Região de Monte Aprazível, em São Paulo, teme fechamento de unidade do Grupo Moreno em caso de venda
18-09-2020

Monte Aprazível corre risco de perder sua unidade sucroenergética
Monte Aprazível corre risco de perder sua unidade sucroenergética

A próxima assembleia dos credores do Grupo Moreno ocorrerá no dia 28 de setembro, será online, aberta, podendo ser acompanhada pelo Youtube

Enquanto o plano de recuperação judicial do Grupo Moreno, que solicitou a recuperação em 18 de setembro de 2019, está sendo analisado por seus credores, os moradores de Monte Aprazível, SP, e de cidades vizinhas estão apreensivos com o que pode ocorrer com a economia da região, já que um dos credores, o banco Santander apresentou uma proposta da venda de duas unidades do Grupo .

O Grupo Moreno é composto pelas empresas Central Energética Moreno de Monte Aprazível Açúcar e Álcool (CEMMA), Coplasa - Açúcar e Álcool Ltda, instalada em Planalto, SP, Agrícola Moreno de Luiz Antônio (AMLA), Agrícola Moreno de Nipõa Ltda. (AMN) e Planalto Bioenergia Spe.

A proposta do Santander é que as sejam vendidas para a Cofco International a Central Energética Moreno de Monte Aprazível Açúcar e Álcool (CEMMA) e a Coplasa - Açúcar e Álcool Ltda, instalada no município vizinho de Planalto.

A venda das duas unidades da Moreno para a Cofco deixa os fornecedores apreensivos, pois, além de passar a haver um monopólio pela cana na região, corre a notícia que o grupo chinês iria fechar a CEMMA. “Isso irá causar um caos social em Monte Aprazível, já somos conhecidos por polígono da fome, devido à falta de oportunidades. Aqui só tem um laticínio e a usina, que é quem mais gera impostos para o município. Com o fechamento, além da queda da arrecadação, haverá desemprego, não só dos funcionários da empresa, mas das oficinas, borracharias, pois a Moreno realiza 100% desses serviços na cidade. E isso é só o começo, os estragos na economia da cidade serão diretos e indiretos”, observa Juliano Goulart Maset, presidente da Associação dos Plantadores de Cana e Outras Culturas da Região de Monte Aprazível (Aplacana).

De acordo com Donaldo Paiola, produtor rural e representante dos fornecedores e arrendatários da Moreno, cerca de 750 produtores de cana, os fornecedores de cana na região de Monte Aprazível não têm nada contra a Cofco, mas preferem que as unidades se mantenham com a Moreno. “A Cofco paga tudo direitinho, em dia, mas é multinacional, a conversa é mais difícil. Já estamos acostumados com a Moreno, é tudo mais acessível. E sabemos que, se derem oportunidade para eles, vão se recuperar. Os bancos fazem um marketing bonito sobre o seu lado social, mas só pensam neles. Eles têm garantia real de que receberão, depois serão quitadas as dívidas trabalhistas, já os fornecedores de cana, no caso de venda das unidades, nem sabem se receberão.”

Maset observa a falta de compromisso social por parte dos bancos. “Não estão nem aí para a população. Estamos muito revoltados, principalmente com o Santander, vamos fazer uma campanha para que os associados da Aplacana encerrem suas contas com o banco e pensamos em usar a força das mídias sociais par tentar sensibilizar a justiça para que não aceite a proposta de vendas das unidades, o que irá balar seriamente a economia da região.”

Poloni também teme pela venda das unidades do Grupo Moreno

A pequena cidade de Poloni, com menos de seis mil habitantes, fica entre as unidades do Grupo Moreno de Monte Aprazível e Planalto, sem indústria açucareira, Poloni não recebe ICMS gerado pelas usinas, mas de forma indireta é beneficiado pelas unidades da Moreno. E a possível venda das unidades do Grupo tem tirado a tranquilidade de seus moradores.

Antonio José Passos é prefeito de Poloni, mas também é fornecedor de cana da Moreno e tem uma frente de trabalho, com 70 funcionários, que presta serviços às unidades do Grupo. Segundo ele, a economia do município é muito dependente das unidades da Moreno, não só em decorrência dos empregos diretos, mas dos indiretos.

“É a demanda dessas unidades que mantém as oficinas e outras atividades do comércio. Temos um relacionamento muito bom com o Grupo Moreno e a venda das unidades nos preocupa muito. Meu pai foi um dos cinco responsáveis pela vinda da família Moreno para a região. Os incentivou para investir aqui, pois havia um espaço para a cana e nós necessitávamos de emprego e renda”, conta Passos, ressaltando que a importância social precisa ser levada em conta pela justiça.

Já ocorreram  de forma online duas assembleias com os credores do Grupo Moreno. Na primeira, realizada em primeira realizada em 14 de agosto de 2020, o Grupo Moreno apresentou um plano de recuperação com a previsão de vendas de ativos, que se iniciava com a venda do projeto de cogeração, depois a capitalização com a venda de outros ativos, que poderia até ser uma unidade, no caso a Central Energética Moreno Açúcar e Álcool (CEM), localizada em Luiz Antonio, SP, mas isso, só no caso de o Grupo não estiver honrando a previsão do plano. 

Porém, os bancos não aceitaram a proposta. “O Santander, um dos principais credores do Grupo Moreno, apresentou um plano alternativo, propondo a venda das unidades CEMMA e COPLASA para a Cofco International, dona de uma unidade sucroenergética há 30 quilômetros de distância duas unidades da Moreno,

Em resposta, o Grupo Moreno colocou em seu plano de recuperação a venda da Central Energética Moreno (CEM), de Luiz Antonio, que na primeira versão do plano aparecia como condição de venda, caso o Grupo não cumprisse seus compromissos. Mas a proposta não saciou o apetite dos bancos, que querem mais, o principal objeto de desejo é a Coplasa, a maior das três unidades, com capacidade de moagem para 6 milhões de toneladas de cana- de-açúcar por safra.

No dia 23 de setembro, os representantes da Moreno devem apresentar o plano de recuperação com alterações e a nova assembleia dos credores do Grupo Moreno ocorrerá no dia 28 de setembro, será online, aberta, podendo ser acompanhada pelo Youtube.

Fonte: CanaOnline