Os desafios da cana...
22-07-2016

O Brasil passa por um momento difícil, economia em frangalhos, total falta de credibilidade das instituições públicas, desajuste fiscal e instabilidade política que há muito não presenciávamos.

Quem liderará o processo de reversão deste quadro? Qual será o caminho para a retomada dos empregos e do desenvolvimento para o Brasil nas próximas décadas?

Talvez não seja fácil responder a qualquer pergunta relacionada ao ambiente político e a recuperação da economia brasileira. Mas podemos afirmar seguramente, que se existem alternativas, uma delas é a cadeia do agronegócio.

Após a recuperação da taxa de cambio, o Brasil recupera sua competitividade internacional. Estudos indicam que em 2050 teremos cerca de 9 bilhões de habitantes no planeta, com consumo per capita superior ao atual.

Este crescimento de demanda será concentrado na China e Índia, locais onde a capacidade produtiva já está muita próxima ao potencial de produção, com problemas sérios de sustentabilidade. Também teremos forte expansão de demanda na África, onde apesar de existir terras agricultáveis disponíveis, os problemas se concentram na estrutura política e cultura popular, com muitas dificuldades para organizar processos produtivos competitivos.

Neste cenário, o Brasil é visto como o maior responsável para atender as demandas crescentes de alimento nas próximas três décadas. Se não temos as melhores condições de escoamento da produção, tanto internas quanto em relação a portos, temos uma boa malha rodoviária, ineficiente e cara, mas capaz de possibilitar acesso a todo interior do País.

Devemos unir todos os esforços das cadeias produtivas, e juntos organizarmos uma demanda de infraestrutura que possibilite ao Brasil produzir e escoar sua produção, alimentando o mundo com alimento saudável e sustentável. Devemos aproveitar a oportunidade para agregar valor na cadeia, produzindo e processando proteína animal.

Devemos ainda estruturar um programa de marketing e adequação ao mercado para os produtos brasileiros, líderes de exportações no mundo, como o café, açúcar, suco de laranja, carnes, dentre outros.

Hoje o Brasil é responsável por cerca de 50% do açúcar comercializado no mundo. Em 2050, provavelmente seremos responsáveis por 60% deste mercado. Temos um compromisso assumido na COP21 de limparmos ainda mais nossa matriz energética, onde os biocombustíveis terão um papel preponderante.

O etanol é a grande esperança, pois não depende de subsídios e tem a tecnologia bastante avançada. Tanto em relação ao açúcar como o etanol, o Brasil tem espaço para agregar tecnologia e promover crescimento de produtividade, mas também será necessário expandir a produção em regiões mais novas.

Hoje nos deparamos com boa parte das indústrias do setor sem expectativa em relação ao futuro, pois o endividamento impossibilita a geração de caixa para pagar sequer o serviço da dívida.

Após a reestruturação desta dívida, é possível que algumas sejam adquiridas por outros grupos e se mantenham em operação, porém outras, possivelmente no futuro próximo paralisarão suas atividades.

Este quadro dificulta muito a realização de investimento e crescimento da capacidade de produção do setor, que foi solapado nos últimos 8 anos. Precisaremos imediatamente de uma política de restruturação financeira do setor, envolvendo governos e bancos, não para privilegiar os empresários, mas sim para viabilizar a continuidade da operação das unidades existentes, mesmo que adquiridas por outro controlador.

Será necessário um planejamento de desenvolvimento tecnológico e áreas de expansão, com linhas de crédito adequadas, tanto para pesquisa, investimento no campo e investimento nas indústrias.

Precisamos fortalecer a sustentabilidade de setor, possibilitando a todos o acesso às melhores práticas de produção, otimizando o aproveitamento no campo e na indústria, com máximo aproveitamento da biomassa produzida, tanto para produção de açúcar, etanol 1G ou 2G ou bioeletricidade.

Assim como o etanol contribuiu para redução do custo de produção do açúcar a partir da década de 1980, o aproveitamento do bagaço, tanto para etanol quanto para bioeletricidade, também será responsável por significativa melhoria da eficiência econômica e energética do setor.

A recuperação do setor, por sua vez, somente será possível com a recuperação da credibilidade das políticas públicas e do Governo. Assim poderão ser criados programas adequados para investimentos e crescimento, com linhas de crédito de longo prazo e custo adequado.

Acreditamos que o mercado deva funcionar livremente, sem intervenção do Governo, que deve apenas criar mecanismo permanente de ajuste tributário entre os combustíveis, reconhecendo economicamente as externalidades positivas dos combustíveis limpos, frente aos derivados do petróleo.

Temos um mercado em expansão, precisamos agora equilibrar a produção e viabilizar a expansão da capacidade. Para isso devemos priorizar o desenvolvimento tecnológico, desde a produção do campo com variedades adequadas a mecanização, sistematização da produção, equipamentos mais adequados para colheita da cana com qualidade, processamento da biomassa na indústria, otimizando o potencial energético da cana.

Com crescimento de produtividade necessitaremos de menos áreas e seremos mais competitivos, garantindo a sustentabilidade econômica do setor e contribuindo para melhor sustentabilidade do planeta.

Se cada um fizer sua parte, rapidamente colocaremos o Brasil em posição de destaque e respeito internacional.

Salve a Cana!

Salve o Agronegócio!

Salve os Brasileiros!

Salve o Brasil!

 

Celso Torquato Junqueira Franco

Presidente da UDOP