Queda no preço do petróleo pode levar Opep a acordo para limitar produção
26-11-2014

Às vésperas de uma de suas reuniões mais aguardadas dos últimos anos, os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo estão mais próximos de um acordo para cortar a oferta de petróleo.

Durante a reunião de amanhã, a Arábia Saudita, que é o líder da Opep na prática, vai provavelmente apoiar as solicitações para que o grupo siga mais de perto o teto de produção que ele mesmo estabeleceu, dizem fontes a par da posição saudita.

O apoio a tal medida, que seria baseada num cumprimento mais rigoroso dos limites já existentes do que num corte direto da meta de produção, começou a se desenhar na semana passada durante um encontro de consultores da Opep, dizem vários dos presentes. De fato, diante da estabilização recente dos preços do petróleo em torno de US$ 80 por barril, depois de uma queda de 30% desde meados do ano, alguns membros da Opep já não veem com tanta urgência a tomada de medidas mais severas.

Até o fim da semana passada, porém, a posição a ser assumida pela Arábia Saudita na reunião de amanhã ainda era incerta para a maioria dos membros.

"A Arábia Saudita deve optar pela continuidade" do teto atual, disse ontem uma autoridade do Golfo Pérsico. A exigência de um cumprimento rigoroso pode ser "uma opção que eles escolheriam". Mas as intenções sauditas ainda não foram comunicadas claramente aos outros membros e elas podem tomar outro rumo até a reunião de amanhã.

Os membros da Opep se engajaram numa rodada frenética e incomum de negociações diplomáticas antes da reunião, com alguns dos países mais pobres, como a Venezuela, solicitando cortes significativos na oferta para elevar os preços do petróleo. Ontem, os futuros do petróleo Brent recuaram 1,2%, para US$ 78,53 o barril, depois que uma reunião da Arábia Saudita e a Venezuela, que são membros da Opep, com a Rússia e o México, que não são, não resultou em nenhum acordo para reduzir a produção de petróleo.

Três anos atrás, a Opep concordou em limitar sua produção coletiva em 30 milhões de barris de petróleo por dia. Mas sua produção atual ultrapassa esse total à medida que cada membro tenta manter sua fatia do mercado mundial do produto. Um cumprimento mais severo da meta implicaria um corte de cerca de 300 mil barris diários na oferta ante os níveis de outubro, segundo tecnocratas da Opep que se reuniram na semana passada.

A Arábia Saudita, maior produtor de petróleo da Opep com certa folga, mostrou-se notavelmente reticente no período antes da reunião. Seu ministro do Petróleo, Ali al-Naimi, não quis responder perguntas sobre a posição do país quando chegou a Viena, na segunda-feira.

O país árabe parece relutante em arcar sozinho com o peso de qualquer ação da Opep. No início do mês, al-Naimi disse ao ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Rafael Ramírez, que o reino não iria cortar sua produção de petróleo sozinho, segundo pessoas a par da conversa.

Mas um corte de cerca de 300 mil barris diários não deve satisfazer alguns membros da Opep, como Venezuela e Irã, que precisam dos preços do petróleo bem acima de US$ 100 o barril para equilibrar seus orçamentos.

A Opep já tomou medidas mais drásticas no passado para alavancar os preços do petróleo. Ela reduziu a produção em 4,2 milhões de barris por dia em 2008, depois da crise financeira global. Seria necessário um corte de cerca de 1,5 milhão de barris diários na produção do grupo para deixar o mercado mundial de petróleo mais apertado em 2015, dizem analistas do banco Barclays.

Os preços atuais "não são aceitáveis, claro que não", disse a repórteres o ministro do Petróleo do Iraque, Adel Abdul-Mehdi, em sua chegada a Viena. "Devem ser tomadas medidas para elevar os preços", acrescentou.

Mas autoridades dos países do Golfo Pérsico, que podem geralmente equilibrar seus orçamentos com preços menores, receiam que cortes substanciais na produção possam acabar sendo prejudiciais, já que qualquer aumento no preço iria encorajar ainda mais a produção de petróleo de formações de xisto nos Estados Unidos. Os membros da Opep poderiam perder mercado e os preços maiores "facilitariam" o aumento da produção americana, disse uma autoridade do setor no Golfo.

As petrolíferas que exploram petróleo de xisto nos EUA precisam que os preços fiquem entre US$ 53 e US$ 78 o barril para cobrir seus custos, o que significa que a maioria consegue lucrar mesmo com os preços nos níveis atuais, segundo estimativas apresentadas na reunião técnica da Opep semana passada.

Outro problema para a organização é o fraco crescimento global da demanda por petróleo, principalmente nos importantes mercados asiáticos, como a China. Os países industrializados também estão elevando os volumes de suas reservas, acumulando estoques grandes o suficiente para cobrir 59 dias de consumo na primeira metade do próximo ano, comparado com uma média típica de 53 a 54 dias, segundo autoridades da Opep.

Benoit Faucon, Summer Said e Sarah Kent