Rabobank projeta recorde de 38,2 milhões de toneladas de açúcar em 2020/21
30-11-2020

O próximo ano continuará sendo um período de desafios, tanto na área econômica como na de saúde. As perspectivas de renda para os produtores agropecuários, porém, continuam favoráveis. Os dados macroeconômicos para o período serão melhores do que os atuais.

O Produto Interno Bruto (PIB) sai dos 4,9% negativos, previstos para este ano, para uma evolução positiva de 3% em 2021. A inflação sobe para 3,5%, a Selic deve ficar em 3%, e o dólar terá um patamar de R$ 5,25.

As previsões são do Rabobank, uma instituição financeira que tem foco na produção de alimentos no mundo. Os preços das commodities, que afetam o atacado, devem chegar com força menor no varejo devido à capacidade ociosa da indústria.

Em relação ao setor de cana, o analista Andy Duff observa que o cenário nos primeiros meses deste ano tinha tudo para dar errado, mas a safra do Centro-Sul surpreendeu positivamente. A qualidade da cana atingiu 144 quilos de Açúcar Total Recuperável (ATR) por tonelada, o melhor patamar desde a safra 2007/08.

Mas há uma incerteza sobre os efeitos da La Niña nos canaviais. Com isso, o banco espera uma moagem de 575 milhões de toneladas na safra 2021/22, abaixo da deste ano.

A produção de açúcar deverá atingir o recorde de 38,2 milhões de toneladas na safra 2020/21, e a de etanol fica em 27 bilhões de litros. O banco prevê que os preços do açúcar permaneçam entre US$ 0,13 e US$ 0,14 até o segundo trimestre de 2021, em Nova York. No segundo semestre, poderão recuar para a faixa de US$ 0,12 a US$ 0,135.

Os preços internacionais do milho também estarão fortalecidos. Os Estados Unidos produziram abaixo dos 400 milhões de toneladas que previam, e a China deverá importar o recorde de 24 milhões de toneladas.

Com isso, há espaço para o Brasil semear 19,2 milhões de hectares na safra 2020/21, com produção prevista de 107,2 milhões de toneladas. As exportações brasileiras ficarão entre 36 milhões e 37 milhões de toneladas, enquanto as americanas vão atingir o recorde de 67 milhões.

Outros segmentos do agronegócio

Os preços da soja, carro-chefe da agricultura brasileira, vão continuar fortalecidos, ficando entre US$ 12 e US$ 12,40 por bushel (27,2 quilos) em Chicago, segundo Victor Ikeda, analista do banco.

A oferta é baixa e a demanda continua forte. A China deverá, pela primeira vez em 2021, superar os 100 milhões de toneladas de soja importados.

Na avaliação do banco, o Brasil semeará 37,9 milhões de hectares de soja, com produção de 130 milhões de toneladas. As exportações poderão atingir 84 milhões de toneladas.

No algodão, haverá um ajuste de oferta internacional, devido à produção menor nos Estados Unidos, Paquistão e Brasil. Com um cenário mais equilibrado, os preços de Nova York deverão ficar entre US$ 0,65 e US$ 0,72 por libra-peso (454 gramas).

O cenário para as proteínas será desafiador e volátil em 2021, segundo Wagner Yanaguizawa, analista do Rabobank. Guiadas pela China, as exportações estarão atrativas. Cada produto, no entanto, terá uma resposta diferente dos chineses.

A demanda da China pela carne bovina continuará. Neste ano, os chineses ficaram com 38% do volume exportado pelo Brasil. A atratividade dos preços brasileiros no mercado externo se manterá, enquanto as exportações da Austrália perderam força, devido à seca no país.

O setor de avicultura não tem o apelo forte das exportações das carnes bovina e suína, mas ganha corpo no mercado interno, devido à competitividade dessa proteína em relação às outras duas.

Para 2021, Yanaguizawa espera evolução positiva de 1% para produção, consumo interno e exportações de carne de frango.

A necessidade de importação de carne suína pela China vai manter o mercado brasileiro aquecido. A produção sobe para 4,2 milhões de toneladas em 2021, e a exportação, após o recorde de 1,1 milhão previsto para este ano, vai a 1,2 milhão de toneladas em 2021.

A safra de café, após ter atingido 67,5 milhões de toneladas em 2020, recua para 60,7 milhões no próximo ano, mas ainda há muita incerteza sobre o clima. Os preços, que já estiveram favoráveis para o produtor neste ano, ficam entre US$ 1,12 a US$ 1,20 por libra-peso no próximo ano.

Os valores do leite são recordes no campo neste ano. No próximo, o setor vai depender de como será administrado o programa de assistência emergencial pelo governo federal. Além disso, o câmbio também determinará o patamar das importações.

O setor de suco de laranja, uma surpresa positiva neste ano, devido ao maior consumo provocado pelo isolamento, deve confirmar um bom desempenho em 2021.

No setor de celulose, fica um aprendizado, segundo Andrés Padilla, analista do banco. Mesmo com a crise mundial provocada pela Covid-19, a demanda se mantém firme. As exportações de 2021 deverão atingir 15,6 milhões de toneladas.

No setor de insumos, a volatilidade cambial poderá trazer alguns riscos, caso a formação dos custos fique descasada da receita.

Fonte: Folha de S. Paulo
Texto extraído do boletim SCA