Se o governo não atrapalhar a produção de cana pode melhorar ainda mais
12-05-2016

O Presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (SIAMIG), Mário Campos, concedeu uma entrevista para o Blog do PCO, sobre a atual situação do setor em Minas Gerias e suas perspectivas.
A cana-de-açúcar é atualmente a matéria prima de produtos que vão desde o açúcar, ao álcool combustível, sendo utilizada ainda como fonte de eletricidade. Tudo é aproveitado na cana, segundo Mário Campos, presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais, do Sindicato da Indústria da Fabricação do Álcool no Estado de Minas Gerais e do Sindicato da Indústria do Açúcar. A biomassa representa quase 10% da matriz energética de Minas Gerais e 8% do consumo nacional de eletricidade. A energia é usada, principalmente para abastecer as próprias usinas. O restante da produção é vendido. O setor sofreu uma forte intervenção do governo de 2010 a 2015, de acordo com Mário Campos, para quem, ainda assim, as usinas têm conseguido avanços tecnológicos importantes e obtido preços melhores para os consumidores, no caso do etanol, graças a redução do ICMS do produto, que em Minas Gerais caiu de 19 para 14%.

Como a cana de açúcar está sendo utilizada na geração de energia?

O açúcar é utilizado como energia para o ser humano, o etanol é uma energia líquida para os carros e temos agora a energia elétrica, que chamamos de bioeletricidade. Todos estes produtos têm origem na cana de açúcar, que seria a nossa grande fonte de energia. Todo e qualquer projeto do setor tem que ser olhado sob a ótica dos três produtos com base na plantação da cana de açúcar, que dá toda a condição de tornar o setor sucroenergético nacional a principal fonte renovável da nossa oferta de energia no país. A biomassa representa, atualmente, quase 10% da matriz energética de Minas Gerais e 8% do consumo nacional de eletricidade.

 

Onde essa energia vem sendo utilizada?

Minas Gerais é o terceiro maior produtor de cana, com 36 unidades produtoras. No Brasil são 380 unidades. São Paulo é o maior e principal produtor, depois vem o estado de Goiás. As usinas estão localizadas em nove das 10 regiões administrativas do estado de Minas. Boa parte da produção está no Triângulo Mineiro, onde temos quase 65% da produção e onde estão localizadas as maiores empresas do setor. Das 36, apenas 18 vendem energia, a bioeletricidade, para o sistema elétrico nacional. O setor produz a própria energia. Produzimos etanol e açúcar com energia do próprio setor. Eu colho a cana, levo essa cana para a usina, tiro o caldo dela e produzo açúcar e etanol e do bagaço é produzida a energia para alimentar a usina. O excedente é vendido. Tudo é aproveitado. Agora, mais recentemente, nós tivemos a notícia da possibilidade de usar a vinhaça, que é um subproduto do etanol. Para cada litro de etanol, nós temos 13 de vinhaça, que é rica em matéria orgânica e com ela é possível produzir o biogás. Isso acontece a partir de biodigestores que são instalados nas usinas de forma que é possível extrair o biogás. A vinhaça já é utilizada pelo setor para irrigação, porque ela é rica em potássio. Sem prejudicar essa irrigação nós poderemos produzir o biogás. São situações que vamos moldando dependendo da viabilidade do projeto.

 Quais os entraves no setor?

Se nós tivermos um novo período de interferência no preço dos combustíveis, como tivemos entre 2010 e 2015, que prejudicou muito o setor, isso vai afetar a produção de cana e consequentemente do açúcar e da bioeletricidade. O álcool combustível surgiu justamente como uma opção mais barata em relação à gasolina e em vários momentos a diferença nem chega a ser tão significativa. Nós temos a participação do etanol hoje no mercado de combustíveis de quase 50%. Além do etanol que o consumidor encontra nas bombas, temos a mistura do etanol anidro na gasolina, em 27%. É um mercado considerável. O mercado aumentou muito nos últimos anos e o setor tem se esforçado para estar sempre ofertando o produto para o mercado. Mas, infelizmente, vivemos muitas interferências governamentais nos últimos anos. Agora o mesmo o governo federal, mas nas esferas estaduais os governos passaram a incentivar e nesse caso, Minas Gerais deu o exemplo ao reduzir o ICMS do etanol de 19 para 14%. Essa redução possibilitou o mineiro, que não utilizava o etanol no seu carro, abastecer com um preço competitivo. Nós iniciamos a safra, nós não teremos uma safra tão grande quanto a última, de 65 milhões de toneladas de cana, mas vamos manter a produção de etanol e três milhões de litros, que é a maior produção da história do estado.

 

Isso significa preço mais barato para o consumidor?

Isso significa preço mais barato na bomba. Hoje nós já temos em toda Minas Gerais relação de preço etanol/gasolina inferior a 70% e o mineiro é conhecido por fazer conta, por buscar a alternativa mais barata e já está voltando a colocar o etanol no seu veículo. No ano passado, o consumo de etanol cresceu 140% em função da redução do ICMS e este ano nós pretendemos manter esse mercado nesse nível. E é uma boa notícia para o consumidor, que em tempos de crise, tem condições de abastecer com um combustível mais barato, que também é limpo e renovável, e ajuda o meio ambiente.

 

Mesmo com o problema com a safra, não é possível ter o álcool mais barato o ano todo?

Uma das possibilidades que nós buscamos, até para atender as metas climáticas que o Brasil tem assumido junto ao mundo, de reduzir, até 2030, em 43% a emissão de gases de efeito estufa e o etanol faz parte desta política. Nós precisamos investir em tecnologia, a questão sazonalidade dificulta a produção do etanol. Mas, se tivermos mecanismos de financiamento de estoque, que possibilite que o produtor não tenha que vender toda sua produção durante a safra, porque não tem condições de armazenar seu estoque para a entressafra, aí sim poderemos ter um mercado mais estável em termos de volatilidade de preços. Infelizmente hoje nós não temos esses mecanismos. Nós temos que produzir em sete meses e comercializar em 12 e nem todas as usinas conseguem fazer isso.