Setor sucroalcooleiro brasileiro foi "depenado"
01-06-2015

Crise, ora a crise. Essa é a hora de os que têm dinheiro comprar barato dos que perderam dinheiro. O setor sucroalcooleiro brasileiro foi depenado pelo governo, na sua ambição político-partidária da perpetuação no poder. Aliás, vale dizer que o único partido que nos interessaria seria o Partido do Brasil, e esse é o que menos conta nas contas de quem faz as contas, pela ótica das facções dos partidos e suas subfacções. Assim, como a imprensa revelou sobre os contratos da CBF, bilionários para si mesma e seus parceiros, e detonador dos interesses dos clubes brasileiros, e ora bolas para o futebol do Brasil.

Nesse instante, o setor recebeu o retorno da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) para resgatar um pouco da competitividade do etanol com a gasolina (R$ 0,22 para a gasolina e R$ 0,15 para o diesel - gerando arrecadação para o governo da ordem de R$ 12,18 bilhões em 2015). E ainda o aumento da mistura do etanol na gasolina de 25% para 27,5%.

Essas medidas já deveriam ter sido tomadas anos antes de 2015. Não foram, e associado a superoferta do açúcar no mercado internacional, as receitas do segmento desabaram, não cobriram os investimentos tomados, e a consequência está numa dívida, hoje, maior do que todo o faturamento de um ano, calculado em mais de R$ 70 bilhões.

Mas quer dizer que esse setor do agronegócio, neste exato instante, teve um alívio do governo, sendo um dos pouquíssimos pelo menos com níveis renovados de esperança. A Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) informa que 10 usinas irão fechar neste ano, que existem 80 paradas e, dentre essas, 44 em recuperação judicial. Adicione-se outras 23 em recuperação judicial mas em operação. Quer dizer, um paraíso perfeito para investidores, gente em nível global que tem dinheiro, vir comprar barato daqueles que perderam dinheiro. A velha história de que o capital não desaparece, ele apenas muda de mão.

Na contramão dessa mão que depenou o segmento no País, surge a retomada das visões do meio ambiente, do clima. E, mais uma vez, o potencial do sol e das energias renováveis brasileiras, como a biomassa da cana e a cogeração de eletricidade das próprias usinas de cana, ressurge nos cenários do inexorável modelo novo energético global.

O agronegócio brasileiro se caracterizou neste ano de ser o único salvador da pátria da economia, com a superssafra de mais de 200 milhões de toneladas de grãos, e com as carnes em panorama ascensional; e o suprimento interno assegurado com arroz, feijão, hortaliças, legumes e frutas; ficando na grande dívida o trigo do pão nosso de cada dia, outro também alvo da incompetência do governo e da sua cadeia de valor gananciosa e predadora entre si. Mas desse setor uma dependência dos solos fracos tropicais é o fertilizante.

E o Xico Graziano na sua coluna do Estadão (16/5) revela que a Petrobras, rainha do tesouro do patrimônio dos brasileiros, da mesma forma arrombada pela incompetência da sua gestão, conseguiu outro feito, o de vender para o Grupo Falcon, do Canadá, os direitos da exploração do potássio amazônico, coisa sagrada no reino dos adubos, venda feita pelo presidente da Petrobras em 2008, José Sérgio Gabrieli. Dilma Roussef era ministra de Minas e Energia. Enquanto isso, o Plano Nacional de Fertilizantes do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, nunca saía do papel.

Quanto ao negócio da cana, valorosos mesmo são os técnicos, educadores e os centros de tecnologia, como o Centro Tecnológico Canavieiro (CTC), em Piracicaba (SP). Ali, hoje, esses pesquisadores são obrigados a pesquisar no estado da arte da ciência, e para obterem recursos precisam eles mesmos sair para vender o que pesquisam, pois não podem mais contar com recursos subsidiados.

Dessa forma, coisas geniais como as novas variedades de cana, novos conhecimentos de processos agronômicos para aumento da produtividade, e algo sensacional como a pesquisa para gerar semente de cana, continuam sendo trabalhados, e ali encontramos idealistas, e brasileiros que exemplificam o porquê do agronegócio brasileiro ter conseguido ao longo dos últimos 50 anos crescer e dar a volta por cima, com toda a desorganização e ausência de planejamento de longo prazo no País.

Em síntese, aos trancos e barrancos, mas com conhecimentos valorosos da pesquisa e do empreendedorismo, o agronegócio tem segurado as pontas. Até quando? Novos sofrimentos em cortes de infraestrutura, estradas, pontes, cidades, obras vêm por aí.