Se La Niña trouxer uma seca severa, a produtividade agrícola deverá cair e poderá melhorar o ATR
04-05-2016

Grande produtor de cana-de-açúcar das regiões de Orindiúva e de Jaboticabal, Roberto Cestari iniciou a safra no início de abril, com estimativa de conclusão apenas nos últimos dias do mês de novembro. “Pela escala que temos de cana, precisamos iniciar junto com a indústria.”

Para ele, as oscilações do clima é um dos grandes problemas do produtor canavieiro. Afinal, trata-se de uma cultura de colheita longa, com início em abril e final em novembro (via de regra). “O ideal para a lavoura seria ter uma melhor distribuição do índice pluviométrico da chuva ao longo do ciclo. Infelizmente as condições climáticas fogem ao controle humano, mas nos resta fazer a nossa parte.”
Em 2016, depois de um início de ano bem molhado nas regiões canavieiras, em março a chuva cessou e em meados de abril já se podia dizer que havia déficit hídrico na lavoura.
Para ele, a estimativa de formação de um La Niña não é positiva para os produtores de cana. “Hoje, nossa previsão é de que teremos um crescimento da produção de 5% a 10% em relação ao ano passado, a não ser se a seca for muito violenta e prejudicar a produtividade agrícola. Isso pode acontecer, porque a cana está vegetando, principalmente aquela que foi tirada mais tarde no ano passado.”
Mas se por um lado o tempo de fato for seco, prejudicando a produtividade, o ATR pode ser um pouco melhor do que no ano passado, na avaliação de Cestari.

O LA NIÑA
De acordo com Júlio César Lázaro da Silva, geógrafo pela Universidade Estadual Paulista, o La Niña consiste em uma alteração cíclica das temperaturas médias do Oceano Pacífico, sendo observado principalmente nas águas localizadas na porção central e leste desse oceano. Tal transformação é capaz de modificar uma série de outros fenômenos, como a distribuição de calor, concentração de chuvas, formação de secas e a pesca. O efeito La Niña está ligado ao resfriamento das temperaturas médias das águas do Oceano Pacífico, representando exatamente o oposto do fenômeno El Niño, que produz um aquecimento anormal de suas temperaturas.
O fenômeno La Niña ocorre nos intervalos entre o El Niño e a situação de normalidade das temperaturas do Oceano Pacífico. Ele diminui a quantidade de chuvas do litoral do Chile, Peru e Equador, pois com o aumento da velocidade dos ventos alísios, a formação de nuvens acaba dispersa em direção à Oceania e Indonésia. A Austrália, por exemplo, possui um aumento considerável de suas chuvas durante a ocorrência do La Niña. A pesca, em contrapartida, é favorecida no litoral leste do Oceano Pacífico, junto à América do Sul.
No Brasil, o La Niña provoca estiagem nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e principalmente Sul. No Nordeste e na Região Amazônica são verificados aumentos na intensidade das estações chuvosas, podendo até mesmo justificar cheias mais expressivas de alguns rios amazônicos e de enchentes mais vigorosas no litoral nordestino. Tomando como referência o último evento La Niña, ocorrido entre os anos de 2010 e 2012, é possível verificar algumas de suas consequências para o clima e a economia, em especial para as atividades agrícolas. No caso da produção de cana-de-açúcar, a redução das chuvas no Centro-Sul ajudou a diminuir a safra desse cultivo, o que também pôde ser sentido no aumento dos preços do etanol, combustível fabricado a partir da cana. A produção de soja brasileira, apesar de manter seu processo de expansão, também foi limitada pelas estiagens provocadas pelo fenômeno La Niña no período destacado. Até os Estados Unidos, país que conta com uma agricultura moderna e de precisão, tiveram prejuízos em sua produção de trigo praticada nas planícies do Sul graças às secas relacionadas ao La Niña.
E a formação deste fenômeno está confirmada. A neutralidade climática do inverno poderá ser pouco duradoura e o fenômeno La Niña poderá influenciar a atmosfera já a partir da primeira metade da primavera 2016.


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