Os Estados com maior potencial para a produção de etanol de milho
07-03-2018

Mato Grosso deve liderar, mas até São Paulo terá condições de investir na produção de etanol de milho

A produção de milho no Brasil está em torno de 85 milhões de toneladas. “No mercado interno ficam 55 milhões e o restante é importado. No ano passado, produzimos 92 milhões de toneladas, e exportamos 34 milhões. Com a produção de etanol com o milho, tende a cair a exportação. O que é muito bom, porque a tonelada de milho exportada gera R$ 270,00. Quando essa tonelada segue para a produção de etanol, a geração de renda é muito maior, só com o biocombustível, o ganho é de R$ 800, mais a produção do DDG (grãos secos por destilação, na sigla em inglês, ou farelo de milho) o total chega a R$ 1.000. Ou seja, gera-se quatro vezes mais receita deixando o milho aqui e o industrializando”, salienta Glauber Silveira da Silva, Vice-presidente da Abramilho e diretor da Aprosoja.

Frente a esse cenário, Glauber defende que a melhor alternativa para o produtor de milho é a produção de etanol e que esse processo será crescente. “Mas não vamos pegar todo o milho e transformar em etanol. Não é assim. Tem que ser um crescimento calmo, sólido e ordenado. É dessa forma que vem ocorrendo. Hoje, no Mato Grosso, temos três usinas flex, uma usina full e, em 2019 mais três usinas serão implantadas: uma em Sinop, outra em Mutum e outra em Deciolândia. Sem falar das usinas de cana instaladas aqui e que devem se transformar em flex ou que operam o ano inteiro com ambas as produções.O MT, nos próximos cinco anos, já deve produzir de três a quatro bilhões de litros de etanol de milho.”

Outros estados que também poderão produzir etanol de milho

A produção do etanol de milho, na visão de Glauber, acontecerá, principalmente nos estados onde há sobra de milho e onde o grão está mais barato. Ele cita como exemplo, além de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Mas salienta que até mesmo São Paulo, que não é grande produtor, poderá investir no etanol de milho, porque o grão passa pelo estado. Além disso,as usinas paulistas têm sobra de bagaço de cana e terão energia para produzir o etanol de milho na entressafra, reduzindo o custo de produção.

“Em São Paulo, o milho custa entre R$ 26 a R$ 30 a saca de 60 quilos e em Mato Grosso está entre R$ 16 a R$ 17. No primeiro momento, pensamos que esse maior valor inviabiliza a produção paulista, no entanto, eles têm energia, logística, maior consumo de etanol e a remuneração do DDG é o dobro de Mato Grosso. Estudos apresentados mostram que, o milho no valor de até R$ 36 é viável investir na produção de etanol e DDG em Mato Grosso. Para são Paulo, é viável o valor do milho até R$ 42 ou R$ 43 o milho. Então, é possível produzir etanol de milho em quase qualquer estado”, diz Glauber.

Paraná é outro estado com potencial, pois, apresenta sobrade 8 milhões de toneladas de milho. “Cerca de 80% desse volume é exportado. Esse milho poderá virar etanol. O estado é um grande produtor e consumidor de carne, precisa do DDG para alimentação bovina e suína. E também produz eucalipto, que servirá para a geração de energia. No Paraná, preço do eucalipto, está por volta de R$ 20o metro³, enquanto que no Mato Grosso custa R$ 40”, diz Glauber.

Para ele, até Santa Catarina, mesmo com déficit de milho, se tiver a ferrovia ligando o estado ao Mato Grosso, poderá a vir a ser um produtor de etanol de milho, já que o custo com o frete que hoje é de R$ 14 passaria para R$ 5. Com isso, o milho que estaria R$ 16 no MT chegaria por R$ 21 em SC. “E o estado é grande consumidor de DDG e de etanol.Primeiramente, o local mais viável é o MT. Mas num segundo momento, acredito que as usinas de cana de SP, GO, MS todas se tornarão flex, porque é uma questão de baixar o custo e dobrar a produção sem plantar cana.”

No entanto, Glauber observa ser fundamental a realização de estudos de viabilidade econômica, pois mesmo em Mato Grosso, há regiões sem potencial para a produção de etanol de milho. É o caso das que estão distantes da produção de biomassa, como o cavaco de madeira. “Não tem como chegar num município que não tem eucalipto e biomassa e colocar uma usina de etanol de milho. Porque até plantar o eucalipto, demora cinco anos para ele ser cortado.”
Ricardo Tomczyk, presidente da União Nacional do Etanol de Milho (UNEM), acredita que Mato Grossoterá a vanguarda na produção de etanol de milho, pelos motivos já citados na matéria.E que, provavelmente, as indústrias de cana do estado vão montar uma linha para trabalhar com etanol de milho, pois, para elas é muito viável. “As usinas full, ou seja, apenas de milho, em um primeiro momento se concentrarão apenas em Mato Grosso em função do preço da matéria-prima. Mas a produção de etanol de milho no Brasil será uma tendência. Goiás já tem duas plantas, uma já produzindo e outra iniciando os investimentos, que é a Cerradinho. Mato Grosso do Sul também deve ter investimentos. Paraná já há grupos estudando a viabilidade desse projeto. E algumas usinas em São Paulo devem fazer o mesmo.”

O fato de gerar maior renda aos produtores é um grande incentivador da produção de etanol de milho, observa Glauber. “O produtor, além de vender o milho, tem a oportunidade de ser dono da usina. Pode se unir a uma associação ou cooperativa e montar uma usina como aconteceu em Deciolândia. O que acontece neste caso: se o milho está caro, o produtor não ganha na usina, mas ganha na lavoura. Se a lavoura não está valendo nada, ele perde na lavoura, mas ganha na indústria. Poderá produzir eucalipto e fornecer biomassa, ter confinamento e comprar o DDG ou fazer troca com a usina. Ele fornece o milho e recebe o DDG. Há vários arranjos produtivos que vão beneficiar o produtor.”

Para Glauber, um possível aumento do preço do milho não é uma ameaça à produção de etanol, pois, o milho até R$ 33,00 a saca ainda viabiliza o processo. Hoje, o milho no MT está na faixa de R$ 18,00. O principal entrave à expansão do etanol de milho, em sua visão, é a situação política do país. “Se o Brasil continuar no rumo da retomada de crescimento, de alinhamento das questões políticas, as coisas vão acontecer naturalmente. O que tememos é que haja uma descontinuidade desse processo e voltemos a ter pesadelos do passado, como manipulação dos preços dos combustíveis. Aí vai inviabilizar não somente o etanol de milho, como também outras cadeias.”

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