Plantio de cana transgênica quase dobra na nova safra do Brasil, diz CTC
07-04-2022

Trabalhador com mudas de cana transgênica. Nacho Doce/Reuters
Trabalhador com mudas de cana transgênica. Nacho Doce/Reuters

A empresa avalia que as variedades Bt estarão em 70 mil hectares da safra 2022/23, ante 37 mil na temporada recém-encerrada no centro-sul.

Reuters

O Centro de Tecnologia Canavieira estima que a área plantada com cana-de-açúcar transgênica resistente à broca praticamente dobrará na nova safra do Brasil, que começou neste mês no centro-sul, à medida que o setor está fortalecido para investir em mais produtividade e vê a biotecnologia mais disponível.

A empresa líder em ciência canavieira, que teve entre 2017 e 2018 a primeira cana geneticamente modificada do mundo aprovada para uso comercial por órgãos reguladores no Brasil e exterior, avalia que as variedades Bt estarão em 70 mil hectares da safra 2022/23, ante 37 mil na temporada recém-encerrada no centro-sul.

Considerando a área total de cana do Brasil, de 8,2 milhões de hectares na safra passada (2021/22), a cana geneticamente modificada ainda ocupará uma pequena área relativa, porque a multiplicação das variedades adaptadas aos diferentes tipos de solo não é tão rápida como no caso de sementes de soja e milho transgênicas.

Mas, já com cinco anos desde as primeiras aprovações do uso da cana transgênica resistente ao ataque de inseto, e com quatro variedades comerciais que confirmaram resultados no campo, a expectativa é de avanço mais rápido de agora em diante, segundo avaliação de executivo do CTC, que tem entre os acionistas grupos do setor como Raízen, Copersucar, São Martinho, além do BNDESPar.

“O produtor primeiro quer ver para crer, e precisa ter a disponibilidade de mudas para poder crescer. Agora, tendo mudas e resultados, as duas coisas permitem que ele possa ir alavancando”, afirmou o diretor comercial do CTC, Luiz Paes, em entrevista à Reuters.

Ainda hoje, o CTC é a única empresa no mundo a dispor da tecnologia de cana geneticamente modificada para comercialização em escala comercial.

Paes explicou que a primeira variedade lançada exigia o plantio em uma terra muito boa, e que novas canas transgênicas colocadas no mercado já podem ser plantadas em áreas com solos mais “restritivos” ou ruins, o que estimula a adoção.

A cana resistente à broca é considerada um importante aliado do produtor, uma vez que o CTC estima que o inseto gera prejuízos de 5 bilhões de reais por ano à indústria brasileira, considerando perdas de produtividade agrícola e industrial, qualidade do açúcar e custos com inseticidas.

“Nessa área (com a cana transgênica), a perda pela broca vai estar limitada”, ressaltou Paes.

O CTC pesquisa ainda cana transgênica resistente a herbicidas, e acredita que o produto poderá estar disponível em breve. “Possivelmente, a cana RR em mais duas safras esteja pronta para lançar”, afirmou Paes, ressaltando que o produto precisaria passar por todo o rito regulatório, como a aprovação do órgão de biossegurança CTNBio.

O executivo comentou que a adoção da tecnologia por usinas brasileiras vai do Paraná até o Nordeste, e que o CTC já conta com cerca de 170 clientes, que respondem pela maior parte da moagem do país.

Segundo ele, considerando que o setor de forma geral vive uma situação financeira melhor do que no passado, em meio a bons preços do açúcar e etanol, a expectativa é de mais investimentos na renovação dos canaviais, o que beneficia o CTC, que cobra royalties pela tecnologia.

“A melhora do setor nos auxilia muito”, afirmou, acrescentando que, quando a situação econômica é ruim, o produtor reduz a taxa de renovação do canavial, por exemplo.

Ele comentou que, das áreas de cana replantadas anualmente, o CTC costuma ter uma fatia de mercado de cerca de 40%. Em média, cerca de 15% da cana, uma cultura semiperene, é renovada todos os anos.

LANÇAMENTO

Enquanto isso, o CTC prepara novos lançamentos de variedades convencionais e superprodutivas.

Para a próxima safra (2023/24), deve estar disponível o produto da nova série 10.000, que promete produtividade em torno de 14 a 16 toneladas de açúcar por hectare (TAH), um salto de cerca de 30% ante as variedades disponíveis atualmente.

Levando-se em conta a produtividade média do centro-sul do Brasil, maior região canavieira do mundo, esse índice é ainda mais expressivo.

“Para efeito de comparação, estamos falando em uma média do centro-sul abaixo de 10 toneladas por hectares na última safra, que teve uma condição ruim pela seca”, disse Paes, observando que em condições climáticas normais a região consegue um rendimento acima de 10 TAH.

Para alcançar tais objetivos, o CTC realizou nos últimos anos investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento da ordem de 1 bilhão de reais, avançando em novas ferramentas de bioestatística que proporcionam melhor escolha dos parentais a serem utilizados nos cruzamentos entre as mais de 5.000 variedades de cana de seu banco de germoplasma, o maior do mundo.

Segundo o diretor comercial, em algum momento tais variedades com maior potencial produtivo podem ter adicionadas tecnologias transgênicas, o que demandaria alguns anos após o lançamento da cana, fortalecendo ainda mais o produto.

Do site: Forbes