Produtores de açúcar orgânico em SP temem 'tarifaço' dos EUA: 'negociação é essencial'
30-07-2025
Medida de 50% sobre exportações brasileiras pode inviabilizar produção e causar impacto em mais de 2 mil empregos na região.
Por Murilo Badessa, EPTV, g1 Ribeirão Preto e Franca
A nova tarifa de 50% imposta pelo governo dos Estados Unidos sobre as exportações brasileiras, prevista para entrar em vigor nesta sexta-feira (1º de agosto), causa apreensão entre os produtores de açúcar orgânico da região de Ribeirão Preto. O mercado norte-americano é o maior comprador do produto brasileiro, e a medida ameaça a viabilidade de uma usina local com mais de dois mil funcionários.
Uma usina com sede em Sertãozinho (SP) comercializa seus produtos para 74 países, mas os Estados Unidos absorvem 60% de sua produção. No ano passado, 44 mil das 88 mil toneladas de açúcar orgânico produzidas pela empresa foram exportadas apenas para o mercado americano.
Segundo Leontino Balbo, diretor de usina, a tarifa pode inviabilizar a continuidade da produção.
"A negociação é essencial para que nós consigamos dar continuidade às atividades, uma vez que nós dependemos muito do mercado americano. Nós enviamos em 2024, 44% de toda a nossa produção para os EUA, então nós estamos muito vulneráveis", afirma Balbo. Ele ressalta que outros produtores brasileiros chegam a ter 70% de sua produção destinada aos EUA.
Busca por soluções
Caso a situação não mude a médio e longo prazo, a usina pode ser forçada a reduzir sua plataforma de produtos e, consequentemente, sua produção, o que acarretaria na diminuição de sua planta e possível impacto nos mais de dois mil empregos diretos gerados.
A saída para a usina seria a retração da tarifa ou a busca por novos mercados para o açúcar orgânico, já que a indústria brasileira praticamente não consome o produto. No entanto, o redirecionamento da carga não é uma tarefa fácil.
Cleuber Rufino, consultor em agronegócio, explica que todo produto orgânico, quando exportado, precisa de uma análise e uma série de documentação que são providenciadas para esses mercados em específico.
“Quando se redireciona essa produção para outros países, você tem que cumprir toda essa legislação, toda essa exigência aduaneira dos novos países para você conseguir efetivamente esse produto em outros locais".
O mercado europeu, embora seja um comprador importante, já possui acordos de negócios firmados com outros países da América do Sul, como a Colômbia, cujo açúcar orgânico chega mais barato. Na Ásia e na África, a demanda pelo produto ainda não é consistente.
Concorrência e perdas para o Brasil
Plínio Nastari, presidente da Datagro, consultoria especializada em mercados agrícolas, alerta para o risco de o mercado brasileiro perder espaço para concorrentes se as tarifas permanecerem em vigor por muito tempo.
"Permanecendo essa alíquota de 50%, o açúcar orgânico do Brasil também vai ficar mais caro do que o açúcar não só da Colômbia, mas também da Argentina e do Paraguai, e isso representa uma ameaça para os produtores de açúcar orgânicos do Brasil", explica Nastari.
O Brasil foi pioneiro na produção de açúcar orgânico. Nastari ressalta que as perdas com o "tarifaço" se estendem a anos de investimentos, pesquisas e ganhos em sustentabilidade. "Coloca em risco uma atividade consolidada e reconhecida no maior produtor de açúcar no mundo, que é aqui no Brasil, e que tem recebido prêmios, reconhecimento e certificações que só os produtores brasileiros obtêm, então perde o planeta", afirma.
Mercado de Açúcar Orgânico
Os Estados Unidos consomem quase metade de todo o açúcar orgânico produzido no mundo, e o Brasil é o principal fornecedor, tendo enviado quase 118 mil toneladas para o país em 2024.
A diferença do açúcar orgânico começa no cultivo da cana, sem agrotóxicos, e na ausência de aditivos químicos nas etapas seguintes. Embora não tenha menos calorias, ele oferece mais nutrientes que o açúcar comum, mas sua produção é mais cara.
As usinas de açúcar orgânico são capazes de produzir o açúcar comum e mais barato. No entanto, a mudança não compensaria para as usinas de açúcar orgânico, segundo Leontino Balbo, devido aos equipamentos mais sofisticados e aos maiores gastos que demandam.
A expectativa do setor é por uma eventual prorrogação da entrada em vigor da taxa, para que haja tempo para uma adaptação recíproca entre exportadores brasileiros e importadores americanos.
Fonte: G1

