Para Cepea, agronegócio ainda suporta economia em 2015
10-12-2014

O cenário para o agronegócio deverá ser diferente no próximo ano do que o registrado nos anteriores. Os estoques voltam a ficar elevados e deverá haver redução de preços das commodities.

Mesmo assim, o agronegócio deverá ser o grande fator de suporte da economia nacional em 2015. A avaliação é de pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), que preveem alta de 2,8% para o setor em 2015.

Internamente, o agronegócio se depara com um mercado estagnado ou com fraca expansão devido a uma provável alta do desemprego e de desaceleração do salário.

Externamente, as perspectivas são de menor liquidez, juros mais elevados, dólar valorizado e preços de commodities em queda. "A característica dominante nos mercados em geral será a elevada volatilidade", diz Geraldo Barros, professor da Esalq/USP e coordenador do Cepea.

Os pesquisadores da instituição admitem que é difícil algumas projeções para o próximo ano. O câmbio, por exemplo, ainda é um incógnita. Se desvalorizado, ajuda o agronegócio, mas dificulta o controle da inflação.

Já o cenário internacional de baixa nos preços do petróleo poderá reduzir custos de alguns insumos para o setor.

O Brasil, a exemplo de outros países, não está livre dos impactos climáticos. Com isso, o governo precisará reforçar o financiamento e o seguro de renda agrícola.

Para o Cepea, os fundamentos do agronegócio não justificam animação, mas não são de "choradeira" para a maioria das atividades.

O carro-chefe do agronegócio, a soja, perde preços no próximo ano. Essa queda ocorrerá devido à produção recorde e à alta nos estoques.

No primeiro semestre de 2015, a saca deverá ter um preço próximo de US$ 23 em Paranaguá, aponta o Cepea.

O cenário para o milho também exige cuidados dos produtores. O estoque previsto pela Conab acima de 15 milhões de toneladas não permite recuperação de preços.

O café terá rumos diferentes. A perda de produção neste ano, devido à seca, e as perspectivas de nova queda no próximo ano vão segurar os preços aquecidos. Além disso, os estoques nacionais e mundiais estão caindo.

O setor de citricultura também deverá ter preços melhores, segundo o Cepea. A situação delicada do setor nos últimos anos afastou muitos produtores, com consequente redução de área e de cuidados com a lavoura. A consequência será uma oferta menor de laranja.

O setor sucroenergético vem com dificuldades desde 2008, mas esse cenário deverá ficar para trás. Diálogo com o governo, volta da Cide, deficit mundial de açúcar e câmbio devem favorecer o setor.

A escassez de gado e a consequente menor oferta de carne neste ano elevaram os preços no setor. O consumidor interno terá uma renda menor para suportar esses preços, mas as exportações devem continuar firmes.

Após um ano bom, os suinocultores vão ter o pé no chão. A demanda interna pode não reagir, mas as exportações continuam.

No mercado de frango, maior equilíbrio entre oferta e demanda poderá resultar em preços maiores.

*Texto publicado na coluna Vaivém das Commodities.

Mauro Zafalon