Pesquisas sobre emissões de gases do efeito estufa atraem delegação francesa ao IAC
13-03-2017

O grupo francês representado pelo embaixador da França no Brasil, Laurent Bili, visitou o Instituto Agronômico (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, em Campinas, para conhecer os estudos envolvendo o uso de fertilizantes nas emissões de gases do efeito estufa (GEE). O IAC desenvolve vários estudos nessa área, sobretudo relacionados à agroenergia, com avaliação detalhada sobre quanto de GEE ocorre na produção de cana-de-açúcar e etanol.

A delegação foi recebida, em dia 20 de fevereiro de 2017, pelo diretor-geral do Instituto, Sérgio Augusto Morais Carbonell, pelo pesquisador do IAC responsável pelas de pesquisas na área de GEE, Heitor Cantarella, pela assessora da diretoria, Lílian Cristina Anefalos, e por Ricardo Baldassin Junior, que integram, por parte do IAC, o Agropolo Campinas-Brasil, plataforma internacional que prevê a parceria entre as regiões de Campinas e Montppelier, na França.
Resultados de estudos do IAC indicam que as emissões de GEE na produção de cana-de-açúcar são de 30% a 50% menores do que os índices recomendados pelo IPCC, segundo o Cantarella. “Nosso objetivo é reduzir as emissões abaixo do índice do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) para garantir a sustentabilidade do etanol”, afirmou.
Participaram também do grupo, durante a visita no dia 20 de fevereiro, o cônsul geral da França em São Paulo, Brieuc Ponte, o cônsul-adjunto, Thibault Samson, a conselheira para o Desenvolvimento Sustentável no Serviço Econômico da embaixada da França, Françoise Meteyer, o adido de Cooperação CT&I, Gérard Perrier, e o cônsul honorário da França em Campinas, José Luiz Guazzelli.
A visita ocorreu no Prédio D.Pedro II, onde Carbonell comentou sobre a criação do IAC pelo Imperador e a inserção das tecnologias IAC na agricultura paulista. A delegação conheceu um laboratório no Centro de Solos do IAC, onde são realizados estudos sobre análises de gases de efeito estufa relacionados à produção agrícola. “Nosso objetivo é reduzir as emissões abaixo do índice do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) para garantir a sustentabilidade do etanol”, afirmou Cantarella.
A conselheira, Françoise Meteyer, perguntou sobre o uso de resíduos na produção canavieira. Cantarella explicou que, ao aplicar restos da usina sucroalcooleira ou manter a palha no canavial, ocorre aumento da emissão de GEE. De acordo com o pesquisador, são gargalos que precisam ser investigados, pois a manutenção da palha, apesar de ser um recurso conservacionista, eleva a liberação de gases. “Por isso estamos analisando, procurando medidas mitigadoras”, disse Cantarella. Segundo o pesquisador, aspectos em nível microbiológico do solo resultam nessas emissões, que estão sendo investigadas para responder a questões como, qual é o impacto de deixar a palha no solo, agindo como fertilizante, ou levá-la para produzir energia?
Também sobre o reaproveitamento de resíduos, o diretor do IAC falou sobre o projeto em parceria com a Prefeitura de Campinas, que prevê o reaproveitamento de restos de podas urbanas para fins de produção de compostagem, para ser usada na adubação de parques e jardins da cidade.
Meteyer ressaltou o know-how da França para destinação final de resíduos urbanos, como por exemplo, para produção de biogás. A possibilidade de uma interação por meio de parcerias nessa área pode ser muito interessante para o desenvolvimento da bioeconomia no Brasil.
“É importante conhecer, interagir com outros atores estrangeiros que têm os mesmos interesses. Há projetos que temos que levar para empresas francesas porque temas, como resíduos urbanos, são áreas em que as empresas francesas atuam há muitos anos. Então não é difícil fazer essa conexão”, afirmou o embaixador da França no Brasil, Laurent Bili.
Carbonell comentou sobre o desafio de usar o lixo urbano e o lodo de esgoto para serem aproveitados, como já é feito na França. O IAC desenvolve pesquisas sobre uso do lodo para fins agrícolas. “As empresas francesas teriam que identificar as oportunidades, como no caso de redução de consumo de água”, disse Guazzelli.
O embaixador afirmou que há muito tempo queria visitar Campinas, sobretudo porque a França já tem cooperação antiga no setor de agronomia, com relação a Montpellier, referindo-se à região francesa onde está a sede da Agropolis International, cujo modelo de inovação colaborativa orienta o Agropolo Campinas-Brasil.
A delegação também foi informada sobre a terceira edição da Brazilian BioEnergy Science and Technology Conference (BBEST) 2017, organizada em conjunto com a Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (FAPESP). Esta edição será voltada a temas relacionados à área de bioenergia dentro do conceito de bieconomia. O evento tem por objetivo atrair indústrias interessadas na interface com instituições de ciência e tecnologia.
Segundo Cantarella, a produção de biomassa, provavelmente, virá de países como o Brasil e este assunto tem despertado o interesse da Europa. “Os holandeses são grandes parceiros do IAC nesta pesquisa e imaginamos que a França também possa se interessar”, disse.
Para o secretário de Agricultura, Arnaldo Jardim, as interações com parceiros internacionais abrem novas oportunidades de intercâmbio de tecnologias e conhecimento. “É uma forma de ampliar a contribuição das instituições paulistas, como recomenda o governador Geraldo Alckmin”, diz.
O consórcio holandês Biotechnology based Ecologically Balanced Sustainable Industrial Consortium (BE-Basic) apoia a realização, pelo Agropolo Campinas-Brasil, de um roadmap de áreas estratégicas de pesquisa e investimentos voltados para o desenvolvimento da bioeconomia na região de Campinas.
O Agropolo Campinas-Brasil é uma plataforma de relacionamento entre universidades, centros e institutos de pesquisa e empresas de alta tecnologia, nacional e internacional, que visa desenvolver projetos de cooperação técnica nas diferentes áreas da bioeconomia — agricultura, alimentação, saúde, biodiversidade, bioenergia, química verde e desenvolvimento sustentável.


Por Carla Gomes