Produção de grãos sobe, mas industrialização é pequena
19-08-2014

O país avança rapidamente na produção de grãos, mas as indústrias do agronegócio não conseguem tirar proveito dessa evolução e melhorar a margem de ganho com a agregação de valor.

Um dos exemplos é a produção de soja. Produto de maior expressão no cenário agrícola brasileiro, o volume da oleaginosa teve um aumento de 73% nos últimos dez anos.

Nesse mesmo período, a capacidade de moagem das indústrias teve ritmo bem menor, com evolução de 35%. Já o volume de matéria-prima processada pelas indústrias teve evolução de apenas 28% no período.

Em 2004, o Brasil processava 57% da soja produzida. Neste ano, vai processar apenas 42%, tomando como base dados da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais).

Esse volume de exportação de matéria-prima --neste ano o país deverá exportar o recorde de 45 milhões de toneladas dos 86,5 milhões produzidos-- se deve não apenas a fatores internos como a externos.

Para ambos os casos, o país não tem uma política específica para o setor do agronegócio. Internamente, há impostos que inibem a movimentação da matéria-prima entre os Estados.

Além disso, as empresas não conseguem liquidar os créditos de PIS/Cofins a que têm direito. Externamente, alguns países, como a China, querem só a matéria-prima, com o objetivo de desenvolver o mercado de trabalho no próprio país.

Fábio Trigueirinho, da Abiove, afirma que faltam políticas internas e externas para o agronegócio. Com isso, o país vai perdendo participação nos produtos industrializados no exterior.

"É um círculo como se fosse o cachorro correndo atrás do próprio rabo", diz ele.

O gargalo da desindustrialização se agravou nos últimos anos. A capacidade de processamento de soja, que era de 154 mil toneladas por dia, em 2008, atingiu 178 mil neste ano, com alta de 16%. Nesse mesmo período, a safra teve expansão de 51%.

"A indústria está trabalhando basicamente para o mercado interno", afirma Trigueirinho.

Apesar da safra maior neste ano, as receitas externas com a soja serão menores, devido à queda de preços, prevê a Abiove. O complexo soja rendeu US$ 31 bilhões no ano passado, receitas que deverão recuar para US$ 29,7 bilhões neste ano.

As exportações de grãos lideram as receitas e vão render US$ 22,5 bilhões. Já o valor das exportações do farelo ficam em US$ 6 bilhões, enquanto o óleo de soja deve render US$ 1,1 bilhão, conforme estimativas da associação das indústrias.

Até julho, as exportações de soja em grãos já haviam atingido 37,8 milhões de toneladas, com receitas de US$ 19,3 bilhões, de acordo com a Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

A China, maior mercado para o Brasil, ficou com 27,5 milhões das exportações de soja em grãos, pagando US$ 14,2 bilhões pelo produto.

*Texto originalmente publicado na coluna Vaivém das Commodities.

Mauro Zafalon