Safra 2025/26 deve fechar em 600 mi t de cana e Consecana-SP ao redor de R$ 1,12/kg ATR, com viés de baixa, diz Pecege
29-10-2025

Panorama da temporada foi apresentado no I Fórum da Longevidade do Canavial realizado nesta terça-feira (28) pelo GECA–Esalq/USP

Por Andréia Vital

O primeiro dia do Fórum da Longevidade do Canavial foi realizado nesta terça-feira (28) e contou com a participação do consultor João Rosa (Botão), diretor do Pecege Projetos. O evento online, promovido pelo Grupo de Estudos em Cana-de-Açúcar (GECA) da Esalq/USP, que prossegue nesta quarta-feira (29), reúne especialistas para discutir economia, manejo de solos, melhoramento genético, meteorologia agrícola e uso de corretivos — com foco em práticas que ampliem a longevidade dos canaviais.

Na abertura sobre “Panorama Econômico do Setor Sucroenergético”, Rosa projetou uma safra menor no Centro-Sul, com moagem na casa de 600 milhões de toneladas - abaixo do patamar de pouco mais de 620 milhões de 2024/25. A principal causa é a queda do TCH e segundo ele, o aumento de área colhida compensa apenas parte das perdas.

No preço, a última leitura do Pecege indica Consecana-SP ao redor de R$ 1,12/kg ATR, com viés de baixa, refletindo a queda do açúcar em dólar e a valorização do real. “Estamos voltando a níveis historicamente ‘normais’ após dois anos muito favoráveis; o ATR tende a ficar pressionado”, disse.

Rosa detalhou a fotografia de custos de 2024/25: formação do canavial em torno de R$ 17 mil/ha (cerca de R$ 14 mil/ha sem muda), tratos de cana-soca entre R$ 3,5 mil e R$ 4 mil/ha e CTT + apoio na ordem de R$ 47/t, considerando raio médio de 25 km. Arrendamentos variam por praça e ficam, em média, perto de R$ 2,5 mil/ha, com regiões tradicionais (Ribeirão Preto/Araraquara/Noroeste paulista) entre as mais caras. Com produtividade média próxima de 75–78 t/ha, o custo de produção de referência ficou em aproximadamente R$ 167/t de cana.

A decomposição dos gastos aponta onde atacar eficiência: cerca de 45% do desembolso por tonelada está em “operação” (mão de obra, máquinas e diesel), 26% em insumos, 18% em terra/arrendamento e 6% em administrativos/royalties. Dentro dos insumos, fertilizantes respondem por aproximadamente 10% do custo total, defensivos aproximadamente 8%, corretivos aproximadamente 2,5% e mudas aproximadamente 4%.

“É comum cortar insumo para fechar o orçamento, mas o grande vetor está na operação. Uma colhedora trabalha em média 10–11 horas efetivas por dia; há usinas com 13–14 horas e outras com 6–9. O ganho está em disponibilidade, manutenção e logística”, afirmou, reforçando que decisões de curto prazo em cultura semiperene podem “cobrar a conta” adiante.

Com o ATR de 2024/25 perto de R$ 1,19/kg (base de comparação citada) e custo operacional por hectare próximo de R$ 13 mil, a “relação de troca” indica necessidade em torno de 11 mil kg de ATR/ha para pagar o custo, o que, a 135 kg ATR/t, equivale a aproximadamente 81 t/ha. A mensagem: o setor deve adotar métricas como R$/kg ATR e relações de troca, e não apenas R$/ha, para alinhar custo à produtividade.

No mix, Rosa avaliou que, no momento, o etanol mostra melhor atratividade que o açúcar, mas não o suficiente para reverter a pressão sobre o Consecana-SP, que pode girar em torno de R$ 1,10 no próximo ciclo. Para 2026, a tendência de produtividade é de melhora, caso o regime de chuvas se mantenha normal e se confirme a intensidade de plantio de 2025 — o que ajudaria a diluir custos por tonelada.

Entre vetores estruturais, a bioeletricidade foi citada como oportunidade recorrente e subaproveitada (especialmente no pico de safra, quando os reservatórios hidrelétricos baixam), enquanto o etanol 2G ainda exige curva de aprendizado para competir com 1G. O etanol de milho, hoje perto de um quarto da oferta, “muda a dinâmica de sazonalidade”, mas o “risco” maior está na demanda: ampliar mistura, educar o consumidor e abrir mercados externos são prioridades.

A “longevidade” - eixo central do Fórum - foi tratada como alavanca de margem desde que acompanhada de manutenção do TCH. Simulações apresentadas mostram que cada corte adicional, mantendo produtividade, melhora o resultado ao diluir o investimento inicial. O “tripé técnico” proposto combina produtividade, ATR e longevidade, com o quarto pilar em custos. “Custo importa, mas margem importa mais. Eficiência operacional, contratos bem calibrados e métricas corretas é que sustentam canaviais mais longevos e rentáveis”, concluiu.

O Fórum prossegue com debates sobre manejo de solos e corretivos, melhoramento genético, pragas e meteorologia aplicada, pilares agronômicos que, combinados ao ajuste econômico-operacional, sustentam a longevidade do canavial.

Interessados podem fazer a inscrição para acompanhar o evento (pago) nesta quarta-feira (29) pelo link:

https://fealq.org.br/eventos/i-forum-da-longevidade-do-canavial/?fbclid=PAb21jcANtuKVleHRuA2FlbQIxMQABp_kBFK0Z0LCc6FQbCOzbHpR7U-HosjFR6uos0itoUBEMQihoKy5sVbHsWHwN_aem_0STpUtoCBimebI9yLXM6vw