Produção de etanol na índia: renda mais sustentável e menos excedentes de açúcar
19-09-2018

Biocombustível pode rentabilizar agricultores e trazer mais equilíbrio para mercado internacional de açúcar

Aumentar a produção de etanol na Índia proporcionaria renda extra aos produtores, tornando o setor sucroenergético daquele país mais competitivo, além de outras vantagens econômicas e ambientais advindas de uma menor dependência de energias fósseis (petróleo e carvão). Tal diversificação ajudaria a inibir a subvenção indiana dada às exportações de açúcar, prática distorciva de comércio que tem contribuindo fortemente para derrubar os preços no mercado internacional em aproximadamente 40% em 2018.

Esta foi a mensagem principal da assessora sênior da presidência para Assuntos Internacionais da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Geraldine Kutas, durante 9º Kingsman Asia Sugar Conference, evento que reuniu mais de 300 participantes em Nova Deli, capital da Índia, entre os dias 05 e 06 de setembro. A executiva integrou mais uma ação da entidade brasileira em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) para promover os derivados da cana no exterior.

“Hoje, a Índia cultiva cana exclusivamente para produzir açúcar. Isso resulta em volatilidade dos preços nos mercados globais devido aos subsídios à exportação aplicados nos anos em que o país apresenta excedentes de açúcar, que somente em 2018 será da ordem de 10 milhões de toneladas. Isso não apenas viola as regras da OMC, prejudicando exportadores como o Brasil, como também é insustentável e caro para a economia local”, explica Geraldine Kutas, que participou de um painel de debates juntamente com o diretor geral da Associação de Usinas de Açúcar Indiana (ISMA), Abinash Verma, e o porta-voz da Aliança Agro Ásia-Brasil e ex-presidente da UNICA, Marcos Jank.

Segundo a executiva, apostar nas energias renováveis, especificamente no etanol, representa uma oportunidade para incrementar a remuneração das usinas e dos produtores de cana na Índia. “Eles lançaram um forte programa de etanol com uma mistura obrigatória de 10% à gasolina até 2022. Este ano, o governo já permitiu a produção do biocombustível a partir do melaço e do caldo de cana, além de aumentar o preço fixo do etanol. Trata-se de uma iniciativa de renda sustentável para agricultores e meio ambiente. Haverá descarbonização do transporte veicular, vital para a redução da poluição local, e maior geração de empregos, tanto no campo quanto na indústria”, comenta Geraldine.

Considerada uma das economias que mais crescem, a Índia é a terceira nação que mais consome de energia no mundo, atrás de China e Estados Unidos. Por este motivo, o país, que já ocupa a posição de quarto maior emissor de dióxido de carbono (CO2), necessita urgentemente conciliar prosperidade econômica com desenvolvimento ambiental.

“Somente em 2017, as emissões indianas aumentaram 4,6%. Eles ainda são muito dependentes de energias fósseis, como carvão e petróleo, que juntos representam quase 80% da matriz energética. A poluição do ar causada pelo uso destas fontes é dramática, visto que 14 das 15 cidades mais poluídas do mundo estão na Índia. O Brasil é testemunha do poder mitigador do etanol, capaz de reduzir em até 90% a emissão de CO2 em comparação à gasolina, e do seu impacto positivo sobre a qualidade do ar”, avalia a assessora internacional da UNICA.

Dados da UNICA indicam que, nos últimos 15 anos, o biocombustível (anidro e hidratado) utilizado em carros flex evitou que mais de 480 milhões de toneladas de CO2 fossem despejadas na atmosfera. Comparando com dados disponibilizados na plataforma online Global Carbon Atlas, este volume equivale ao que foi emitido em conjunto por Argentina (209 milhões de toneladas - Mt), Chile (87 Mt), Colômbia (85 Mt) e Equador (40 MT). Ou as emissões individuais da Itália (359 Mt.), França (344 Mt) e Espanha (261 Mt) em 2017.

Confira aqui a apresentação (em inglês) feita por Geraldine Kutas no 9º Kingsman Asia Sugar Conference.