Recolhimento da biomassa da cana-de-açúcar
15-07-2020

Decidir a quantidade de palhiço que as máquinas devem aleirar e enfardar no campo ainda é um fator que deve ser bem avaliado.
Decidir a quantidade de palhiço que as máquinas devem aleirar e enfardar no campo ainda é um fator que deve ser bem avaliado.

A utilização da biomassa da cana-de-açúcar é uma realidade cada vez mais presente nos canaviais. No entanto, definir o quanto de palhiço deve ficar na lavoura e o quanto será recuperado na leira é tarefa fundamental para proporcionar maior eficiência no enfardamento e viabilizar a operação.

A cana-de-açúcar é uma cultura onde é possível aproveitar toda a planta. Desde a produção de açúcar e álcool, até a de energia renovável, onde é utilizada a biomassa remanescente no campo por meio de processos industriais no aproveitamento dos subprodutos, existe no setor grande aplicação da biomassa com expectativa de baixo impacto ambiental.

A grande quantidade de biomassa da cana-de-açúcar disponível e remanescente da colheita mecanizada, especificamente a palha e o bagaço, é direcionada para a produção de etanol de segunda geração e cogeração de energia elétrica. A utilização de fontes renováveis de combustível está evoluindo com o passar do tempo, e a biomassa é considerada pelos mercados internacionais como uma das principais alternativas para a diversificação da matriz energética, consequentemente, reduz a dependência de combustíveis fósseis.

Com a eliminação da queima da palha da cana-de-açúcar e a substituição da colheita manual pela colheita mecanizada da cana crua, a palha da cana-de-açúcar começou a receber muita atenção, pois o grande volume de cobertura morta que fica armazenada na superfície do solo pode causar problemas relacionados ao manejo da cultura, como, por exemplo, dificuldades na rebrota e na operação de cultivo, problemas no controle seletivo de plantas invasoras e aumento nas populações de pragas que se abrigam e se multiplicam sob a palhada.

Porém, esse acúmulo de palha também acarreta benefícios. Pode prevenir a erosão do solo, controlar a umidade e as plantas invasoras e servir de fonte para a geração de energia.

Visando minimizar tais problemas, estudos vêm sendo realizados com o objetivo de propor estimativas da quantidade ideal de palha a ser deixada no campo.

Estudos mostram que por razões agronômicas é recomendado manter cerca da metade da palha no solo, reduzindo a erosão e aumentando a ciclagem de nutrientes.

Decidir a quantidade de palhiço que as máquinas devem aleirar e enfardar no campo ainda é um fator que deve ser bem avaliado.

Para aperfeiçoar todo o processo de recolhimento do palhiço e minimizar custos das operações, fazendo com que as máquinas envolvidas forneçam um bom desempenho econômico e operacional, o enfardamento da palha da cana-de-açúcar por máquinas vem sendo bastante pesquisado.

Para chegar a um sistema de recolhimento do palhiço economicamente viável, faz-se necessário um planejamento para atender às necessidades de implantação, condução e retirada da cultura ou material remanescente do campo, estando sujeito à influência de fatores externos com ênfase no solo, clima, fatores operacionais e mão de obra qualificada para operar as máquinas.

Aliar a eficiência operacional das máquinas envolvidas no processo com um desempenho econômico satisfatório ainda é um desafio muito grande nas operações de recolhimento de palha.

Experimento realizado pela FCA Unesp de Botucatu em uma Usina no município de São Miguel dos Campos (AL) objetivou avaliar o desempenho operacional de duas máquinas de enfardamento prismático em palhiço de cana-de-açúcar, em relação a distância entre fardos, em que as máquinas conseguem atuar, refletindo na produção final e diária de fardos e no transporte para a indústria.

O recolhimento do palhiço foi realizado em três diferentes regulagens, definido pelo implemento ancinho aleirador.

Os tratamentos consistiram em: V1 = Recolhimento de 90% do volume total de palhiço; V2 = Recolhimento de 70% do volume total de palhiço; T3 = Recolhimento de 50% do volume total de palhiço.

De acordo com os dados coletados em campo, a distância entre os fardos produzidos diferiu entre os tratamentos para cada máquina, ou seja, a quantidade de palhiço disponibilizado nas linhas aleiradas influenciou na quantidade de fardos produzidos e na produtividade total de cada máquina. A maior distância entre fardos produzidos foi no tratamento V3, em que a distância média foi de 120,33 metros entre fardos, deste modo, quando comparada com a distância dos mesmos no V1, que foi de 61 metros, pode-se observar que de fato o volume de palhiço na leira influenciou a distância entre os fardos produzidos no campo. Esses dados refletem diretamente na dinâmica de transporte desse material para a indústria, pois se observa que quanto menor o volume de palhiço de cana-de-açúcar disponibilizado na leira, maior será a distância entre eles. Isso compromete diretamente a produção de fardos por dia em qualquer empresa que trabalhe na linha de enfardamento dessa biomassa.

Sendo assim, percebe-se que o baixo volume de biomassa na leira compromete não só a produção de fardos palas máquinas, mas também afeta todo o sistema de produção, levando em consideração que, quando a máquina produz uma quantidade mínima de fardos e, consequentemente, com maior distância entre os mesmos, operações como o recolhimento dos fardos já produzidos no campo para serem armazenados nas carretas de transporte também serão afetadas, pois a máquina responsável por coletá-los terá que andar ainda mais para conseguir o número de fardos necessários para completar a carga do caminhão que fará o transporte para indústria ou para o local de estoque, acarretando no maior consumo de combustível. A menor distância entre fardos foi para a Máquina 2, isso porque essa máquina conseguiu recuperar maior quantidade de biomassa na leira e assim proporcionar maior eficiência no enfardamento do palhiço.

Artigo publicado na edição 167 da Cultivar Máquinas.

Anderson Ravanny de Andrade Gomes, Tiago Pereira da Silva Correia, Paulo Roberto Arbex Silva, FCA Unesp de Botucatu-SP

Fonte: Grupo Cultivar