O impacto do clima sobre a safra sucroenergética
24-06-2014

Clivonei Roberto

O transcorrer da safra 2014/15 de cana-de-açúcar está tirando o sono de gestores de usinas e produtores de cana-de-açúcar. “É um ciclo difícil”, sublinha Plínio Nastari, presidente da Datagro Consultoria. E as condições climáticas têm forte influência sobre o desempenho conturbado da safra.
Mas essas dificuldades começaram antes das colhedoras começaram a operar na temporada 2014/15, ainda no último verão, marcado por uma estiagem acentuada e por temperaturas altas. “Em algumas microrregiões canavieiras choveu menos do que o normal de outubro a março, já em outras choveu abaixo do normal de dezembro a março. Houve uma ligeira recuperação em abril, mas em maio novamente uma precipitação abaixo do normal”, relata Nastari.
Além do clima seco e da baixa precipitação, que prejudicou o desenvolvimento da planta, soma-se outras questões que contribuem para prejudicar os canaviais, como maior infestação de mato, aumento da quantidade de impurezas que vai do campo para a indústria, o que impacta no rendimento industrial etc.
Diferente de algumas regiões canavieiras do Centro-Oeste, como Goiás, que foram beneficiadas por bom regime pluviométrico, a cana-de-açúcar em São Paulo – maior Estado produtor do país – foi muito castigada.
VERÃO PRA SE ESQUECER -
Se no último verão, a seca castigou principalmente o Estado de São Paulo e o Triângulo Mineiro – o que afetou muito o desenvolvimento dos canaviais -, a estiagem do mês de maio afetou praticamente todas as regiões canavieiras do Centro-Sul.
“Durante a entressafra, São Paulo e o Triângulo Mineiro tiveram falta de chuva para o desenvolvimento fisiológico, mas esse problema não ocorreu no Sul de Goiás, que foi beneficiado por chuvas.”
Em meados de junho, Nastari afirmou para CanaOnline que ainda não há previsão de geada nas regiões canavieiras do Centro-Sul, o que certamente traria grandes prejuízos aos canaviais. “No entanto, existe a estimativa dos meteorologistas de que teremos o efeito El Niño afetando parte do Brasil, mas nesse momento se prevê que esse fenômeno seja moderado.” Segundo ele, aparentemente, as chuvas registradas nas últimas semanas no Sul do País já são um indicador do El Niño, mas ainda essas chuvas não chegaram a São Paulo e o Triângulo Mineiro.
Será que o El Niño vai se confirmar, trazendo chuvas para as regiões canavieiras? Se o fenômeno acontecer, as haverá precipitação pluviométrica. De qualquer forma, Nastari destaca que os canaviais precisam de alguma chuva. “Elas são necessárias para que a soqueira se desenvolva. Precisa ter alguma umidade para ter desenvolvimento da cana soca.” Por isso, seja por El Niño ou não, nenhuma chuva não é bom para os canaviais, mas Nastari avisa: assim como alguma chuva é fundamental para a cultura, o excesso traria problemas ao setor. “O ideal é que houvesse precipitação normal. Mas se vier chuva como aconteceu no Paraná, seria demais.”
Segundo Nastari, chuvas advindas do El Niño não podem compensar o impacto causado pela estiagem. “Podem sim provocar o comprometimento no aproveitamento das usinas, mas alguma chuva é bem vinda para ajudar a favorecer a brotação da cana soca.” O presidente da Datagro relata que, nos meses de inverno, precipitação normal varia entre 40 e 60 mm em cada mês. “Se ficar nesses níveis, adequado para o canavial. Se ultrapassar, vira preocupação.”
Além disso, ele destaca que outra questão não é apenas o volume das chuvas, mas também se é bem distribuída ao longo do mês. “Não adianta chover muito em um ou dois dias, o ideal é que a chuva esteja distribuída.”