Roberto Rodrigues e as eleições - Paulo Costa
26-09-2014

A Notícia: “Temos três candidatos mais competitivos que disputam a Presidência da República. A presidente Dilma Rousseff, do PT, a candidata do PSB, Marina Silva, e Aécio Neves, pelo PSDB. Qual é o juízo que o sr. faz das propostas de cada um dos três para o agronegócio? Eu tenho 50 anos de vida na agricultura sempre em órgãos de classe. Em eleições nesses 50 anos sempre o setor se organizou e levou aos candidatos propostas e planos de ação. Nunca houve a menor reação em relação a isso. Nesta eleição, os três candidatos procuraram o setor em busca de sugestões para um plano de governo. Nós montamos um plano e enviamos aos três candidatos. Eles responderam. Aécio Neves e Eduardo Campos foram muito próximos do que nós pretendíamos.

A presidente Dilma aproximou-se muito da presidente da CNA [Confederação Nacional da Agricultura], nossa maior líder, senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), e o programa foi costurado entre ambas também com aproximação muito grande dos interesses do setor. Os três candidatos, Aécio, Eduardo e Dilma, estavam muito próximos dos sonhos da agricultura. A tragédia de Eduardo Campos mudou um pouco o cenário. A candidata Marina Silva introduziu no programa alguns temas que não são tão afeitos aos interesses do setor.

Quais são eles? Dois temas centrais. Primeiro ela ressuscitou o índice de produtividade como instrumento de medir a capacidade do produtor de produzir adequadamente num nível que atenda à determinação constitucional, segundo a qual toda propriedade rural tem que cumprir a sua função social, produzir, gerar emprego e proteger o meio ambiente. Quem não cumprisse isso ficaria sujeito a desapropriação. E o outro item é o do desmatamento zero, que eu acho que é um pouco utópico. O mundo terá [mais] 2 bilhões de pessoas nos próximos 30 anos. Vamos precisar comer. 80% do crescimento da produção virá de produtividade, mas 20% virão de novas áreas no Brasil e em outros países do mundo. O Brasil tem hoje 61% do território com florestas nativas do tempo de Adão e Eva. Abrir algum cerrado será necessário. A minha tese é desmatamento ilegal zero. Ou faz com legalidade, com autorização do Ibama, do Meio Ambiente, ou não pode fazer. Mas desmatamento zero eu acho que é um exagero.” (Fonte: Parte de entrevista concedida pelo ex-Ministro da Agricultura Roberto Rodrigues ao programa “Poder e Política – Folha/UOL”, jornalista Fernando Rodrigues)

O Comentário: Roberto Rodrigues é a maior referência do agronegócio brasileiro, em que pesem seus elogios à senadora Kátia Abreu e a suspeição deste autor ao falar dele*. O amor pela agricultura está em seu DNA. Seu pai, Antônio Rodrigues**, foi Secretário da Agricultura do Estado de São Paulo na década de 60. Sua entrevista, longa mas que vale muito a pena ser lida na íntegra, mostra a sabedoria política de Roberto Rodrigues. Declaradamente eleitor de Aécio Neves, embora tenha sido Ministro de Lula, está “mandando recado” claro do setor à candidata Marina Silva, apontando os temas de seu programa de governo (aliás, o único plano de governo declarado por qualquer dos candidatos) que precisam ser melhorados para ganhar a simpatia do agro. Diz ele, em outro trecho da entrevista, que está em diálogo permanente com o candidato a Vice Presidente de Marina Silva, Beto Albuquerque, este sim um político de forte ligação com o agronegócio. Em outras palavras, nestas declarações ele já se previne da possibilidade de que Marina venha a ser eleita e possa ser cobrada pelo setor que é desde há muito o pilar de nossa economia.

*Sou suspeito para falar de Roberto Rodrigues pois, além de ter convivido com o mesmo em algumas situações de minha vida profissional, tenho um filho agrônomo que o teve como professor e paraninfo de sua turma na UNESP Jaboticabal. Por meio deste filho soube como era o convívio paterno/fraternal de Roberto Rodrigues com seus alunos. Mesmo em seu tempo de Ministro fazia o possível para não deixar de ministrar sua aulas, paixão que sempre teve em passar seus conhecimentos a seus pupilos.

**Quanto ao seu pai, conhecido como dr. Antoninho Rodrigues, bem no início de minha carreira profissional, tive a sorte imensa de participar de algumas reuniões com o mesmo, onde eu representava uma empresa interessada em investir no setor citrícola e ele uma indústria de sucos interessada na sua venda. O negócio acabou não vingando mas o grau de cavalheirismo do “dr. Antoninho”, sua paciência em ensinar um jovem aprendiz, foram marcas que ficaram para sempre em nossa memória.

 

Paulo Costa é consultor em agronegócios e bioenergia