Petrobras não atenderá demanda atípica
20-10-2021

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O diretor de comercialização e logística da Petrobras, Cláudio Mastella, afirmou que a estatal fornecerá integralmente os volumes previstos em contrato com as distribuidoras de combustíveis e que a companhia não aceitou parte dos pedidos extras por diesel e gasolina, para novembro, porque não tem condições de suprir o que ele considerou ser uma demanda atípica pelos produtos. O executivo disse ainda que acredita que as encomendas não atendidas pela petroleira poderão ser abastecidas “com tranquilidade” por outros atores, sem riscos ao mercado.

De acordo com Mastella, no caso do diesel, a Petrobras recebeu pedidos para entrega de volumes equivalentes a mais de 100% da atual demanda do mercado nacional. O executivo destaca que não vê nenhum “evento que justifique uma super demanda em novembro” e que o curto período de antecedência das encomendas torna inviável atender aos pedidos.

Associação de importadores diz que petroleira tem preços sistematicamente abaixo da paridade

“O que não atendemos foi uma demanda adicional atípica, da ordem de 20% acima da demanda normal [para o mês de novembro] por diesel e 10% acima da demanda normal por gasolina. Não tínhamos condições de atender”, afirmou ao Valor.

Na semana passada, a Associação das Distribuidoras de Combustíveis (Brasilcom), que representa empresas regionais, emitiu uma nota alertando para riscos de desabastecimento de diesel e gasolina. Segundo a entidade, empresas do setor têm relatado cortes por parte da Petrobras, na entrega de produtos pedidos para o mês que vem. A Brasilcom representa distribuidoras de menor porte que as três líderes do mercado. BR, Ipiranga e Raízen são, por sua vez, representadas pela Associação Brasileira de Downstream (ABD).

É comum que distribuidoras contratem apenas uma parte dos volumes com a Petrobras e deixem uma “folga” para negociar com importadores em condições de preços melhores. Segundo uma fonte do setor, as empresas, contudo, estão tendo dificuldades para comprar essas cargas adicionais, justamente num momento em que os estoques estão em baixa. A situação é pior entre as companhias menores, que, muitas vezes, não possuem trading própria.

A Brasilcom reclama que os preços praticados pela Petrobras vêm afastando importadores e que, ao mesmo tempo, a estatal brasileira não tem dado conta de atender à demanda das distribuidoras. Segundo a consultoria Stonex, a gasolina vendida pela estatal estava, ontem, 10% abaixo do preço de paridade de importação (PPI). No diesel, a defasagem era de 16%.

A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) também acusa a Petrobras de praticar, sistematicamente, preços abaixo do PPI neste ano e destaca que isso se reflete na perda de participação de mercado das importadoras privadas. De acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), a fatia da petroleira brasileira respondeu por cerca de 85% do mercado de diesel no acumulado de 2021 até agosto, ante os 77,6% registrados em igual período de 2020. No caso da gasolina, a participação nas vendas cresceu de 76,4% para 82,7%, na mesma base de comparação.

Mastella nega que a Petrobras esteja desalinhada do mercado internacional. O executivo defende que, dada a estratégia da companhia de não repassar instantaneamente as volatilidades do mercado internacional para os clientes no Brasil, “pontualmente pode haver a percepção” de que a empresa não está acompanhando as variações.

Ele alega ainda que o pico recente do preço do petróleo reflete um “desbalanço geral” no mercado global de commodities, que tem gerado problemas de inflação ao redor do mundo. E afirmou que a Petrobras está sendo cautelosa, para evitar repasses imediatos da volatilidade.

“A participação da Petrobras no mercado aumentou um pouquinho por competitividade, basicamente. Em nenhum momento os importadores deixaram de atuar. Podemos dizer que um ou outro importador deixou de atuar porque se julgou incapaz de competir, mas o fato de termos, o tempo todo, outros importadores atuando, é uma demonstração factual de que o preço é razoável”, comentou.

Mastella afirmou, ainda, que a responsável por garantir a segurança do abastecimento é a ANP. “Há anos não atendemos 100% da demanda brasileira e, por conta disso não tínhamos nem condições de fazer isso. Entendemos que esse volume adicional [solicitado à Petrobras] com muita tranquilidade pode ser atendido, como vinha sendo atendido nos últimos anos, por importações [de terceiros].”

A ANP informou que “não há indicação de desabastecimento” nesse momento e que segue monitorando o mercado e adotará, caso necessário, “as providências cabíveis para mitigar desvios e reduzir riscos”. A Brasilcom, por sua vez, defende a necessidade de discussão sobre “regras claras” para a transição do setor, no contexto da abertura do refino, para evitar desequilíbrios no mercado.

Fonte: Valor Econômico