Restrição gera compulsão
17-10-2019

 

Nos últimos anos, escolher o que comer tem sido mais tenso do que jogo de Copa do Mundo. Cada mordida é recheada de cálculos, pesos e medidas. O fato é que quando o time está desequilibrado, o resultado pode ser um fatídico 7X1. E, nesse momento, os olhares buscam encontrar um culpado e desconsideram que um time não é feito por apenas um jogador. 

Ao longo dos anos, alguns alimentos passam de mocinhos a “vilões” num passe de mágica. O ovo, por exemplo, que há dez anos era considerado prejudicial à saúde por “aumentar as taxas de colesterol”, recentemente foi inocentado pela academia. Esse é apenas um caso entre diversos alimentos que têm enfrentado uma série de acusações infundadas. E a bola da vez é o açúcar. 

“Acho que as pessoas têm que entender que deve existir equilíbrio em consumo, porção e frequência. Se não tiver nenhuma patologia, não tem por que proibir o consumo”, afirma a nutricionista Vanderli Marchiori. 

A psicóloga Carol Elisa explica que quando as pessoas começam a pensar na comida de forma punitiva e carregada de culpa, acabam perdendo o domínio das quantidades. “Lembre-se: restrição gera compulsão”, alerta a profissional. 

 “Traga autorização para sua forma de comer. Traga autorização para sua vida. É muito comum polarizarmos os alimentos definindo aqueles que são bons e permitidos e aqueles que são ruins e proibidos. Vivendo uma montanha russa em um ciclo de restrição de tudo que é gostoso, e uma consequente e incontrolável proximidade com esses mesmos alimentos, não conseguindo mais parar de comer”, afirma a nutricionista Talita Reis. 

O AÇÚCAR

O ingrediente que definiu grande parte da identidade nacional e impulsionou a economia do país, está presente diariamente na mesa dos brasileiros marcando datas importantes e sendo contexto e pretexto para reuniões, confraternizações e encontros. 

Foi da Ilha da Madeira, em Portugal, que foram embarcadas as primeiras mudas de cana-de-açúcar com destino ao Brasil. O apogeu açucareiro no país deu-se no século XVII, com 230 engenhos produzindo cerca de dois milhões de arrobas, o equivalente a pouco mais de 29 mil toneladas. 

“O Brasil nasce praticamente junto com a cana-de-açúcar, nosso primeiro ciclo econômico importante.  O paladar de qualquer pessoa se desenvolve quando se é criança e o paladar do Brasil, como nação, se desenvolveu no período da cana-de-açúcar. A comida tem uma questão cultural muito forte. A definição de um povo passa pelos seus aspectos culturais e a comida é um elemento extremamente importante”, diz o historiador João Luiz Maximo da Silva, especialista na área de história da alimentação e gastronomia. 

O contato do açúcar com as papilas gustativas desperta várias de reações químicas no nosso organismo. Ainda na boca, o cérebro recebe uma mensagem de recompensa e, consequentemente, libera dopamina. No estômago, o açúcar é transformado em glicose, que o combustível para as células funcionarem corretamente. O açúcar também ajuda na liberação de serotonina, o hormônio da felicidade. 

“Sabe aquela sobremesa que você tanto gosta? Vá lá e coma! Sabe aquela massa que que te lembra sua avó? Coma! Enquanto isso, acesse suas memórias afetivas com ela. Sabe aquele hambúrguer? Coma! Chame seus amigos e relembre de boas histórias. Dê gargalhadas”, aconselha Reis. 

 

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