Risco geopolítico eleva preços da ureia e ameaça abastecimento de fertilizantes no Brasil
12-08-2025

Dependência de insumos russos coloca setor agrícola em alerta; sanções da OTAN podem impactar custos e relação de troca para produtores de grãos

Por Andréia Vital

O mercado de fertilizantes fechou julho sob influência direta de fatores geopolíticos. O segmento de nitrogenados manteve tendência de alta, com a ureia avançando 5,2% no mês e sendo cotada a US$ 455/t nos portos brasileiros. Já os fosfatados e potássicos permaneceram relativamente estáveis: o MAP recuou 0,3%, a US$ 757,5/t, e o KCl manteve-se em US$ 362,5/t conforme informações do relatório Agro Mensal - Agosto do Itaú BBA.

O documento cita que a tensão aumentou após o secretário-geral da OTAN, com apoio dos EUA, ameaçar impor sanções secundárias a países que mantêm relações comerciais com a Rússia — medida que poderia afetar significativamente o Brasil, que importa 26% de seus fertilizantes desse país. A Rússia é um dos principais fornecedores globais, oferecendo preços geralmente mais competitivos que outras origens. Em 2024, foi responsável por 53% do MAP, 40% do KCl e 20% da ureia importada pelo Brasil.

“A interrupção desse fluxo implicaria aumento expressivo nos custos de produção agrícola, agravando a já desfavorável relação de troca entre produtos agrícolas e fertilizantes, especialmente para produtores de grãos. O risco é ainda maior considerando o histórico de interrupções na oferta de nitrogenados, já prejudicada por conflitos internacionais: fábricas no Egito e no Irã reduziram atividade, e, em julho, uma unidade de nitrogenados na Rússia foi atingida por um drone”, ressalta o banco.

Em reação, países com compras centralizadas, como a Índia, anteciparam aquisições para evitar desabastecimento. “Essa antecipação global, somada às incertezas geopolíticas, impulsionou os preços dos nitrogenados, mesmo com o gás natural — principal insumo para produção de ureia — registrando queda nas cotações internacionais”, ressalta o relatório.