Produtor teme que biocombustível perca status
13-05-2022

Produtores de biocombustíveis, como etanol e biodiesel, temem que o novo ministro de Minas e Energia (MME), Adolfo Sachsida, use a Pasta para avançar na proposta de redução de mistura de bicombustíveis aos fósseis para controlar a alta dos combustíveis aos motoristas. O ministério não retornou o contato da reportagem.

Desde que os preços dos combustíveis começaram a subir e a pressionar a inflação, o Ministério da Economia vem defendendo a redução das misturas. No ano passado, quando era secretário de Política Econômica, Sachsida chegou a defender uma redução da mistura do etanol anidro à gasolina em reuniões internas de governo, segundo uma fonte a par das discussões. A proposta encontrou resistência nas Pastas de Agricultura e Minas e Energia.

Já a investida no governo contra o setor de biodiesel frutificou. Em 2021, o Ministério de Minas e Energia já reduziu para 10% a mistura do biodiesel ao diesel para este ano. Antes, o cronograma previa teor de 13% até fevereiro e de 14% de março em diante.

Com Sachsida, egresso do Ministério da Economia, no comando do MME, há quem receie novas propostas em Brasília, sobretudo em um momento de novas altas dos combustíveis. A notícia da troca de Bento Albuquerque por Sachsida provocou "incerteza" e "apreensão" entre agentes do setor que nesta semana se encontraram em eventos sobre o mercado de açúcar em Nova York, apurou o Valor.

"Nós temos preocupação [com mudança de mistura]", afirmou um produtor, que preferiu não ser identificado. Recentemente, porém, o ministro Paulo Guedes prometeu a parlamentares ruralistas que não haveria novas reduções de mistura do biodiesel.

As lideranças do setor produtivo buscam um olhar positivo e esperam que o novo ministro entenda a importância econômica do setor e de suas externalidades. "Apesar de toda a instabilidade, o setor do biodiesel está pronto para uma curva crescente de participação no consumo do diesel. Hoje, estamos com mistura de 10%, mas ociosidade acima de 50%", afirmou Donizete Tokarski, diretor superintendente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio).

Ele afirmou que o Brasil poderia reduzir sua dependência de importação de diesel fóssil, que hoje é de 25%, com a elevação da mistura de biodiesel, o que também garantiria geração de empregos e aumento das compras de matéria-prima de cerca de 70 mil agricultores familiares pelo programa do Selo Biocombustível Social.

Tokarski disse ainda que o biodiesel pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa em até 90% em comparação com as do diesel e diminuir a emissão de particulados, atenuando problemas respiratórios. "Para cada ponto percentual de aumento da mistura de biodiesel, o benefício para a sociedade sobe R$ 30 bilhões ao ano, considerando externalidades de saúde, emprego, tributos e PIB", afirmou.

Mario Campos Filho, presidente do Fórum Nacional Sucroenergético (FNS), disse que acredita que o governo "continuará" incentivando o mercado de biocombustíveis. "Nos colocamos à disposição para o diálogo naquilo que for preciso".

Segundo o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), presidente da Frente Parlamentar pela Valorização do Setor Sucroenergético, "diversas empresas de biodiesel fecharam" desde que o governo reduziu a mistura do biodiesel. "Houve impacto econômico e social em várias regiões do país", disse ele.

O deputado lembrou que, há duas semanas, o ex-ministro Bento Albuquerque divulgou o Plano Decenal de Energia (PDE) que prevê a expansão da oferta de etanol em 40% pelos próximos dez anos, o que, em tese, precisa orientar a atuação de quem estiver no cargo.

Fonte: Valor Econômico
Texto extraído do boletim SCA