Resistência da Cigarrinha-das-raízes aos inseticidas exige melhor manejo dos canaviais
06-12-2019

A cigarrinha-das-raízes não é o único inseto-praga da cana que está se tornando resistente aos inseticidas, mas é a mais preocupante. Foto: Arquivo CanaOnline
A cigarrinha-das-raízes não é o único inseto-praga da cana que está se tornando resistente aos inseticidas, mas é a mais preocupante. Foto: Arquivo CanaOnline

Uso contínuo de um mesmo modo de ação remove seletivamente indivíduos susceptíveis, mantendo na população os resistentes, que sobrevivem à aplicação do inseticida e se multiplicam entre si

Leonardo Ruiz

O primeiro caso de resistência de inseto a inseticida foi documentado em 1914. Desde então, 586 espécies foram registradas como resistentes, envolvendo 325 inseticidas diferentes e cinco características genéticas de resistência.

Atualmente, a cigarrinha-das-raízes não é o único inseto-praga da cana que está se tornando resistente aos inseticidas – já houve casos registrados para broca-da-cana -, mas é a mais preocupante. “Devemos nos atentar ao assunto, com o intuito de preservar os produtos disponíveis pelo máximo de tempo possível. Existe, inclusive, um comitê internacional de ação de resistência de inseticidas com braço no Brasil, do qual participam a maioria das multinacionais”, alerta a pesquisadora do Instituto Agronômico (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Leila Luci Dinardo-Miranda.

CASOS DE RESISTÊNCIA DE ARTRÓPODES A INSETICIDAS

Fonte: IRAC

Entretanto, a pesquisadora ressalta que a resistência não é sempre a culpada pelo baixo desempenho de um produto aplicado para o controle de determinada praga. “Às vezes, a falha no controle pode ser causada pela má qualidade da aplicação (bico entupido ou máquina mal regulada), dose errada, condições climáticas e/ou densidade populacional da praga muito alta e a dose muito baixa.”

Segundo Leila, um caso de resistência ocorre quando há redução da susceptibilidade de uma população da praga a um inseticida, percebida por diversas falhas de controle por meio do produto, usado de acordo com as recomendações de bula e quando o baixo desempenho não pode ser explicado por outros problemas, como erros de doses ou na aplicação.

COMO A RESISTÊNCIA SE DESENVOLVE?

Uma população de pragas de determinada área tem uma variabilidade genética natural. A maioria dos insetos são suscetíveis aos inseticidas e bem poucos são resistentes. Ao aplicar o defensivo, grande parte dos suscetíveis são eliminados, enquanto apenas alguns sobrevivem. Já os resistentes irão todos sobreviver. Eles, por sua vez, se acasalarão entre si, deixando uma quantidade maior de descendentes resistentes na área.

EVOLUÇÃO DE INDIVÍDUOS RESISTENTES APÓS O USO CONTÍNUO DO MESMO INSETICIDA

Fonte: Divulgação Leila Luci Dinardo-Miranda

No ano seguinte, o mesmo inseticida é aplicado. O processo ocorrerá da mesma forma. A maioria dos suscetíveis morre, poucos sobrevivem, mas todos os resistentes permanecem. Ocorrem novos acasalamentos e a população de resistentes crescerá mais uma vez. Perpetuado esse cenário por anos consecutivos, chegará um determinado momento em que o número de resistentes suplantará o de suscetíveis. Ao aplicar o inseticida de sempre, não haverá controle.

“Ao usarmos constantemente o mesmo produto e o mesmo modo de ação, acabamos por selecionar os indivíduos resistentes àquele produto, sendo que a frequência dos resistentes aumentará exponencialmente na população. Em consequência, o inseticida se torna menos eficiente”, afirma a pesquisadora do IAC.

 FATORES QUE ACELERAM A EVOLUÇÃO DA RESISTÊNCIA NOS INSETOS

A pesquisadora do IAC explica que os insetos têm vários mecanismos de resistência a inseticidas, como genes que induzem a produção de enzimas que degradam mais rapidamente os inseticidas ou que impulsionam maior produção de uma excreção que dificulta a entrada do defensivo pela epiderme. Todavia, existem certos fatores que aceleram a evolução da resistência:

 

Fatores genéticos:

  • Número de alelos de Resistencia
  • Frequência dos alelos R
  • Dominância dos alelos R
  • Penetrância, expressividade e interação entre os alelos R

 

Fatores biológicos:

  • Ciclo de vida; gerações por ano
  • Número de descendentes por geração
  • Monogamia, poligamia, partenogênese
  • Monofagia; polifagia
  • Mobilidade; imigração
  • Presença de refúgio

 

Fatores operacionais:

  • Tipo de inseticida
  • Relação do inseticida com outros aplicados previamente
  • Persistência do inseticida
  • Número de aplicações por ciclo
  • Dose (relacionada à dominância do gene R)
  • Nível populacional da praga utilizado para tratamento (NC)

 

De acordo com Leila, dentre as principais consequências da resistência de insetos a inseticidas, destacam-se: aplicações mais frequentes de inseticidas; uso de doses mais elevadas e de mistura de ativos; mudança de produto; e comprometimento dos programas de manejo de pragas.

 

MANEJO DA RESISTÊNCIA

Para evitar que os insetos desenvolvam resistência aos inseticidas, é necessária uma mudança de ideologia. O primeiro passo é parar de usar o mesmo produto de modo contínuo. Esse ato remove seletivamente apenas os indivíduos susceptíveis, mantendo na população os resistentes, que sobrevivem à aplicação do inseticida.

“Temos que usar inseticidas de grupos diferentes a cada aplicação. Uma usina não pode comprar 100% de um determinado produto e usá-lo a vida inteira. Tem que haver rotação”, alerta Leila.

A adoção de outras ferramentas de controle – como métodos biológicos ou culturais - também é de extrema importância, principalmente em áreas de baixas populações ou em canaviais onde já há problemas com resistência. “Deixar áreas de refúgio não tratadas para permitir a migração de indivíduos suscetíveis visando reduzir a frequência dos alelos R; reduzir o número de aplicações e usar dose de bula e inseticidas de baixo impacto e pouco persistentes também são alternativas viáveis.”

SAIBA SOBRE AS MELHORES SOLUÇÕES PARA OBTER UM CANAVIAL COM EXCELÊNCIA. RECEBA GRÁTIS O INFORMATIVO DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA CANAONLINE. CADASTRE-SE NO SITE – WWW.CANAONLINE.COM.BR