Petróleo mais barato ameaça o pré-sal
05-12-2014

Mantidas as condições atuais do preço do barril de petróleo no mercado internacional, o desenvolvimento de áreas no pré-sal sob o regime de partilha pode ser afetado, afirmam analistas.

O preço da principal referência internacional de pe-tróleo (Brent) está em trajetória de queda e recuou nesta quinta-feira (4) para US$ 69,64 o barril.

Esse valor é considerado próximo do limite para a viabilidade comercial de áreas do pré-sal exploradas sob regime de partilha, dizem cálculos do CBIE (Centro Brasileira de Infraestrutura).

Para o instituto, os custos para extrair o óleo de águas profundas são altos e o negócio só é viável com um barril entre US$ 60 e US$ 70.

A Petrobras afirma que o desenvolvimento de sua produção no pré-sal é comercialmente possível com um barril a até US$ 45.

O Plano de Negócios e Gestão da empresa para o período de 2014 a 2018 considera um barril a US$ 105 em 2014, caindo para US$ 100 até 2017 e US$ 95 no longo prazo.

São números, portanto, bem acima da atual cotação, em queda que foi acentuada após a decisão da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) de não reduzir a demanda para manter preços que façam competição com a produção de gás e o óleo de xisto nos EUA.

O combustível de xisto é uma alternativa mais barata que os combustíveis fósseis convencionais e especialistas dizem que ele só não seria mais barato que o carvão.

Também contribui para o recuo os seguidos anos de baixa atividade mundial.

No ano, o preço do barril já acumula queda de 36%.


Partilha

A partilha é o regime adotado pelo governo brasileiro para a exploração de áreas do pré-sal para as quais se acredita haver um potencial grande de reservas e um risco pequeno na exploração.

Uma das exigências do modelo é que a Petrobras seja a operadora dos campos, com participação mínima de 30%.

O campo de Libra, na bacia de Campos, é a única área já em desenvolvimento sob esse modelo, cujo leilão foi vencido por consórcio formado pela estatal, Shell, pela Total e pelas chinesas CNPC e CNOOC. A ANP informou em junho que leilões de novas áreas no pré-sal "provavelmente" só ocorrerão em 2016.

Um analista, que pediu que não tivesse o nome divulgado, concorda com a avaliação de que as chamadas áreas de "fronteira de tecnologia", como o pré-sal, dependem de um barril mais valorizado para serem viáveis.

Pires, do CBIE, cita como pontos que intensificam o impacto do barril mais barato a obrigatoriedade de participação da Petrobras em futuros projetos, no momento em que a empresa se encontra em dificuldades financeiras.


Alternativa

Uma solução para a atratividade ameaçada, disse Pires, seria a redução do valor que as empresas pagam para ter direito a explorar determinada área, chamado bônus de assinatura. "Se tivesse que fazer leilão agora, o país teria dificuldade", disse.

Análise divulgada no final de novembro pelo Itaú BBA relata que no curto prazo o movimento pode ser bom para a Petrobras, que importa combustível e o vende mais barato no Brasil.

No longo prazo, porém, é ruim, diz o banco, porque tira a atratividade de reservas ainda não exploradas, além de reduzir ganhos futuros com a esperada exportação de parte da produção do pré-sal, a partir de 2018.

Lucas Vettorazzo