O preço do risco
03-10-2016

Por Arnaldo Luiz Corrêa

Com a expiração do contrato futuro de açúcar em NY com vencimento para outubro/2016, nesta sexta-feira, 750.000 toneladas foram entregues. Diria que a entrega foi um evento sem importância. Única observação é que a mesma trading que recebeu açúcar na bolsa, em substancial volume, nos últimos cinco ou seis vencimentos, foi a que mais entregou nesta expiração. Não vejo que alguém possa perceber essa entrega por parte da trading como um fator baixista especialmente porque, com a parceria que eles possuem com um grande grupo produtor, a entrega pode ser apenas uma acomodação que atenda às necessidades comerciais de ambas as partes.
O vencimento outubro encerrou negociado a 22.53 centavos de dólar por libra-peso, 40 pontos de alta em relação à semana anterior. A fixação de preço com base no fechamento desta sexta-feira e usando a taxa do dólar do Banco Central, aponta para R$ 1.683 por tonelada FOB, um valor bastante elevado. O vencimento março/2017, que agora passa a ser o primeiro mês de negociação, apreciou 23 pontos. Todos os demais meses fecharam praticamente inalterados com pequena oscilação de 5 pontos para cima até 9 pontos de queda.
“Ah, se eu tivesse esperado um pouco”, reclama o trader de uma usina por já ter fixado boa parte de sua exportação. Não vale a pena olhar o mercado pelo retrovisor. Nenhum trader vai acertar o olho da mosca voando. Importante é fixar bons preços quando surgem as oportunidades, construindo assim, disciplinarmente, uma média bastante remuneradora. Mais felizes tem sido as empresas com limite de crédito restrito em função do balanço, pois só podem fixar preços com as tradings quando se aproxima o embarque e, consequentemente, tem conseguido melhores preços em centavos de dólar por libra-peso do que aquelas com tranquilidade financeira. Ironias do mercado.
Vejo com muita cautela mercados que, apesar de os fundamentos mostrarem que os preços devem se sustentar, sobem muito rapidamente e caem com a mesma força em questão de minutos. O mercado de açúcar teve duas grandes oscilações (máxima menos a mínima do dia) no mês de setembro, uma de 175 pontos e outra de 142 pontos, a volatilidade também subiu. A percepção de risco aumentou. Enquanto isso, os fundos não-indexados estão comprados 348.000 contratos, o equivalente a 17.7 milhões de toneladas de açúcar e estão ganhando muito dinheiro no açúcar. O trimestre acabou, será que os fundos vão realizar esse lucro agora?
Temos razões para acreditar que o mercado deve se estabilizar entre 22-24 centavos de dólar por libra-peso. No entanto, como sempre ocorre no mercado de commodities, não poderíamos descartar uma subida repentina de preços alimentada por um eventual pânico por parte de quem ainda não conseguiu cobrir suas necessidades no físico e por recompras de posição para atender a eventuais operações de wash-out. Chamadas de margem podem acionar compra de calls (opções de compra) fora do dinheiro. Nesta sexta-feira, curiosamente, foram negociados 5.000 lotes de call com preço de exercício de 24.50 centavos de dólar por libra-peso, referenciadas no março/2017, mas com vencimento em dezembro/2016. O preço do seguro para se livrar da incerteza, neste caso, foi perto de US$ 3.7 milhões.
O mês de setembro fechou com o preço médio de fechamento de NY de 21.35 centavos de dólar por libra-peso contra a nossa previsão de 20.61 centavos de dólar por libra-peso, de acordo com o modelo de preços. Esse desempenho acima do que esperávamos pode ser uma indicação de que o mercado já antecipou a alta de preços que projetávamos para o último trimestre deste ano, ou seja, 22.42 centavos de dólar por libra-peso para o outubro, 22.54 para novembro e 23.44 para dezembro. A conferir.
De acordo com os números publicados pela Agência Nacional do Petróleo, o consumo de combustíveis em agosto/2016 em gasolina equivalente foi de 4.48 bilhões de litros, o maior consumo mensal desde março deste ano. O consumo acumulado de doze meses (setembro de 2015 até agosto de 2016) atingiu 53.18 bilhões de litros, uma queda 1.72% em relação ao mesmo período do ano passado. Se o consumo mantiver esse ritmo, poderemos encerrar o ano de 2016 com uma retração de apenas 1% em relação ao ano passado, muito melhor do que o mais otimista analista poderia esperar.
O risco político nos Estados Unidos, com uma eventual vitória do candidato republicano pode aquecer o mercado de petróleo e as demais commodities com efeito positivo na arbitragem do etanol versus açúcar. O debate mediano entre os Hilary e Trump demonstra que a falta de líderes “com substância” é um fenômeno global.


Arnaldo Luiz Corrêa - Diretor da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda