O mercado de proteção de cultivos: desafios e oportunidades no Brasil
19-12-2016

Registro dos produtos é também um desafio para os players desse setor

Lara Moraes1 e Luiz Albino Barbosa2

Neste ano de 2016, um dos setores do agronegócio que permaneceu em destaque foi o de proteção de cultivos, em função das movimentações dos principais players globais que, por meio de fusões e aquisições, iniciaram um processo de consolidação e mudaram o cenário desse segmento. O Brasil por ser um país de imenso potencial agrícola e um grande consumidor dos produtos relacionados a proteção de cultivos com certeza será impactado. Nesse contexto, é interessante ter em mente os grandes números e as principais questões desse setor no país para entender os desafios e oportunidades que empresas desse segmento encontram ao operar no mercado brasileiro.

US$ 9,6 bilhões foi o valor que as vendas de defensivos originaram para o Brasil em 2015, uma queda de 21,3% quando comparado com o faturamento do segmento no ano anterior, segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Vegetal (Sindiveg). Esse número nos mostra questões importantes do setor, como a grande dependência do segmento com relação à disponibilidade de crédito, uma vez que os produtores não conseguiram manter as suas compras de insumos em 2015, dado a escassez de crédito na economia brasileira.

Diante dessa situação, as empresas de defensivos têm assumido cada vez mais a responsabilidade de financiar os produtores, por meio das operações de barter ou com prazos alongados para o pagamento de insumos. Isso representa um grande investimento por parte das empresas, que devem se preocupar com análises de riscos e captação de recursos para esse fim.

Outro número para se ter em mente, que também foi divulgado pelo Sindiveg, é o volume de defensivos importados que atingiu 393 mil toneladas em 2015, 44% do total vendido no país. Além disso, 80% dos insumos utilizados para a produção de defensivos dentro do Brasil provém de outros países. Esses dados são a comprovação de que o Brasil é altamente dependente da importação de defensivos e oscilações nas taxas de câmbio refletem em grandes conturbações para as empresas do segmento, que devem estar atentas às operações de hedge cambial para minimizar esses riscos.

Registro dos produtos é também um desafio para os players desse setor. A legislação brasileira é rigorosa e está em linha com as exigências internacionais, porém, em função da grande demanda, as agências reguladoras demoram em torno de seis anos para emitir o certificado de registro de um defensivo. O principal problema é que as empresas demoram muito para tere retorno do investimento em um novo produto. Infelizmente as empresa não conseguem mudar essa situação, mas é imprescindível que elas tenham uma área de registro de produtos com especialistas conhecedores da legislação, para que a preparação da documentação seja realizada de forma correta, reduzindo as intercorrências ao longo do processo.

Por fim, um último tema do setor é a importância das agrorevendas na comercialização dos defensivos. As agrorevendas são um dos principais canais de comunicação com os produtores e exercem um importante papel na cadeia de insumos agrícolas. O bom relacionamento com as agrorevendas e até mesmo auxilio para que elas consigam se profissionalizar, ter controles e serem sustentáveis nos seus negócios são temas que devem estar na agenda da empresas de proteção de cultivos. Investir nas agrorevendas é o mesmo que investir na estratégia de vendas, distribuição de produtos e fidelização de clientes.

Fica evidente que existem no Brasil alguns desafios que precisam ser administrados pelas empresas de proteção de cultivos. No entanto, com certeza, os desafios não são obstáculos para apostar no mercado brasileiro, diante de tantas oportunidades oferecidas pelo nosso país.
O Brasil é líder mundial na produção de várias commodities agropecuárias e tem disponibilidade de área para aumentar ainda mais a produção. Adicionalmente, o clima no Brasil estimula a multiplicação mais acelerada de pragas e doenças, o que aumenta ainda mais a demanda por defensivos. Por fim, existe uma necessidade de aumento de produtividade no campo por meio da utilização de insumos e tecnologias adequadas e, a cada dia, o produtor brasileiro tem maior consciência sobre isso.

Portanto, não há dúvidas, o cenário é promissor para as empresas de proteção de cultivos no Brasil, basta apenas dar atenção e traçar um forte planejamento, com foco na estratégia de minimização de riscos ao longo dos processos de produção, importação, registro e venda. Os desafios devem ser encarados com clareza e fazer parte da agenda estratégica das empresas do setor. Esse é um dos caminhos para operar de forma eficiente no Brasil e desfrutar das grandes oportunidades oferecidas pelo potencial agrícola do país.

1Especialista em Agribusiness da PwC Brasil.2Gerente de Agribusiness da PwC Brasil.

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