Opinião: Eletricidade gerada pelas usinas de cana está meio esquecida
01-03-2016

A produção de açúcar e álcool da região Centro-Sul deve bater recorde na safra que começa este ano, mas não se espera que o setor venha a aumentar a sua contribuição para a geração de eletricidade (a queima do bagaço da cana, da palha ou o do gás de vinhaça nas caldeiras das usinas produzem um vapor excedente capaz de movimentar turbinas e geradores de eletricidade).

Em 2008, trinta projetos chegaram a ser aprovados nos leilões de energia nova. No ano passado, apenas três. Das 355 usinas que produzem açúcar e álcool, 180 “exportam” eletricidade excedente, geralmente para mercados consumidores próximos, o que não exige investimentos significativos em linhas de transmissão. As usinas que não geram energia excedente teriam de passar por reformas e investir em equipamentos. Presume-se que o setor como um todo poderia gerar eletricidade equivalente a duas usinas de Itaipu. No ano passado, a geração correspondeu a 25% de uma Itaipu.

Além de leilões regulares para entrega de energia daqui a três ou cinco anos, o governo promove leilões de energia de reserva. Ultimamente têm sido destinados à energia eólica ou solar. A biomassa, igualmente limpa e renovável, ficou de fora. A bioeletricidade tem ligeira vantagem sobre as outras. É mais previsível. Não depende de vento ou da insolação. Durante a safra é possível estimar o que deverá ser gerado.

Mas gerar eletricidade não é o principal negócio de uma usina que produz açúcar e álcool. É um investimento adicional que precisa ser compensador. Porém, mais do que isso, como se trata de investimento complementar, e em um setor que tem enfrentado problemas financeiros, o que os especialistas consideram mais importante é um arcabouço institucional que dê segurança ao segmento. Semana passada, o grupo Cosan, um dos maiores do setor, fechou acordo com os japoneses para exportar bagaço e palha de cana prensados que servirão como matéria-prima para termoelétricas no exterior.