combater as ervas daninhas”, explica Marcos Landell.

A planta também tem porte ereto, o que favorece a colheita mecânica e reduz as impurezas vegetais. De acordo com o pesquisador, os ganhos do setor sucroenergético dependerão da adesão dos agricultores ao uso das novas variedades. O IAC está, no momento, fazendo a divulgação das variedades durante participação em vários eventos, como feiras e palestras.

Resultados

As novas variedades de cana-de-açúcar se juntam a outras três lançadas pelo Instituto Agronômico de Campinas no final do ano passado. Uma delas é a IACCTC05-9561, que já está sendo plantada em São Paulo, Paraná e em uma região considerada desafiadora, o cerrado brasileiro. No Norte de Goiás, o plantio é realizado na usina do Grupo Jalles Machado. 

O diretor de pesquisa da empresa, Waldemir Queiroz, elogia a nova planta. “Sua produtividade inicial é em torno de 120 toneladas por hectare”, diz, o que é média superior a obtida com outras variedades. De acordo com o Programa Cana IAC, durante as pesquisas de desenvolvimento, a 9561 apresentou crescimento inicial rápido e boa produtividade ao longo dos ciclos de produção.

CINCO NOVAS VARIEDADES DE CANA-DE-AÇÚCAR

IACSP02-1064: rápido desenvolvimento inicial, tem se destacado em todos os períodos de safra, com utilização industrial bastante longa. Tem excelente estabilidade em praticamente todas as regiões canavieiras do Brasil, além de bom teor de sacarose no início de safra e vigor ao longo dos cortes.

IACCTC05-5579: indicada para regiões como Goiás, Norte e Oeste paulistas. Tem excelente performance, com elevada população de colmos e longevidade de produtividade ao longo dos cortes. É muito adaptada ao plantio mecânico.

IACCTC06-5732: bom teor de sacarose no início de safra e alta população de colmos, com grande longevidade. Adaptada ao plantio mecânico, tem hábito ereto de crescimento que favorece a colheita mecânica.

IACCTC07-7207: apresenta elevada produção agrícola em diversos cortes em função da alta população de colmos e do diâmetro médio. O porte muito ereto favorece a colheita mecânica e reduz impurezas vegetais.

IACCTC08-9052: alto vigor ao longo dos cortes e elevada produtividade. Intensa adaptação ao plantio mecânico, porte semiereto e boa população de colmos.

 Fonte: Correio Popular